Há algo de podre no reino parlamentar e isso quase todo mundo já percebeu. Mas as demonstrações escancaradas de pouco caso com os cidadãos estão indo além de qualquer limite. Parlamentares de todas as vertentes e matizes decidiram de uma sentada só aumentar em quase 100% seus próprios salários. É medida que nem precisa ser votada em plenário do Congresso porque os presidentes da Câmara e do Senado vão assinar um ato conjunto que valida o reajuste. Na ponta do lápis, cada parlamentar salta de R$ 12.847 de remuneração mensal para R$ 24.500. Anote ainda os extras: auxílio passagem aérea, que varia de R$ 8 mil a R$ 14 mil por mês, uma cota postal telefônica per capita de R$ 4.265, além de auxílio moradia de R$ 3 mil, verba de gabinete de R$ 50 mil e verba indenizatória de R$ 15 mil. Detalhe: o valor de R$ 24,5 mil será pago 15 vezes ao ano. Na conta total, os cofres públicos podem sofrer uma espetada anual de mais de R$ 1,5 bilhão, incluindo aí os parlamentares estaduais e municipais que, por lei, também seguem o aumento federal. É a grande festa! E quem vai financiar? O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fazendo coro à indignação que já varre o País, se disse surpreso e alertou: “Não sei como eles vão se financiar.” O Congresso Nacional já foi ao fundo do poço com a saraivada de escândalos, do mensalão ao do sanguessugas, mas parece pouco preocupado em resgatar algum prestígio. O próprio presidente da Casa, Aldo Rebelo, chegou a justificar candidamente os 100%: “Não haverá aumento de despesas, a Câmara e o Senado cortarão os gastos suficientes.” Há bom! Então havia muita gordura de gastos para cortar. É uma ilha de fartura cercada de escassez por todos os lados. E pobre dos brasileiros que têm de ser dirigidos por legisladores como esses. Já dizia aquele antigo personagem político de um programa humorístico: “Eu quero é me locupletar e o povo que se exploda!” Toda semelhança não é mera coincidência.
Helena
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