As mãos de Brad Will continuaram segurando a câmera ligada enquanto seu corpo, baleado nos conflitos em Oaxaca, no México, era carregado por militantes mexicanos em busca de socorro.
» Assista ao vídeo gravado por Brad Will no momento de sua morte » Organização Mundial contra Tortura preocupada com conflitos em Oaxaca
A cena da morte do jornalista e cinegrafista norte-americano, ocorrida 27 de outubro, se espalhou pela intenet e obteve mais atenção dos veículos de comunicação mais tradicionais - ainda que pouca - e de organizações de direitos humanos ao redor do mundo do que todos os conflitos dos últimos cinco meses na região (leia mais).
Ativista e militante pelos direitos dos povos da América Latina, Brad Will era repórter do Centro de Mídia Independente (CMI) de Nova York. Estava no México desde o início de outubro para acompanhar o desenrolar da luta popular contrária ao governador do estado de Oaxaca, Ulises Ruiz, e favorável à instauração de um governo popular, que tem sido fortemente reprimida. Morreu baleado durante confronto com forças paramilitares que apoiam Ruiz.
Terra Magazine conversou com uma amiga brasileira de Brad Will. Ela contou histórias sobre o repórter e sobre a situação de Oaxaca. A "amiga" atua no CMI Brasil e não quis ser identificada.Para ela, Brad "só morreu porque a mídia corporativa não faz seu papel. Ele é uma lição e inspiração para que a gente (mídia alternativa) faça a gente mesmo, que continue nosso trabalho de formiguinha, já que a mídia corporativa se omite. É uma decepção".
O ativista
Brad Will tinha 36 anos. Nascido em Michigan, mudou-se cedo para Nova York, onde, nos anos 80, participou de movimento de ocupação de lotes vagos para plantio de jardins e hortas comunitárias. Recebeu indenização da polícia nova-iorquina, de quem apanhou, e usou o dinheiro para começar suas viagens pela América Latina. Ele ajudou a mídia alternativa latino-americana. Além de reunir doações de equipamentos eletrônicos usados nos EUA, ele divulgava internacionalmente a produção dos veículos de mídia livre da América Latina e ajudava na mobilização internacional para as causas da região.
A amiga brasileira conheceu Brad em 2002, quando juntos participaram de manifestações em Fortaleza contra reunião do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Ao lado de militantes brasileiros, Brad atuou a favor dos 15 mil sem-teto que foram despejados em Goiânia, em 2005.Na sua última mensagem, publicada no CMI de Nova York (http://nyc.indymedia.org/en/2006/10/77760.html), Brad escreveu sobre a causa que acompanhava:
- O que é possível dizer sobre esse movimento - esse momento revolucionário - ele está construindo, crescendo, ganhando forma - você sente - lutando desesperadamente por uma democracia direta. (...) O que vem a seguir, ninguém sabe. (...) É claro que isso é mais que uma greve, mais que a deposição de um governante, mais que um bloqueio, mais que uma coalizão de fragmento - é um levante popular genuíno - depois de décadas de suborno, fraudes e balas o povo está cansado. (...) Em cada esquina o povo toma decisões em conjunto de agüentar - você vê nas faces deles, indígenas, mulheres, crianças - tão bravas - vigilantes durante as noites - orgulhosas e resolutas.
Alguns dias depois do assassinato, o cônsul dos EUA no México visitou o corpo de Brad, que deixou instalações da Cruz Vermelha ontem (1º) e foi levado para o aeroporto, de onde partiu para os EUA. Os familiares de Brad não foram buscar o corpo no México. (Terra Magazine)
Alguns dias depois do assassinato, o cônsul dos EUA no México visitou o corpo de Brad, que deixou instalações da Cruz Vermelha ontem (1º) e foi levado para o aeroporto, de onde partiu para os EUA. Os familiares de Brad não foram buscar o corpo no México. (Terra Magazine)
Helena
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