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quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Em artigo, Marcos Nobre diz que extinção do PFL é o grande resultado das eleições


Em artigo, Marcos Nobre Filósofo da Unicamp, que escreve na Folha de S. Paulo, diz que feitiço lançado por Jorge Bornhausen contra o PT virou uma maldição que está a consumir o próprio império pefelista.

O artigo de Marcos Nobre, no site da Folha de S. Paulo, é acessível a assinantes. Caso prefira ler agora, o blog reproduz o texto abaixo.Caso queira ler na folha o link é aqui

Dura de matar

JORGE BORNHAUSEN disse que ia se ver livre "dessa raça" nas eleições de 2006, referindo-se em especial ao PT, mas mirando em qualquer coisa que pudesse parecer remotamente de esquerda.E o feitiço não se voltou apenas contra ele e seu partido, mas contra quem que se dizia protegido por santos de toda sorte, como era o caso de ACM na Bahia. As posições se inverteram de tal maneira que a questão agora é: será que o PFL conseguirá sobreviver como um dos quatro grandes partidos? E o problema não é trivial, já que o modelo instaurado por FHC previa um pólo político de dupla sustentação, com a aliança entre PSDB e PFL, e outro pólo com um PT solitário, se debatendo para encontrar aliados, emparedado contra um PMDB sempre dividido e instável.

No primeiro mandato de Lula, uma aliança com parte do PMDB só se realizou após o mensalão. Foi uma aliança ainda episódica, por pura necessidade de sobrevivência. Uma aliança efetiva só se deu durante as eleições. O segundo mandato de Lula vai montar um pólo político de dupla sustentação, com PT e PMDB, ao mesmo tempo em que vai minar como puder o bloco PSDB-PFL. Será uma estratégia de isolar o quanto possível o PSDB, tarefa facilitada pelo próprio declínio do PFL, que não deverá governar nenhum Estado, apenas o Distrito Federal. Deve perder até mesmo Roseana Sarney para o PMDB.

Teve a maior perda proporcional de bancada na Câmara (quase 20%) e, sem o governo de Estados eleitoralmente importantes, deverá perder mais deputados e prefeitos para outros partidos. Só se mantém forte no Senado porque a Casa tem uma "inércia política" muito grande, com mandatos mais longos e um grande número de ex-governadores. Em sua série de livros sobre a ditadura militar, Elio Gaspari lembra que o general Golbery era "o feiticeiro". Pode-se discutir a estatura política e a qualidade dos feitiços de cada um dos personagens, mas atribuir a Bornhausen o mesmo título parece apropriado. Afinal, o PFL nasceu de uma dissidência um pouco menos curta de vistas do partido oficial da ditadura. Teve destino eleitoral e político superior ao seu ninho original.

Tanto que passou quase duas décadas se orgulhando de ser o partido com maior capilaridade política do país, atingindo os rincões mais profundos. Tudo isso acabou nestas eleições. Ditaduras demoram a morrer, mesmo depois que acabam. O atual encolhimento do PFL é uma das mais importantes e significativas mortes da ditadura militar brasileira. Jorge Bornhausen vai ter de agüentar bem mais que a "raça petista". Terá de agüentar o resultado de uma eleição democrática que pode fazer com que o PFL venha a se juntar em futuro não tão distante ao time dos pequenos partidos brasileiros.

MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap

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