Foi até engraçado ver o Alckmin fazendo aquele papel de moleque briguento para convencer os eleitores de Lula de que ele não é um boneco de pano com gosto de nada. Que sabe falar grosso e dar piti, ser barraqueiro. Pois é, até que funcionou no primeiro bloco, mas depois...
Alguns detalhes que a arrogância paulista do comitê de análise tucana incrustada na mídia não vai perceber é que Alckmin falou só para os de cá, da beira do Tietê e do Pinheiros, mas só para os do lado de cá da ponte.
O povo mineiro e carioca, sem falar os nordestinos, com quem conversei, ficou pasmo com o tom e a arrogância. Primeiro, porque parecia um grilo falante, tagarela, paulistão, completamente paulistão.
A vitória de Lula neste debate se deu nos detalhes. O primeiro, se o PV vier a apóia-lo depois da defesa publica de Angra 3, é o fim da linha. A segunda, é que citar Santo Agostinho, e tratá-lo como guia de conduta, é dizer adeus aos votos protestantes. Dizer que de Febem entende ele, que esteve lá esses anos todos, faz com que ele se dê ao trabalho ao menos de explicar por que processa Conceição Paganele e Ariel de Casto Alves, militantes da sociedade civil que apontam maus tratos e torturas em unidades desse sistema carcerário da juventude paulista.
Sem falar do debate a respeito de política externa. Para quem entende do riscado (cada macaco no seu galho), foi um banho de Lula, que jogou Alckmin no colo de Bush. Lula mostrou a diferença entre a concepção do PSDB-PFL e a aliança PT-PSB-PCdoB. Só resta aos eleitores ideológicos de Heloísa Helena ou votarem, mesmo de narizes tapados, pelos interesses dos governos populares da América Latina (Bolívia e Venezuela, por exemplo) ou caírem no colo de Bush, e sua política golpista e de guerra.
Bem, mas vamos ao óbvio. O leitor vai cansar de ouvir que Alckmin deu um banho. Pura bobagem dos midióticas de plantão. Como disse um amigo carioca, parece que deram uma hóstia batizada para o boneco de pano paulista, que só falou de São Paulo, de uma São Paulo elitista, patética, das avenidas endinheiradas, das falcatruas contra o povão. Da São Paulo injusta, de um reino de hipocrisia, daquele Borba Gato que dá as costas para o outro lado do rio. Da Daslu e seus riquinhos, dos inúmeros helicópteros que dançam sobre os prédios da Faria Lima, dos bacacas que ficam acelerando seus carros e matando inocentes na beira nos pontos de ônibus. Daquela São Paulo que ignora o Brasil, daquela São Paulo tacanha que se acha melhor do que a Argentina, quanto mais do que o resto do Brasil.
Podem acreditar, amigos brasileiros não-paulistas, há um Estado de São Paulo melhor do que essa verve estúpida do discurso de Alckmin. Do que esse aceleramento arrogante, do que essa coisa de que São Paulo é o supra-sumo do Brasil.
Há uma São Paulo brasileira e mais generosa, menos ingrata e canalha. Isso mesmo, canalha.
Renato Rovai - Da revista Forum
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