A fabricante de equipamentos de informática Phihong FIC do Brasil esteve próxima de desativar sua linha de produção de placas para computadores. Isso foi em 2002, quando o chamado mercado cinza (empresas ou pessoas físicas que em algum ponto da cadeia sonegam o pagamento de impostos) engolia quase 80% das vendas de PCs no país. Quem visita hoje as instalações do grupo, em Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas), encontra um quadro bem diferente.
A produção de placas-mãe (motherboards, em que são fixados os demais componentes) e a montagem de computadores para terceiros já respondem por quase 50% do faturamento, de R$220 milhões anuais, e a empresa faz planos de ampliar suas instalações.
- A produção vai de vento em popa. Nosso problema hoje é entregar os pedidos - disse o presidente da Phihong FIC (que junta empresários brasileiros e de Taiwan), Luciano Lamoglia.
Capacidade instalada a 90%
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mapeou esse mercado e chegou a números de dar inveja a qualquer industrial. As empresas de informática instaladas no país devem faturar neste ano R$28,8 bilhões, recorde histórico, com aumento de 18% em relação a 2005. Recorde também deve ser o nível de utilização da capacidade instalada de produção, que estava em 86% em junho (contra 79% em junho de 2005) e deve fechar o ano perto de 90% (contra 74% em dezembro de 2004 e 88% em 2005). Como efeito, o nível de emprego registrou variação de 8% entre janeiro e junho; mantido o ritmo, há chances de repetir os 17% de 2005.
O crescimento do setor está ligado a dois fatores. O primeiro deles é a desvalorização do dólar frente ao real, que facilita a importação de componentes e puxa para baixo o preço do produto acabado no Brasil. Mas a principal explicação, segundo analistas, está no corte de impostos promovido pelo governo. Editada em junho do ano passado, a MP do Bem (transformada depois na Lei 11.196) determinou isenção de PIS e Cofins na venda de computadores de mesa (desktops) com preço até R$2.500 e para os portáteis (notebooks) valendo até R$3 mil. Na avaliação da Abinee, essa desoneração deu vantagem ao fabricante oficial na disputa com o pirata, que monta e vende computadores à margem da lei ou pratica o puro e simples contrabando do produto.
Venda de PC ilegal recuou no país
Uma pesquisa da consultoria IT Data comprova o esvaziamento do mercado cinza pela primeira vez desde 1997. Depois de concentrar 73% das vendas ao fim de 2004, a participação das empresas ilegais na fabricação e comercialização de computadores no Brasil caiu para 61% em 2005 e para 48% no primeiro semestre deste ano. Nesse período, houve reação dos fabricantes que atuam dentro da lei, com destaque para as marcas nacionais - cuja fatia pulou de 16%, em 2004, para 37% do total de vendas em junho passado. As marcas estrangeiras aumentaram sua participação de 11% para 15%. O estudo diferenciou os fabricantes entre "oficiais", enquadrados às regras do Processo Produtivo Básico, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e os PCs "clones".
O mercado estima em 20%, em média, a queda no preço de computadores nos últimos 12 meses. Com cifras mais atrativas e financiamento oferecido pelo varejo, o IT Data apurou também um aumento na parcela dos consumidores que adquiriram pela primeira vez um PC. Passou de 55%, em 2005, para 61% ao fim do primeiro semestre deste ano, mudança atribuída à entrada no mercado de consumidores da classe B e parte da classe C.
Na semana passada, o gerente comercial de varejo da Itautec, Carlos Alberto Teixeira, estava em Teresina (PI) em negociação com clientes. Com o aumento do ritmo dos negócios, é mais fácil encontrá-lo em salas de embarque de aeroportos, à espera de algum vôo, do que no escritório da empresa, em São Paulo. Voltada principalmente para o mercado corporativo, a Itautec viu o volume de pedidos saltar 150% no primeiro semestre. São 30 mil máquinas fabricadas por mês.
- Estamos hoje com nossa capacidade praticamente tomada - afirmou Teixeira.
A Ecimex, fabricante de gabinetes de computadores e fontes de energia, é outra que cresce a passos largos. A companhia ampliou seu quadro de funcionários em 60% nos últimos 12 meses. Passou de 200 para 320 empregados diretos, para dar conta dos pedidos, que no mesmo período pularam de 40 mil para quase 70 mil unidades - mais 75%.
- Estamos sendo atropelados pelo mercado - disse o presidente da empresa, Eduardo Conde.
Atropelado parece ser a palavra certa. Há dois anos, Conde investiu R$2,5 milhões na construção de uma nova fábrica em Pouso Alegre (MG), com a previsão inicial de alcançar a produção de 50 mil peças por mês. Como os números hoje já são maiores, ele corre para ampliar novamente suas instalações. Serão mais R$3 milhões desembolsados e outros 100 empregados contratados num prazo de até 12 meses.
Helena
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