A história de que a inflação brasileira é uma das mais altas entre os países emergentes começa a deixar de ser verdade. Nos 12 meses terminados em junho, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4%, mais baixa que a de 11 entre 27 emergentes acompanhados pela "The Economist" e muito próxima aos 3,9% registrados por três integrantes desse grupo.
Um ano antes, o Brasil tinha a quinta inflação mais alta desse grupo, de 7,4%, a mesma da Indonésia. Com base nas previsões do mercado de que o IPCA vai ficar em 3,74% neste ano e em 4,5% no ano que vem, o quadro positivo para os índices de preços deve continuar nos próximos 18 meses.
A valorização do câmbio, a queda dos preços agrícolas e o comportamento favorável dos preços administrados derrubaram a inflação brasileira a partir do segundo trimestre de 2005 para níveis bastante baixos. Os 4% acumulados nos 12 meses terminados em junho são muito próximos da inflação registrada no Chile e na Malásia no período (3,9%).
O economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinwort, Nuno Camara, lembra que, nos últimos meses, diversos países emergentes tiveram de absorver o impacto do aumento dos preços do petróleo, e alguns sofreram com a desvalorização de suas moedas (a Turquia viu sua inflação acumulada em 12 meses pular de 7,7%, em dezembro de 2005, para 10,1% em junho deste ano). Outros países, porém, conseguiram derrubar a inflação no período, como o Brasil. No México, o IPC recuou de 4,3% para 3,2%.
Com cenário inflacionário bastante benigno, o BC brasileiro continuou a cortar os juros num momento em que a tendência global é de aperto monetário. Uma diferença importante, porém, é que os juros no Brasil estavam em níveis muito mais elevados, como nota o economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira. Mesmo depois da queda de cinco pontos percentuais da taxa Selic desde setembro de 2005, para 14,75% ao ano, os juros reais continuam próximos a 10%, bem acima dos 2% a 3% registrados pela maior parte dos emergentes.
Nos próximos anos, o desafio do país é consolidar a inflação na casa de 4% a 4,5%, mas com juros reais declinantes. Camara considera esse cenário factível, prevendo IPCA de 3,5% neste ano, ainda que haja aumento de 8% a 10% no preço da gasolina. Para 2007, ele estima inflação de 4,1%.
Camara e Akira apontam a solidez das contas externas como um fator-chave para que o país possa conjugar uma inflação estruturalmente menor com juros reais mais civilizados. O raciocínio é que o câmbio flutua menos quando pioram as condições no cenário externo, devido ao superávit em conta corrente e a dívida externa mais baixa. Foi o que se viu na turbulência internacional ocorrida em maio. O dólar bateu em R$ 2,40, mas a alta logo perdeu força, abrindo espaço para o BC voltar a comprar a moeda no mercado. Ontem, fechou em R$ 2,203. A avaliação predominante é de que o risco de uma crise internacional pressionar o câmbio e provocar um surto inflacionário - como no fim de 2002 - diminuiu muito.
"Essa mudança nas contas externas permite ao BC testar níveis de juros reais mais baixos com muito mais segurança", diz Akira. Depois de oscilar muito nos anos que se seguiram à flutuação do câmbio ocorrida em 1999, o dólar passou a ter comportamento mais estável, o que é positivo para a inflação.
Outra boa notícia é que a capacidade produtiva do país também está crescendo, como mostram os números relativos ao investimento em máquinas e equipamentos e na construção civil -a formação bruta de capital fixo (FBCF). Não há um descompasso entre oferta e demanda que possa causar pressões inflacionárias relevantes, avalia Akira. Camara estima que a FBCF vai crescer 9% neste ano.
Helena
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