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segunda-feira, 29 de maio de 2006

Marcola é o homem do momento


Além dos graves problemas que vem enfrentando, como a greve dos agentes penitenciários, a continuidade do uso de celulares por presos em unidades de segurança máxima e as ameaças diárias de rebeliões e motins - a crise, enfim, que culminou com a demissão do secretário Nagashi Furukawa -, a Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo ainda é obrigada a lidar com problemas criados pelos políticos. Com o olho nas eleições de outubro, muitos deputados viram na crise da segurança deflagrada pelos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) uma oportunidade para aparecer na mídia.

É esse o caso dos integrantes da CPI do Tráfico de Armas. Depois de transformar em cena de chanchada a acareação entre o técnico de som que admitiu ter vendido um depoimento sigiloso de delegados paulistas e os dois advogados que compraram a gravação, humilhando um destes últimos e aproveitando sua reação para prendê-lo por "desacato", eles pretendem explorar ao máximo o depoimento do líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, previsto para 6 ou 7 de junho.

A convocação de Marcola, para depor sobre o crime organizado, foi aprovada no início de maio e estava prevista para o dia 30. Os ataques do PCC impossibilitaram seu depoimento nessa data. Antes que a CPI marcasse nova data, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), invocou razões de segurança e sensatamente vetou a presença do preso no prédio do Congresso. Após o veto, a CPI cogitou da possibilidade de ouvir o bandido na Polícia Federal, em Brasília, ou na Assembléia Legislativa, em São Paulo.

Invocando razões de segurança e economia, pois o deslocamento de Marcola do presídio de Presidente Bernardes para São Paulo exigirá um enorme aparato policial, a Secretaria da Administração Penitenciária sugeriu que ele fosse ouvido por meio de videoconferência. Os integrantes da CPI recusaram a sugestão e, com base em argumentos absurdos, insistiram em que o depoimento seja prestado em sessão pública, no Fórum Criminal da Barra Funda. "Não podemos indiciá-lo sem lhe dar chance de defesa", alegou o relator Paulo Pimenta (PT-RS), como se Marcola fosse um pobre inocente, e não um empedernido criminoso condenado a pelo menos 20 anos de prisão.

Caso seja ouvido em sessão pública por deputados preocupados em fazer demagogia, Marcola poderá aproveitar a ocasião para desacatá-los e fazer a apologia do crime em transmissão de televisão direta para todo o País. Esse é um risco que tem de ser evitado a todo custo, sendo o líder do PCC o criminoso inteligente e audacioso que é. Até porque na ocasião ele estará detido e algemado e os parlamentares não poderão demonstrar valentia, ordenando sua prisão por desacato.

Além disso, há o custo de sua transferência para São Paulo, os inevitáveis transtornos que o aparato de segurança causará para os paulistanos e até a possibilidade de que o PCC tente libertá-lo, o que obrigaria as polícias civil e militar a reagirem à bala, pondo em risco pessoas inocentes. As autoridades policiais e penitenciárias sabem que esse é um risco que não deve ser subestimado, depois que o crime organizado, numa operação cinematográfica, há alguns anos chegou à ousadia de resgatar três presos dentro de penitenciárias de segurança máxima, em Guarulhos.

Para se ter idéia do que irá custar o deslocamento de presos para depor no Fórum Criminal da Barra Funda, basta lembrar que, somente na primeira semana de maio, a Secretaria de Segurança Pública gastou R$ 219 mil e teve de mobilizar 4.984 policiais. Se o interrogatório por meio de videoconferência já estivesse sendo utilizado em larga escala, como está previsto num projeto que o Senado aprovou há uma semana e que ainda precisa ser votado pela Câmara, para se converter em lei, a maioria desses policiais poderia estar nas ruas, garantindo a segurança da população.

Diante dos problemas de custo, logística e, principalmente, de segurança que a transferência de Marcola acarretaria, a insistência da CPI do Tráfico de Armas em ouvi-lo em sessão pública no Fórum Criminal da Barra Funda é uma insensatez.


Helena

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