Em alta nas pesquisas eleitorais que indicam possibilidade de vitória no primeiro turno, a salvo das denúncias das CPI dos Bingos, dos Correios ou do Ministério Público, passando ao largo da crise de segurança em São Paulo, assistindo de camarote as disputas internas no PFL e no PSDB, e entre os dois partidos, podendo fazer campanha à vontade a pretexto de divulgar suas realizações de governo. Sem ser, portanto, incomodado pela Justiça eleitoral e distante 27 dias da homologação como candidato à reeleição pelo PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressuscitou o personagem que o marcou na campanha de 2002: o Lulinha paz e amor.
Se antes era acusado pela oposição de fazer campanha em suas viagens pelo país, agora Lula faz campanha em tempo integral, inclusive no Palácio do Planalto. Em toda solenidade de que participa - e elas se multiplicam na agenda - o presidente abre espaço para fazer fotos com os convidados, distribuir abraços, beijos e apertos de mãos.Lembra-se da frase de Lula "Um Homem faz campanha 24 horas?
Lula mudou radicalmente também sua atitude com a imprensa. A irritação anterior, que o deixava trancado a perguntas de jornalistas, cedeu lugar a uma atitude afável. O presidente fala com a imprensa no fim das solenidades, dá entrevistas, conta casos, corrige interpretações que considera erradas, dá a sua visão dos fatos. Na quinta-feira, por exemplo, ao fim de jantar oferecido ao presidente francês Jaques Chirac, no Itamaraty, ele fez revelações inclusive sobre sua conversa privada com o presidente da Bolívia, Evo Morales, em torno do contencioso do gás.
" Eu chamei o Evo e disse, com o mapa da América Latina sobre a mesa: Meu querido, você vai ter que vender o gás para o Brasil. Veja, se você quiser uma saída do gás pelo Pacífico, terá que negociar com o Chile e com o Peru. Se for pelo Atlântico, terá que atravessar o Rio Madeira, cuja parte mais extensa está no Brasil. Então, tira essa espada da minha cabeça que eu não coloco uma espada na sua " . Lula, nessa ocasião, falou pacientemente com jornalistas sobre a questão do gás boliviano mas, sobretudo, mostrou enorme " alegria " , como ele próprio adjetivou, com a descoberta do H-Bio, combustível à base de óleos vegetais, e com a decisão que tomou de declarar " guerra " a uma eventual possibilidade de um novo apagão no país.
Conversou ainda, por quase meia hora com a imprensa, durante o lançamento do livro do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Em outras solenidades, como na assinatura do tratado de defesa da imprensa livre ou nas comemorações dos números obtidos pelo programa de Saúde Bucal, também quebrou o protocolo e foi conversar com os jornalistas.
Na sexta-feira, depois de participar da 1ª Conferência Nacional dos Direitos dos Idosos, deu a senha do script a ser seguido: " Da minha parte, vocês vão perceber que, se eu decidir ser candidato, eu vou ser o Lulinha paz e amor que eu fui na outra, tranqüilo, sem nenhum problema. Eu não tenho nenhuma razão para estar nervoso, nenhuma " , disse.
Um petista, amigo do presidente, acha que a retomada do personagem de 2002 é uma ironia que o presidente está fazendo com seus adversários. " O país viveu uma crise política enorme e ele permanece igual nas pesquisas, até sobe. Essa é a razão do bom humor dele " .
" O PCC manchou a administração tucana em São Paulo. O governador do PFL, Claudio Lembo, jogou lenha na fogueira na coligação de seu partido com o tucanato. Os pefelistas racharam para escolher o vice de Alckmin. E eles (PSDB e PFL) achavam que os perdidos éramos nós " , Petista.
Esse cenário de tranqüilidade aparente não significa que Lula esteja de salto alto, ou agindo de forma leviana e irresponsável com sua candidatura. " Ele está preocupado com a campanha sim, está angustiado com a demora na escolha do vice na chapa. As coisas estão se encaixando, mas ainda não estão definidas " , lembrou o aliado. Na quinta-feira, Lula encerrou o programa eleitoral do PT falando sobre educação e juventude e encerrou com um paternal " que Deus abençoe vocês " .
O secretário-geral do PT, deputado Estadual Raul Pont (RS), afirmou que essa reta final, até a homologação da candidatura, em junho, servirá para ratificar os compromissos petistas para um segundo mandato. " O Lula candidato nunca seguiu script nenhum, sempre agiu de acordo com seu estilo pessoal, de contato com as massas. Não seria o Lula presidente, candidato à reeleição, que adotaria modelo diferente " , diz Pont.
Helena
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