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quarta-feira, 12 de abril de 2006

Nos bastidores da notícia


Diálogo telefônico entre o editor de um jornalão e o de uma revistona. Ambos paulistas.

- E aí, tudo bem?

- Melhor agora com a denúncia apresentada pelo Ministério Público. Que beleza!

- É agora, temos material para deitar e rolar durante meses. No mínimo até outubro. Já estamos bolando a capa da próxima edição, algo em torno do Ali Lula e os 40 ladrões. O pessoal aqui está eufórico.

- Genial. Esse lance veio em boa hora. O Paloccigate não colou. O Caseirogate também não. Porra, parece que nada gruda no homem. Viu as pesquisas? Ele não cai.

- Em compensação o nosso candidato não decola, vai de mal a pior...A propósito, de quem foi essa idéia besta de publicar denúncias contra ele. Vocês enlouqueceram?

- Sabe como é, nosso negócio principal ainda é o jornalismo. Precisamos fingir um mínimo de isenção, pro pessoal não desconfiar.

- Besteira! Leitor é tudo babaca. Acredita em tudo o que a gente publica. A mulher ganhou uns vestidinhos, e daí? Não pode ganhar uns mimos, uma dama tão elegante quanto ela? Que mal tem dar um dinheirinho de publicidade para os amigos? E o filho, não pode ter uma sócia pra subir na vida? Aqui não sai nada contra o doutor. Jornalismo? Porra, isso é guerra. O que é ruim pra eles e bom pra nós a gente publica. O que é ruim pra nós e bom pra eles a gente esconde. É isso aí. É guerra.

- Hehehe..., como disse Mark Twain, a gente separa o joio do trigo e publica o joio.

- Isso, isso... E o Zé Dirceu, hein? Chefe da quadrilha do mensalão. Esse Ministério Público veio a calhar. Agora vão atrás do operário.

- Acho que não vão descobrir nada, mas aí a gente inventa. Mas tem uma coisa que me incomoda. A defesa do Zé Dirceu apontou umas incongruências na denúncia do MP que são bem consistentes. Os argumentos a favor do Zé viraram pó. Só sobraram os contra. O J. publicou lá no blog.

- Eu li. Não sei como vocês permitiram. Não tem que dar moleza pro outro lado. Quando o Gushiken mandou uma carta contestando uma das nossas reportagens, não demos uma linha. Aqui é assim, não sai nada a favor do governo.

- É, tens razão, vamos apertar os parafusos por aqui. Botar o pessoal nos eixos.

- Legal. Dá um abraço nos colunistas. Estão melhores a cada dia. Diz que o D. mandou lembranças.

- Valeu. O pessoal vai gostar. Eles adoram o D. Como você sabe, são muito amestrados.

- Então tá. Agora vou ligar para o Reale Jr. Sabe como é se nada mais der certo vamos ter que apelas para o impeachment. Vam cá, o B. topa assinar o pedido?

- Claro. Se for contra o operário ele faz qualquer negócio.

- Beleza. Outra coisa, abre espaço para os porra-loucas.

- Quem?

- Os porra-loucas, a Heloisa Helena, o Roberto Freire, o Gabeira. Eles são úteis para a causa. Quanto mais malham o metalúrgico mais fortalecem o doutor.

- Claro, claro, você tem razão. Vou providenciar.

- Então tá, mantenha contato. A luta continua.

- É isso aí, companheiro.


Jens

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