Pages

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Auto-Suficiência trará economia de divisas


A auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo - que tem como marco o início da produção da plataforma P-50 da Petrobras amanhã -, é mais estratégica para o país do que para a estatal. O Brasil passa a ter, de forma sustentada, garantia no fornecimento de óleo em volume superior à demanda interna de derivados. Para a Petrobras e seus acionistas, contudo, é mais importante a continuidade do aumento da produção de petróleo e da capacidade de refino, para aproveitar a alta nos preços, que esta semana ultrapassaram US$ 72 por barril.

A auto-suficiência significará superávit de US$ 3 bilhões em 2006 entre exportações e importações de petróleo e derivados da Petrobras, segundo estimativas do diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa. Em 2005, a empresa acumulou superávit comercial em volume e receita, mas o saldo foi de 58 mil barris/dia, em média, e, em valor, cerca de US$ 126 milhões no ano. Em 2004, a empresa havia registrado déficit de US$ 3,2 bilhões na balança comercial.

A auto-suficiência trará segurança no abastecimento de um insumo estratégico, motivo de crises econômicas e de guerras no passado recente. No primeiro choque do petróleo, em 1973, 80% do petróleo consumido no Brasil era importado. Em 1979, na segunda grande crise mundial do óleo, a dependência do país subiu para 86%. "Em 1979, o Brasil quebrou porque pagou mais do que podia com a compra de petróleo. Agora, o Brasil está tranqüilo e sem medo de choques", diz Barbassa.

No ano passado, mesmo após a alta de preços provocada pelo furacão Katrina, nos Estados Unidos, a dependência do Brasil em petróleo e derivados foi de 4%. Isto porque tanto a Petrobras como as centrais petroquímicas ainda importam diesel, nafta e GLP. Ao mesmo tempo, a estatal exporta gasolina, óleo combustível, bunker e querosene de aviação. A Shell do Brasil exporta petróleo bruto e a americana Devon será a próxima.

A conquista da auto-suficiência se apóia nas previsões de uma produção de petróleo superior à demanda de derivados. A Petrobras prevê produzir 1,9 milhão de barris/dia em média este ano, volume entre 5% e 10% superior ao consumo de derivados - 1,7 milhão de barris/dia nesta década. O consumo, que segundo projeções de mercado deve crescer cerca de 3% este ano, é equivalente à capacidade de refino da empresa no país.

Estima-se que, em volume, a Petrobras terá superávit médio de 150 mil barris/dia este ano. As compras externas de petróleo terão de continuar até que a produção nacional de óleo leve consiga atender às especificações das 11 refinarias da Petrobras, que precisam combinar petróleo leve com o petróleo pesado nacional para produzir os derivados que abastecem os tanques de carros de passeio, caminhões, aviões e tratores.

O economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), afirma que a auto-suficiência foi antecipada pela queda no ritmo de crescimento do país, que se refletiu na demanda por combustíveis. "Nos anos 90, o consumo de derivados cresceu, em média, 4% ao ano. Nesta década, caiu 1% ao ano. Parte disso foi causado pela substituição de alguns derivados pelo álcool e pelo gás, mas grande parte ocorreu porque a economia não cresceu. Se o Brasil tivesse crescido mais, a auto-suficiência só viria em 2010", afirma Pires, para quem o maior desafio da estatal será manter, nos próximos anos, um nível de produção que sustente a auto-suficiência.

Ontem, a gasolina vendida no Brasil estava 18% mais barata do que nos EUA, mas a Petrobras alega que sua política de preços está alinhada com o mercado internacional, sem repasse automático de oscilações atípicas e episódicas de mercado
Segundo cálculos da Cera, com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 2005 o Brasil importou 138 milhões de barris de óleo leve por US$ 7,6 bilhões, e pagou, em média, US$ 55,3 por barril. Em igual período, exportou 100 milhões de barris de óleo pesado por US$ 4,16 bilhões - US$ 41,6 por barril.


Fluxo de caixa garante investimentos

Ao atingir a marca de 1,9 milhão de barris produzidos por dia no Brasil, do ponto de vista financeiro a Petrobras está "comemorando um aniversário de referência", diz Almir Barbassa, diretor da estatal responsável pela área financeira. Segundo ele, com a soma da produção nacional e no exterior, a companhia já está produzindo quase 2,3 milhões de barris.

"Este nível de produção garante um fluxo de caixa mais que suficiente para financiar todo o investimento da Petrobras, o que é inédito na companhia, que no passado sempre correu atrás de financiamentos", destaca Barbassa, que administra investimentos de R$ 38 bilhões somente para este ano.

O atual plano de investimento da companhia, que está sendo atualizado, prevê investimentos de US$ 56,4 bilhões até 2010, dos quais US$ 49,3 bilhões aplicados no Brasil. "Para a Petrobras, a auto-suficiência tem de ser analisada da ótica do aumento da produção, ou seja, como a empresa pode maximizar o desenvolvimento de suas reservas", afirma Emerson Leite, analista do Credit Suisse Latin American Equity Research. A idéia é a Petrobras acelerar o crescimento da produção sem ameaçar sua capacidade de financiamento.


A plataforma P-50 da Petrobras, que será acionada amanhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, foi escolhida como símbolo da auto-suficiência por ser a maior plataforma em produção no país, com capacidade para 180 mil barris por dia. Atrás dela, ainda este ano, virão a P-34 (60 mil barris/dia no campo Jubarte), a plataforma SSP-300 (20 mil barris/dia de óleo leve em Sergipe), e a Golfinho (100 mil barris/dia no campo de mesmo nome).

Juntas, elas elevarão em 360 mil barris/dia a produção local de petróleo em 2006. Desse total, é preciso descontar o declínio dos campos já maduros, que a cada ano produzem entre 7% e 10% menos. Por isso a Petrobras só conta com uma alta efetiva da produção de 200 mil barris/dia em 2006, dos quais 120 mil de óleo leve.

Para garantir os níveis de produção que permitirão tornar o país um exportador líquido de petróleo nos próximos cinco anos, 36 projetos de produção de petróleo entrarão em operação no Brasil. Todos da Petrobras, sem contar o de empresas privadas. (CS e FG)


Helena
Com informações do Valor Ecônomico

0 Comentários:

Postar um comentário


Meus queridos e minhas queridas leitoras

Não publicamos comentários anônimos

Obrigada pela colaboração