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terça-feira, 14 de março de 2006

O grito do silêncio


O silêncio nem sempre é o melhor meio de fazer com que caia o esquecimento sobre um assunto incômodo. Certos silêncios são tão eloqüentes quanto cem tambores rufando na avenida. Um desses casos em que o silêncio fala, grita, é o que a grande imprensa fez descer sobre a Lista de Furnas. Desde que o assunto veio à luz, com a divulgação do documento em que aparecem os nomes de 156 políticos ligados à oposição, que teriam recebido dinheiro da estatal para o caixa dois de suas campanhas eleitorais, a imprensa, junto com grande parcela da classe política, tentou envolver o assunto sob o manto de um silêncio conveniente e conivente.

A mídia, por meio de seus articulistas mais destacados – os chamados formadores de opinião – tentou desqualificar a lista, questionando, ou melhor negando a sua veracidade, em que pese a sua autenticidade, que já foi avalizada por um cartório, não ter sido descartada por um perito em examinar documentos desta natureza.

No Congresso, o relator da CPMI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio, mostrou solene desinteresse em aprofundar qualquer investigação sobre o assunto, apesar do ex-deputado Roberto Jefferson afirmar que na estatal funcionava, já nos tempos do reinado de FHC, um robusto propinoduto que abasteceu as campanhas eleitorais de tucanos, pefelistas e outros da mesma estirpe. Sonso, Serraglio limitou-se a ouvir o suposto autor da lista e operador do esquema, o ex-diretor Dimas Toledo, e contentou-se com seus desmentidos. Recusou-se bravamente a convocar o lobista Nilton Monteiro, que afirma saber muito sobre o esquema e inclusive teria provas da autenticidade da lista.

Tanto desprezo pela Lista de Furnas, o silêncio obstinado da mídia em torno do assunto, bem como a complacência com a inércia da CPMI em investigar o tema, são sinais perturbadores de que formou-se uma grande ação entre amigos (ou aliados de ocasião) para exilar o assunto dos olhos da opinião pública. Assim, estão livres de apresentar explicações públicas figuras como o prefeito José Serra, o governador Geraldo Alckimin e o deputado ACM Neto, entre outros que constam na lista como beneficiários de vultosas quantias em dinheiro. E, por outro lado, liberados para posar como as mais renitentes vestais da moralidade pública. Sem dúvida uma posição confortável e conveniente, diante do clamor popular cobrando a moralização da atividade pública.

A Polícia Federal, no entanto, não foi contaminada por essa aversão ao conteúdo da Lista de Furnas e prossegue sem alarde com as investigações.

Apesar de todo o esforço político e midiático para que fosse banido para as brumas do silêncio, o assunto é por demais importante para a cidadania brasileira para cair no esquecimento. Este blog estará sempre atento para evitar que sobre ele caia a escuridão e o silêncio, só propícios aos que se locupletaram e locupletam com o dinheiro público.

A Lista de Furnas grita, exigindo esclarecimento cabal. Mãos à obra, PF.

http://caixadoistucanodefurnas.blogspot.com/

Jens

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