Sob a bênção de ACM, a Previ perdeu R$ 900 milhões em Sauípe
Por Leandro Fortes - Carta Capital 383
Sub-relator dos Fundos de Pensão da CPI dos Correios, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) não deu trégua durante o depoimento de Jorge Ribeiro dos Santos, sócio da Corretora São Paulo, na quinta-feira 2. A empresa é acusada de realizar operações fraudulentas com recursos de fundações de empresas estatais. ACM Neto esmera-se em provar que os prejuízos dos fundos se misturam com o esquema do Valerioduto. "Não tenho dúvida de que há delito nisso. Corretoras ganham e isso acaba trazendo enriquecimento ilícito para certos grupos empresariais", discursou, no plenário da comissão. Ele sabe do que fala. Só não esperava que, na fila de depoimentos, pouco mais de uma hora depois, uma verdade incômoda iria sair pela culatra. Coisas da Bahia, é claro.
Para provar que a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, havia sido lesada em operações financeiras realizadas durante o governo Lula, ACM Neto postou-se para ouvir Luiz Carlos Siqueira Aguiar, diretor-financeiro da entidade entre 2003 e 2005. Não sabia que, munida de informações sigilosas sobre as contas da Previ, a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) iria levantar uma lebre incômoda para o clã dos Magalhães: o prejuízo milionário imposto pela construção e manutenção do resort Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia. Questionado pela senadora, Aguiar admitiu que a operação foi feita de forma "incorreta". E bota incorreta nisso.
No dossiê preparado pela Previ, um documento-espelho do sistema de contabilidade gerencial do fundo revela que, em dados atualizados até 31 de outubro de 2005, o prejuízo da fundação com a construção e manutenção de Sauípe chega perto dos 850 milhões de reais.
É uma perda monumental sob qualquer ponto de vista, mas o número fica mais expressivo quando comparado ao trabalho desenvolvido por ACM Neto na sub-relatoria dos fundos de pensão. Há cerca de dois meses, o deputado baiano apresentou um relatório parcial no qual lista operações financeiras entre 2000 e 2005 que supostamente lesaram 14 fundações federais, estaduais e privadas. O total dos prejuízos somados? 780 milhões de reais (isso sem expurgar da conta os erros primários cometidos pelos técnicos sob o comando do parlamentar).
No material enviado a deputados da base governista, a Previ relaciona documentos que mostram a interferência decisiva do avô do deputado, o senador Antonio Carlos Magalhães, e de um dos principais aliados da família na Bahia, o governador Paulo Souto, para que o fundo de pensão bancasse a construção do resort.
("É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar," ou "o feitiço virou contra o feiticeiro".
Jens)
Por Leandro Fortes - Carta Capital 383
Sub-relator dos Fundos de Pensão da CPI dos Correios, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) não deu trégua durante o depoimento de Jorge Ribeiro dos Santos, sócio da Corretora São Paulo, na quinta-feira 2. A empresa é acusada de realizar operações fraudulentas com recursos de fundações de empresas estatais. ACM Neto esmera-se em provar que os prejuízos dos fundos se misturam com o esquema do Valerioduto. "Não tenho dúvida de que há delito nisso. Corretoras ganham e isso acaba trazendo enriquecimento ilícito para certos grupos empresariais", discursou, no plenário da comissão. Ele sabe do que fala. Só não esperava que, na fila de depoimentos, pouco mais de uma hora depois, uma verdade incômoda iria sair pela culatra. Coisas da Bahia, é claro.
Para provar que a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, havia sido lesada em operações financeiras realizadas durante o governo Lula, ACM Neto postou-se para ouvir Luiz Carlos Siqueira Aguiar, diretor-financeiro da entidade entre 2003 e 2005. Não sabia que, munida de informações sigilosas sobre as contas da Previ, a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) iria levantar uma lebre incômoda para o clã dos Magalhães: o prejuízo milionário imposto pela construção e manutenção do resort Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia. Questionado pela senadora, Aguiar admitiu que a operação foi feita de forma "incorreta". E bota incorreta nisso.
No dossiê preparado pela Previ, um documento-espelho do sistema de contabilidade gerencial do fundo revela que, em dados atualizados até 31 de outubro de 2005, o prejuízo da fundação com a construção e manutenção de Sauípe chega perto dos 850 milhões de reais.
É uma perda monumental sob qualquer ponto de vista, mas o número fica mais expressivo quando comparado ao trabalho desenvolvido por ACM Neto na sub-relatoria dos fundos de pensão. Há cerca de dois meses, o deputado baiano apresentou um relatório parcial no qual lista operações financeiras entre 2000 e 2005 que supostamente lesaram 14 fundações federais, estaduais e privadas. O total dos prejuízos somados? 780 milhões de reais (isso sem expurgar da conta os erros primários cometidos pelos técnicos sob o comando do parlamentar).
No material enviado a deputados da base governista, a Previ relaciona documentos que mostram a interferência decisiva do avô do deputado, o senador Antonio Carlos Magalhães, e de um dos principais aliados da família na Bahia, o governador Paulo Souto, para que o fundo de pensão bancasse a construção do resort.
("É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar," ou "o feitiço virou contra o feiticeiro".
Jens)
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