Afinal, que papel está fazendo Ciro Gomes?

Não dêem crédito à forma que o PIG publica declarações de Ciro Gomes, porque tem sido publicado fora do contexto.

Ciro não é o tipo de político que tem sempre habilidade com as declarações. Usa em meio a respostas longas, frases de efeito, acima do tom, que acabam sendo pinçadas fora do contexto, sendo usadas a favor da oposição demo-tucana.

E por trás do discurso existe uma disputa de espaço do PSB com o PMDB, e com o próprio PT.

Obviamente que o PT tem muito mais afinidade programática com o PSB do que com o PMDB, mas vamos às contas:

- o PMDB elegeu 89 deputados em 2006;
- o PSB elegeu só 27;

Daí ser impossível governar, passar votações no Congresso, sem o apoio do PMDB. E daí a presença do PMDB ser maior no governo, ocupando mais ministérios do que o PSB.

Então Ciro e o PSB até está certo em brigar para fazer uma maior bancada nesta eleição de 2010, e seus líderes aproveitarem o ano eleitoral para ganharem visibilidade.

O caminho que Ciro está tentando é criticar a aliança PT-PMDB. Afinal se o PSB não teve os ministérios do PMDB, não há sentido em defendê-los, e pode se sentir livre para criticá-los. Tem lógica política.

O problema é a imprensa brasileira. A crítica que Ciro faz à aliança PT-PMDB é sobretudo ao PMDB, com respingos ao PT, mas o que sai na imprensa é só a parte onde aparece detonando o PT, o governo Lula e respinga na candidatura de Dilma.

Daí as declarações acima do tom, ganhar ares de crise política do PSB na base governista.

Mas o jogo de Ciro vai um pouco além. Ele é experiente para conhecer o jogo do PIG (imprensa), e tem repetido algumas declarações, logo é porque ele quer que saia publicado.

Ele testa um pouco a receptividade de suas críticas ao PT, na seara de eleitores demo-tucanos de classe média que andam insatisfeitos por verem seus sapatos alagados nas imediações da Av. Paulista.

Com isso, Ciro espera subir nas pesquisas, tentanto capturar o eleitor anti-PT, mas que está cansado dos demo-tucanos. Tenta ser uma terceira via.

Esta estratégia poderia ser boa para se lançar candidato ao governo paulista. Seria um candidato anti-tucano, com apoio do PT, mas com ar de terceira via em São Paulo. Porém Ciro parece descartar a candidatura paulista, se não estiver blefando. O problema é que a oposição a José Serra em São Paulo precisa viabilizar algum nome para começar a trabalhar, e não pode esperar tempo demais por Ciro.

Do ponto de vista nacional, talvez ele possa até subir um pouco nas pesquisas, possivelmente tirando votos de Serra. Mas, como efeito colateral, deve perder votos para Dilma. O eleitor de Lula naõ gosta de vê-lo batendo no governo, enquanto Dilma defende o governo Lula com unhas e dentes. Com isso, parte das intenções de votos lulistas de Ciro acabarão indo para Dilma. Ciro deve calcular que o balanço será positivo para ele, mesmo com Dilma subindo.

Então, seu projeto, por ora, parece ser voltado a um dos seguintes cenários:

1) Manter-se como candidato para qualquer emergência. Ciro conhece a fama de Serra em fabricar dossiês para derrubar candidatos adversários. Então, se Serra conseguisse emplacar algum dossiê contra Dilma, que a derrubasse, Ciro se apresentaria como substituto à ela.

2) Ou melhorar seu cacife para negociar mais espaço para si e para o PSB, tanto nos palanques regionais, onde PT, PMDB, PSB se acotuvelam, como também negociar espaços no futuro governo, retirando sua candidatura em condições mais favoráveis.

Provavelmente ele testará um pouco mais esse papel, mantendo-se no noticiárico como pré-candidato, para testar a força de seu nome, e avaliar os resultados. Mais a frente escolherá que rumo tomar em definitivo. Isso se não atender às demandas para assumir como candidato ao governo paulista.

Enquanto isso, Dilma, continua não caindo no jogo de intrigas do PIG. No domingo (7), durante evento da Juventude do PT, em Brasília, ela o elogiou:

"[Não há] Nenhum [constrangimento]. Acho o Ciro Gomes um dos políticos mais qualificados do nosso país, agora nem por isso eu vou deixar de acrescentar o fato de que nós temos uma aliança qualificada e, por isso, a nossa relação com os partidos da nossa base também tem que ser uma relação qualificada", afirmou.

Para o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Ciro é um "companheiro valioso" para o governo Lula. "Queremos que ele esteja conosco. A relação do PSB conosco é a melhor possível. Acho que teremos uma candidatura única da base aliada", disse.

Padilha se recusou a comentar as críticas do deputado ao afirmar que só fala "das coisas boas da relação do PT com o PSB. "Até março, vamos caminhar para uma construção conjunta. A ideia é manter boas relações".