A afirmação é do ministro Paulo Bernardo (Planejamento): "As empresas dão dinheiro de caixa dois porque tem caixa dois. E o caixa dois contamina as eleições. Vamos ser francos".
Para o ministro, o maior problema hoje no financiamento das campanhas eleitorais é que "criminalizaram as doações legais". "As empresas fazem doação legal. Na hora da prestação de contas, falam que elas têm conluio com esse e aquele candidato, deu dinheiro porque tinha interesse", afirma.
Em sua opinião, a doação direta para os partidos deveria ser incentivada como forma de fortalecer o sistema partidário.
Ele observa ainda que o candidato que está na frente nas pesquisas eleitorais recebe mais dinheiro, mas que é muito comum o fenômeno das empresas que doam para os dois lados: "Digamos, para ficar bem com todo mundo". Leia a seguir os principais trechos da entrevista para a Folha assinante
FOLHA - Qual a sua expectativa sobre o financiamento de campanha na eleição deste ano?
PAULO BERNARDO - Está ruim e vai continuar ruim.
Folha - Por quê?
PAULO BERNARDO - Porque visivelmente o Congresso não consegue reunir maioria para votar projetos de reforma política, profunda mesmo. Temos um sistema que induz a absurdos, como as doações de caixa dois. As pessoas são induzidas pela mídia a achar que caixa dois existe por causa de eleições, mas não é verdade. As empresas dão dinheiro de caixa dois porque tem caixa dois. E o caixa dois contamina as eleições. Vamos ser francos. E tem um problema adicional. A lei prevê doações legais, feitas formalmente para candidatos e partidos. Quando sai a prestação de contas, é tratado como se fosse um absurdo, uma irregularidade.
FOLHA - A sua avaliação é que criminalizaram o caixa um?
PAULO BERNARDO - Está criminalizado, a eleição está criminalizada. Então, se uma empresa faz uma doação para um candidato ou se faz por partido, que é legal também, na hora que sai a prestação de contas, falam que ela tem conluio com esse e aquele candidato, deu dinheiro porque tinha interesse.
FOLHA - Isso estimula a doação pelo caixa dois, na sua opinião?
PAULO BERNARDO - Acho que inibe a doação legal. Tem as doações para os partidos, o que é legal, mas é tratado como se fosse bandalheira.
FOLHA - A doação oculta...
PAULO BERNARDO - Mas a doação não é oculta. O cara faz um cheque, deposita na conta e o partido distribui para quem quiser.
FOLHA - Conversei com empresários e eles estão dizendo que vão priorizar a doação aos partidos, porque avaliam que a contribuição para os candidatos ficou criminalizada.
PAULO BERNARDO - Quem doa dinheiro oficialmente, faz a doação legal, vai para o jornal como participante de algum conluio, como se ele estivesse querendo fazer alguma irregularidade. Agora, repetindo, não é verdade que caixa dois exista só na eleição.
FOLHA - Mas o sr. não acha que, pela doação aos partidos, a empresa não está tentando dissimular para quem doou?
PAULO BERNARDO - Eu acho que, diferentemente do que os jornais têm propagado, penso que a doação para um partido é uma forma digna de fazer a contribuição. Faz para o partido, tem vínculo com aquele programa daquele partido. Isso fortalece os partidos.
FOLHA - Reservadamente, alguns empresários disseram que, junto com a doação para os partidos, segue uma lista de quem deve receber o dinheiro, uma prova de que eles estão querendo fugir da identificação com esse e aquele candidato.
PAULO BERNARDO - Parece que é verdade. Agora, de qualquer forma, cria um vínculo com o partido, porque o tesoureiro desse partido pode passar ou não esse dinheiro, não é verdade? Essa é uma doação legal. Eu não entendo por que essas pessoas criminalizam isso.
FOLHA - O sr. acha que a ministra Dilma vai ter mais facilidade de arrecadar dinheiro no ano que vem por ser do governo, que controla o BNDES, os fundos de pensão?
PAULO BERNARDO - Olha, a gente tem observado é que o candidato que está na frente nas pesquisas costuma receber mais recursos. A história é essa.
FOLHA - O Serra?
PAULO BERNARDO - Não, eu não disse que é o Serra. Estou dizendo que, normalmente, o candidato que está na frente nas pesquisas recebe mais dinheiro e é muito comum o fenômeno da empresa que doa para os dois lados. Digamos, para ficar bem com todo mundo.
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