Segue a íntegra da reportagem:
A ex-secretária da Receita continua dizendo que esteve com Dilma no Planalto para tratar do caso Sarney. Mas não conseguiu mostrar uma evidência da reunião
A ex-secretária Lina Vieira, no depoimento no Senado. Aos oposicionistas, ela citou informalmente que o encontro teria sido em 19 de dezembro. Naquela data, porém, ela estava em Natal, Rio Grande do Norte, como revela o site Portal da Transparência (abaixo)
Anunciada como personagem capaz de dinamitar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à Presidência da República, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira deixou o auditório da Comissão de Constituição e Justiça do Senado sem entregar a mercadoria. Em seis horas de depoimento, Lina confirmou o que dissera na semana anterior ao jornal Folha de S.Paulo. Descreveu um encontro no Palácio do Planalto, onde Dilma teria lhe pedido para “agilizar” as investigações do Fisco contra empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Mas Lina Vieira não apresentou dados novos capazes de comprovar a reunião. Não foi, portanto, capaz de desmentir a versão de Dilma, que, desde o início, nega ter se encontrado com Lina no Planalto. É fato que uma das duas está mentindo. Mas o ônus de apresentar provas cabe a quem acusa.
Lina não levou uma agenda em que pudesse ter registrado o compromisso. Não apresentou testemunha direta da conversa. No início, disse que foi um diálogo normal, no qual nem sequer se sentiu pressionada. “A ministra me disse para agilizar a fiscalização do procedimento contra o filho de Sarney, mas, de forma alguma, o pedido foi para não investigar”, afirmou. No mesmo depoimento, porém, disse que achava o pedido de Dilma “incabível”.
Indicado como possível testemunha de sua ida ao Planalto, o motorista que costumava atender Lina deu uma entrevista dizendo que não sabia de nada. Em conversas informais com senadores, Lina Vieira identificou o dia 19 de dezembro de 2008 como a data provável do encontro. Mas informações oficiais revelam que as duas não poderiam ter se encontrado nessa data. No dia 19 de dezembro, Dilma passou a manhã em reunião do Conselho de Administração da Petrobras. À tarde, Lina estava em Natal, onde mora, a serviço. Naquele dia, Lina chegou a receber uma diária por se ausentar de Brasília, registrada no Portal da Transparência sete dias depois, em 26 de dezembro.
Na quinta-feira, os dois principais cicerones de Lina no Senado não conseguiam esconder certo desapontamento. O senador José Agripino Maia (DEM-RN) afirmou que Lina Vieira “não sabe” quando a conversa ocorreu e que será preciso vasculhar a agenda da Casa Civil “entre 15 de novembro e 15 de dezembro”. Garibaldi Alves (PMDB-RN) disse: “É mais factível que o encontro tenha ocorrido em outubro”. Em outubro, Lina esteve mesmo no Planalto, não há dúvida. Para uma visita oficial, devidamente registrada, segundo disse o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) no Senado.
A presença de Lina em Brasília na semana passada chamou a atenção para suas ligações com o mundo político de Natal. Por duas vezes, ela foi secretária de Tributação do Rio Grande do Norte. Primeiro, entre 1995 e 1998, na gestão de Garibaldi Alves. Depois, sob Vilma de Faria (PSB), a atual governadora, entre 2006 e 2007. O marido de Lina Vieira, Alexandre Firmino de Melo Filho, é um empresário ligado ao PMDB. Entre agosto de 1999 e julho de 2000, ele foi ministro interino do Ministério de Integração Nacional, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Firmino é sócio majoritário na agência Dois A Publicidade. A empresa atua em Natal, onde recentemente venceu licitação para prestar serviços à Secretaria de Comunicação da prefeitura administrada por Micarla de Souza (PV), aliada de Agripino e responsável por uma das maiores derrotas do PT nas eleições municipais. A Dois A divide um contrato anual de R$ 10 milhões, firmado no mês passado, com outras quatro agências. Firmino também é sócio da empresa Impressão Gráfica e Editora, recém-contratada pela prefeitura para editar a publicação Natal pra você, dedicada ao turismo. Procurados, nem Lina nem Firmino responderam aos pedidos de entrevista feitos por ÉPOCA.
Se quiser provar mesmo que o encontro não ocorreu, Dilma poderia acionar Lina Vieira na Justiça, exigindo provas ou uma retratação. O inconveniente é que cada depoimento realimentaria o assunto – o tipo de situação que não interessa a uma candidata à Presidência da República.
O Planalto também poderia liberar os registros de seu serviço de segurança. Não são informações perfeitas. De acordo com a graduação do visitante, apenas sua passagem fica registrada, sem que se saiba seu destino final. Mas esse tipo de informação poderia confirmar ou desmentir a suposta presença de Lina no Planalto.
Numa entrevista ao jornal O Globo, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, disse que o Planalto deveria divulgar os dados. “Não há motivo para esconder o registro de ingresso de cidadãos ou servidores públicos em uma repartição,” disse. A Casa Civil afirma que é o Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela segurança do presidente da República, que detém a palavra final sobre essa documentação. Por causa disso, na semana passada não se sabia quando – nem se – os registros serão publicados. Enquanto isso, continua a palavra de Lina contra a de Dilma.
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