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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O "poema" sujíssimo de Ferreira Gullar sobre o Bolsa-familía

Um intelectual como Ferreira Gullar pode escolher virar direita, pode escrever o que quiser, só não devia se meter a dar palpites sobre o que não entende, ou pior, sobre o que entende errado.

Em artigo na Folha de José Serra (tinha que ser na Folha de São Paulo), Gullar solta todos os preconceitos elitistas sobre o bolsa-família que ele "ouviu falar" de amigos da elite que o cerca, e repete de forma deturpada.

O artigo é um lixo do início ao fim, mas vamos a alguns destaques.

A certa altura, ele diz:

"... Inventaram-se os mais diversos modos de burlar as normas que o regem, chegando-se ao ponto de, quando o beneficiado pelo programa consegue um emprego, pede ao patrão que não lhe assine a carteira de trabalho, para que possa, assim, fazer de conta que continua desempregado..."

Pra começar, patrão que é honesto não negocia esse tipo de coisa. Registra sempre e pronto. A falta de virtude é muito mais do patrão do que do empregado, neste caso.

Além disso, a situação que o mal informado Ferreira Gullar descreve, na realidade é outra. Acontece em empregos precários, patrões de má-fé condicionarem o empregado a não registrar, para ganhar o bolsa-família, e o patrão não pagar FGTS, INSS, férias, abono de férias, aviso prévio, etc.

Se o empregado tiver acesso mínimo à cidadania jamais vai aceitar a falta de registro só para ter o bolsa-família (no máximo R$ 182,00 por FAMÍLIA, nem é por pessoa).

Mesmo um emprego de salário-mínimo que seja, registrado em carteira, dá direito à férias, décimo-terceiro, abono de férias, FGTS, PIS, proteção contra acidentes de trabalho e conta tempo para aposentadoria. Nenhum trabalhador esclarecido abre mão disso por vontade própria.

Em outra passagem Ferreira Gullar diz:

"... Um conhecido meu, que cria algumas cabeças de gado, contou-me que o vaqueiro de sua fazenda separou-se aparentemente da mulher (com quem tinha três filhos) para que ela pudesse receber a ajuda do Bolsa Família, como mãe solteira e sem emprego..."

Assim como Marajarbas, como sempre é "um conhecido" quem disse... e nesse caso, ainda trata-se de um criador de gado (setor onde há grande incidência de empregos precários, sem registro em carteira, às vezes até trabalho escravo)... e essa história está pra lá de mal contada, pois desde quando separação conjugal (ainda que de união estável) torna a mulher mãe solteira?

E o "intelectual" continua torturando sadicamente o bolsa-família nas páginas da Folha:

"... Ao mesmo tempo, embora já tivesse decidido não ter mais filhos, além dos que já tinham, mudaram de ideia e passaram a ter um filho por ano, de modo que a filharada, de três já passou para sete, sem contar o novo que já está na barriga... "

...Esse procedimento se generaliza. Um médico que atende num hospital público aqui do Rio, declarou na televisão que uma jovem senhora, depois de sucessivos partos, teve que amarrar as trompas. Com medo de morrer, aceitou a sugestão do médico, mas lamentou: "É pena, porque vou perder os R$ 150 do Bolsa Família".

Ferreira Gullar deveria saber como funciona o Bolsa-família. Basta consultar aqui as regras do programa.

O benefício é por família, e o máximo por família é R$ 182,00 (antes do aumento anunciado), independente do número de filhos.

Nenhuma família ganha nenhum centavo a mais se tiver mais de 3 filhos até 15 anos. O abono por filho até 15 anos é apenas R$ 20,00 para filho, limitado a três filhos.

Até 2 jovens destas famílias, de 15 a 17 anos, cursando escola, podem receber R$ 30,00 cada.

É do direito de qualquer um criticar o Bolsa-família, mas coloquem a mão na consciência e critiquem pelo que o programa é de verdade. Não inventem.

Não critiquem o que não existe, espalhando boatos e criando esteriótipos sobre o programa.

Ferreira Gullar é esclarecido demais para se dar ao direito de tamanha ignorância.

A Folha de São Paulo, se fosse um jornal ético, o editor que publicou o artigo de Ferreira Gullar, teria avisado ao articulista dos erros contidos no artigo. Poderia publicar sem censura se o articulista insistisse em mantê-lo, mas o jornal deveria ter a decência de explicar ao leitor como funciona o programa na realidade.

Em tempo: Por que vários dos antigos intelectuais da esquerda festiva perderam "la ternura"? Preferia Ferreira Gullar quando escrevia seu poema sujo.

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