O delegado Protógenes Queiroz, tem uma folha de serviços na Polícia Federal, que merece todas as honrarias. Enfrentou interesses poderosos com empenho, e deu mostras de ser incorruptível. É esse espírito de policial que todos nós desejamos, e é dispensável estender-me em elogios quanto à isto.
Como Protógenes não é Deus e sim humano, mesmo como policial pode ter lá suas falhas. Talvez tenha pecado por favorecer a Globo, entregando furos com exclusividade, em detrimento à outras emissoras (o talvez, é porque as informações que temos vem do noticiário e das evidências como no caso da prisão de Maluf e de Dantas), mas mesmo que seja verdade, é pecadilho pequeno, é bom lembrar.
Talvez ele tenha pecado por levantar falsa suspeita sobre colegas de trabalho na Polícia Federal, e por ter se insubordinado à corporação. De novo, o "talvez" é porque os fatos ainda não estão suficientemente apurados.
Nem pode se descartar a hipótese dele estar certo quanto à alguns de seus colegas na PF a quem ele dá a entender que são corruptos, nem pode se descartar a hipótese dele estar acusando outros policiais tão honestos quanto ele, injustamente.
Assim como Portógenes foi indiciado, outros policiais também estão respondendo a inquéritos, promovidos pelo Ministério Público, denunciados por Protógenes.
Vamos aguardar o desenrolar dos fatos para sabermos quem está certo. Mas mesmo que Protógenes estiver errado, como policial, o melhor será ele fazer sua mea-culpa e voltar a prender bandidos.
Nossas divergências com Protógenes é quanto à sua visão política. Nem é questão partidária. Ele tem todo o direito de seguir a carreira política que desejar, e tem todo o direito de escolher o partido que desejar. Sem dúvida que no PSOL, ou em outro partido qualquer, se fosse eleito para o Congresso, seria um quadro melhor do que a grande maioria que lá esta.
O que provoca divergências de fato, é quanto à sua visão política do quadro nacional e do momento histórico em que vivemos.
Em dois episódios, o delegado mostrou uma visão política completamente equivocada.
O jornalista César Rocha, narra uma conversa que teve com o delegado, em sua passagem por Pernambuco. Depois de elogiar Dilma e Lula, mais adiante na conversa ele mudou o tom e diz:
“Mas o Brasil avançaria 100 anos de fizesse o impeachment do presidente Lula. Seria importante isso. Veja como avançamos depois do impeachment de Collor. Logo depois elegemos um operário presidente da República”.
Outro episódio é uma carta enviada por Protógenes ao presidente dos EUA, Barack Obama (a carta está no site oficial da comunidade de Protógenes aqui).
No meio da carta ele cita:
"Infelizmente, não é apenas o judiciário que está no payroll [folha de pagamento] do banqueiro-bandido Daniel Dantas. O próprio presidente da república, o Lula, acaba de colocar los amigos para assumir controle do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) com um decreto no dia 19 de fevereiro de 2009, visando obstruir processos relativos à soberania da nação" ...
Muitos acham que essa carta é a "prova" de que Protógenes é o "maluco" que o PIC (Partido da Imprensa Corrupta) e FHC diz ser.
Eu não penso assim, penso que essa carta é mais um manifesto político para o público interno aqui no Brasil, ou seja, tem objetivos políticos de chamar atenção e ganhar publicidade, justamente pelo seu teor explosivo.
Penso que a tese do impeachment para avançar 100 anos de Protógenes (e é essa que me preocupa) é uma espécie de visão revolucionária de conquista do poder, não pelo caminho natural da organização democrática e de campanhas políticas tradicionais. Também não é luta armada, mas é uma visão de conquista do poder pegando o atalho da era da informação, pelos serviços de inteligência.
Isso é apenas uma tese, mas é uma tese que não pode ser descartada.
Por esse caminho, a vanguarda da revolução seria a ala da Polícia Federal que pensa como Protógenes. Em tese, ali eles vislumbram uma oportunidade de derrubar governos através de serviços de informações, abrindo caminho para outros serem eleitos, como Heloísa Helena ou, quem sabe, o próprio Protógenes, e avançar anos nas conquistas sociais, segundo avaliação deles.
Aqueles que pensam assim, acreditam que o governo Lula teria se tornado conciliador demais e abandonado as reformas mais profundas, e convivido com alas corrompidas da política nacional por livre escolha. Logo, concluem: mereceria o impeachment, porque está governando muito devagar.
Segundo eles, as transformações que valeriam a pena só viriam de um partido como o PSOL ou PSTU, e mesmo que os demo-tucanos voltassem ao poder em 2010, na ótica deles não seria um retrocesso e sim um caminho mais rápido deles chegarem ao poder, uma vez que seria mais fácil vencer demo-tucanos em 2014 ou 2018, além de ser mais fácil derrubá-los com o acesso aos sistemas de informação dos serviços de inteligência.
É aí que reside nossas divergências. Nem o governo Lula é conformista, nem abandonou as reformas, e usar os serviços de inteligência como atalho para o poder pode criar um monstro que poderá engolir o dono (nesta hipótese, o próprio Protógenes e o PSOL).
Serviços de inteligência podem e devem ser úteis para derrubar governos corruptos de fato. Mas não podem ser usados para julgar qual governo eleito pelo voto merece ou não merece continuar no cargo por avaliação de desempenho.
Além disso o aparelhamento político destes serviços de inteligência, pode levar a fabricar corrupção em governos que não são corruptos, e isso pode ser feito até para atender interesses de governos estrangeiros, e da elite econômica nacional insatisfeita com o governo atual.
É um completo alopramento esse caminho, e é alopramento não distinguir o momento histórico que separa o governo Lula dos governos anteriores.
Do ponto de vista de honestidade pessoal, Lula é tão íntegro quanto Protógenes. Lula liderou as maiores greves na década de 70 sem se corromper (o peleguismo fazia a independência financeira de líderes sindicais ao encerrar mais cedo uma greve, ou não apoiar uma greve em uma assembléia), fundou um partido do nada, sem apoio econômico, sem grandes lideranças, sem bancada e sem cargos, sem se corromper. Lula poderia ter tido uma vida bem mais mansa no começo se tivesse entrado no PMDB ou no PDT de Brizola, partidos que nasceram melhor estruturados. Teria sido eleito logo Senador, talvez Governador, mas dificilmente chegaria à presidência.
Na presidência, Lula tornou a PF republicana de fato, com funções de estado, longe da ingerência política, e isso lhe custou até desgastes por todos os lados, como no episódio do mensalão, do dossiê Vedoin, do dólar na cueca, como em mandatos de busca e apreensão na casa de Vavá (seu irmão), além de desgastes com políticos e grandes empresários, sempre pressionando para "colocar uma coleira" na Polícia Federal.
Do ponto de vista do político, Lula age como um cientista num laboratório, que precisa lidar com vermes, bactérias e vírus para chegar a cura das doenças políticas brasileiras. Não enfrentar o desafio, não correr o risco do contato com perigo de contaminação, não levará à cura.
Lula foi eleito presidente, conquistou o poder executivo, mas está cercado de conservadores nos outros poderes por todos os lados:
- o poder legislativo é conservador, e foi eleito por gandes parte dos mesmos eleitores que votaram em Lula.
- o judiciário é conservador.
- o poder econômico no Brasil sequer tem responsabilidade social, a ponto das elites enviarem dinheiro que ganham aqui para o exterior, em vez de manterem poupança interna.
- o poder midiático é golpista, e Lula está enfrentando com a inclusão digital, com a TV Brasil, enfretará melhor com a TV digital, e conta com um noticiário mais isento nos jornais populares e regionais que são muito mais lidos do que o PIG, apesar de não repercutirem nos meios mais intelectualizados.
O único outro poder progressista no Brasil, é o Ministério Público.
Por isso, por estar cercado de conservadores por todos os lados, é que Lula não pode fazer uma revolução na base da "canetada".
Lula tem pressa em fazer inclusão social, por isso negocia com o Congresso, por isso admite ministérios conservadores do PMDB. Para suprir a camada mais excluída da população de cidadania, e essa camada se tornar protagonista do processo político do Brasil, votando melhor, exigindo mais seus direitos, estudando mais, tendo acesso à informação decente, se organizando mais, tendo acesso à justiça.
Não ver isso, e reduzir a política a escândalos policiais (que não são abafados), abandonar a governabilidade, é abandonar os excluídos sociais à sua própria sorte de novo, como eram nos governos passados. É também entregar o futuro do Brasil aos estrangeiros, por falta de ação e de tomar as rédeas da nação.
As críticas mais sensíveis ao governo Lula, além das alianças com conservadores e fisiológicos, são quanto aos bancos.
Lula foi eleito em 2002 com grande apoio popular, mas pegou um estado muito fraco, em estado de falência, socorrido pelo FMI.
Era como um general desarmado comandando uma tropa em terra arrasada. É burrice declarar guerra desarmado contra um inimigo mais forte (Saddan Houssein que o diga). Primeiro é preciso se armar, se equipar, medir forças previamente, para depois declarar guerra, e isso vale para os bancos.
Na economia moderna de hoje, em que o Brasil está inserido, o dinheiro não é mais lastreado em ouro como antigamente. É o conjunto de riquezas da nação que confere o valor ao dinheiro emitido. Quem faz a mediação do valor deste dinheiro na economia real são os bancos.
Lula recebeu um sistema bancário cartelizado que tem o poder de quebrar o país, como ocorreu na Argentina.
Lula precisou fortalecer o estado primeiro, e ainda precisa fortalecer mais o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, para poder dar as cartas de fato no sistema bancário, e vir a exercer uma política de estado e não de mercado no Banco Central.
Por tudo isso é que a revolução pelos serviços de inteligência, passando pelo impeachment de Lula para acelerar o processo, é inaceitável.
Além disso, revolução pelos serviços de inteligência, esconde uma tutela de candidatos a déspotas esclarecidos, sobre a vontade popular. Não por acaso, na época do regime militar, 2 generais que comandaram o SNI, chegaram à presidência.
E por isso, o governo precisa impedir que prosperem aparelhos políticos dentro da Polícia Federal e de outros órgãos, com propósito de fazer revolução pelos serviços de inteligência.
Protógenes, para o bem do Brasil, deveria focar seu talento e sua metralhadora giratória para os bandidos e para os poderes conservadores, fisiológicos e corruptos que cercam Lula, e não contra o presidente e seu governo.
Caso se candidate, Protógenes será bem vindo ao Congresso em 2010, se ajudar a eleger um Congresso menos conservador, com menos demo-tucanos, com menos fisiológicos de todos os partidos, mesmo sendo pelo PSOL e fazendo oposição ao governo.
Mas de nada adianta o PSOL se limitar a disputar espaço com o PT, com o PCdoB, com as alas progressistas do PSB e do PDT às cotoveladas, e deixar as bancadas conservadoras correndo por fora, para ficarem do mesmo tamanho em 2010.
Se fizer assim, o PSOL acaba sendo usado como bucha de canhão pelos demo-tucanos, assim como foi usado no episódio da CPMF, quando o PSOL votou no projeto neoliberal de estado mínimo, contra a saúde pública, ao lado de Bornhausen, Agripino Maia, Arthur Virgílio, e outros.
Leia outras notícias no blog "Os amigos da presidente Dilma"
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