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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ascensão social


O aquecimento da economia, que tirou milhões de brasileiros da pobreza, tem beneficiado especialmente os negros. Segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que revelou que mais da metade dos brasileiros pertence à classe média, a ascensão social dos negros ocorre de forma mais rápida do que a do restante da população. O percentual da população nas seis principais regiões metropolitanas do país que integra a classe média passou de 43,64%, em 2002, para 51,57%, em abril deste ano. No mesmo período, a proporção de negros que fazem parte dessa faixa social subiu de 39,24% para 50,87% - incremento de 11 pontos percentuais.

Apesar de estar abaixo da média para o conjunto da população, a proporção de negros na classe média está cada vez mais próxima da média geral. Contudo, a velocidade da melhoria do padrão de vida para as pessoas negras surpreende os organizadores da pesquisa. "Na classe C, houve esse processo de maior inclusão das pessoas negras", diz o chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Néri. Para ele, a pesquisa mostrou uma nova tendência. "Esse é um dado interessante, porque a gente tem visto muito pouca mobilidade por raça no Brasil, mas, nos últimos anos, os números pelo menos mostram um deslocamento."

Para a FGV, a principal explicação para essa melhora é que o crescimento econômico beneficia sobretudo as classes menos favorecidas, compostas principalmente por negros. Em 2002, 38,55% da população negra estava na classe E, a maior fatia entre as raças pesquisadas. Em abril deste ano, a proporção caiu para 23,58% e se aproximou de outras camadas de menor renda, como pardos (22,98%) e índios (22,54%).

Na visão de Néri, o aumento na renda explica a melhora nas condições de vida. O avanço na educação também é apontado como fator catalisador do processo. "O fator que vai determinar a renda é a educação acumulada ao longo dos anos. Ela serve de base para uma inserção trabalhista que, por sua vez, é a base para a inclusão social e econômica."

Os números são avaliados com cautela por entidades vinculadas ao movimento negro. Coordenador pedagógico da organização Educação para a Cidadania de Afro-Descendentes e Carentes (Educafro), Adriano Rodrigues diz que ainda é cedo para dizer se a ascensão é definitiva. "Se não houver uma política específica e de longo prazo para a educação dos negros, as pessoas dessa raça voltarão à pobreza assim que a economia parar de crescer. Atualmente, a melhoria nas condições de vida está atrelada apenas à conjuntura do país."

A FGV considera de classe média as famílias com renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591. A classe E abrange as famílias com renda mensal inferior a R$ 768.

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