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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Caminho de dólares usados por Naji Nahas em 2002 foi utilizado pela Alstom em 2 transações identificadas pelo Ministério Público suíço


A Polícia Federal investiga se Naji Nahas, preso na Operação Satiagraha, voltou a usar o modus operandi de remessa de dólares para o exterior que ele já havia utilizado em um caso apurado no escândalo do Banestado. Nesse caso, o investidor repetiu um dos esquemas usados pela multinacional francesa Alstom, suspeita de pagar propina a políticos tucanos de São Paulo.

No dia 9 de outubro de 2002, Nahas mandou US$ 750 mil por meio da "offshore" uruguaia Kiesser Investment para os Estados Unidos. O dinheiro saiu do banco Audi, em Luxemburgo, passando pela Kiesser, que, segundo a PF, é de doleiros do Rio, segundo base de dados da Promotoria de Nova York.

O caminho do dinheiro foi o mesmo usado pela Alstom em duas transações identificadas pelo Ministério Público da Suíça. Documentos em poder de promotores suíços mostram que pelo menos parte da propina atribuída à empresa foi repassada por doleiros, entre eles os donos da Kiesser.

A planilha com as transferências indica que mais de US$ 500 mil -que teriam sido usados para o suborno- também saíram do Audi e passaram pela Kiesser. À época, a Alstom informou que não se pronunciava sobre as transferências internacionais.

As operações listadas na planilha foram ordenadas pela multinacional entre dezembro de 1998 e fevereiro de 2002, segundo o Ministério Público da Suíça. A Alstom, empresa de energia e transportes, está sob investigação por suspeitas de ter pago propina para ganhar contratos com os políticos do PSDB.

Segundo a PF, a "offshore" que movimentou dólares da Alstom e de Nahas registrou endereço em Montevidéu. Empresas como a Kiesser serviam diferentes clientes, cobrando, em média, 1,5% do valor de cada transação por meio das chamadas "contas ônibus", que atendiam a vários "passageiros" ao mesmo tempo.

Investigações do escândalo Banestado, que geraram uma CPI em 2003 para apurar remessas ao exterior entre 1996 e 2002, indicam que, para chegar ao Uruguai, as remessas eram feitas por intermédio das chamadas contas CC-5 (usadas por não-residentes no país), em nome de laranjas. De lá, o dinheiro seguia para a conta da Kiesser no MTB Bank, antes de abastecer os verdadeiros destinatários dos dólares em Nova York, Nova Jersey, Miami e até nas Ilhas Virgens Britânicas.

Localizado no centro de Manhattan, o MTB Bank foi fechado pelas autoridades americanas por lavagem de dinheiro por meio de "offshores" (empresas que mantêm sob sigilo os verdadeiros donos). Entregue à extinta CPI do Banestado pela Promotoria de Nova York, a base de dados eletrônica do MTB Bank mostra que Nahas usou outras duas empresas para enviar dólares ao exterior.

Dois especialistas em Banestado foram escalados pela PF para participar da segunda fase da Operação Satiagraha, que investiga também o banqueiro Daniel Dantas. Além de identificar remessas de doleiros que alimentaram o fundo Opportunity, nas ilhas Cayman, eles vão analisar as operações feitas por todos os alvos da Satiagraha.

O procurador Celso Três, um dos responsáveis pelo início das investigações do Banestado, afirma que presos na Satiagraha, como Naji Nahas, apareceram nas contas analisadas pela força-tarefa formada pela PF e Ministério Público. Mas eles não foram os principais alvos da investigação de evasão de divisas. "Nos concentramos primeiro nos responsáveis por movimentações de maior vulto", disse Três, que analisou mais de 1.100 contas . Assinante link

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