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domingo, 11 de junho de 2017

Abusos e agressões



Enquanto Gilmar Mendes fatiava a pizza no TSE, Michel Temer enviou uma carta ao ministro Edson Fachin. Investigado por suspeita de corrupção, organização criminosa e obstrução da Justiça, o presidente informou na missiva que não responderia ao interrogatório da Polícia Federal. Ele se apresentou como vítima de "abusos e agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de mandatário da nação".

Temer acertou nos substantivos, mas trocou o sujeito da frase. É ele, e não a Lava Jato, quem pratica abusos e agressões em série desde que virou alvo de inquérito no Supremo.

Há abusos quando o presidente mente sobre voos em jatinhos, transforma a Justiça Eleitoral numa companhia de teatro e chama o Exército para conter uma manifestação. O mesmo ocorre quando o governo aciona a Receita, a Caixa e a CVM para sufocar a empresa que o denunciou.

Há agressões quando Temer mobiliza aliados numa cruzada contra o procurador Rodrigo Janot, que o investiga, e o ministro Fachin. Na quarta-feira, deputados deixaram o Planalto com a ordem de convocar o relator da Lava Jato a uma CPI.

Na manhã de sábado, depois de revista "Veja" afirmar que o Planalto usou o serviço secreto para bisbilhotar Fachin, a ministra Cármen Lúcia falou em prática "própria de ditaduras" e "gravíssimo crime contra o Supremo e contra a democracia".

O Planalto negou a arapongagem e disse que "não usa a máquina pública contra os cidadãos brasileiros". O presidente chamou a notícia de "coisa bárbara" e informou que vai continuar "pacificando o país".

Quem lê a nova carta de Temer é assaltado pela impressão de que o autor se confunde com o cargo e se julga acima da lei. O texto descreve a intimação a depor como um "desrespeito à Presidência" e diz que seus amigos "indagam por que o Michael [sic] está sendo tratado desta forma". A missiva se estende por 14 páginas, mas não responde a nenhuma das 82 perguntas da polícia. Bernardo Mello Franco

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