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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eduardo Cunha coleciona escândalos e apoios políticos controversos


O Brasil se acostumou a ouvir seu nome com mais frequência do ano passado para cá. No entanto, o hoje presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), 56, iniciou na política ainda na década de 80 e se livra de escândalos desde essa época com a mesma desenvoltura com que angaria apoio no Legislativo, manobra para aprovar pautas de seu interesse e coloca o governo contra a parede.

Definido por amigos (e inimigos) como um líder, o carioca começou sua carreira política em Minas. Em 1982, aos 24 anos, trabalhou na campanha derrotada de Eliseu Resende, então no PDS, para o governo do Estado. Depois, esteve junto de Fernando Collor e PC Farias, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral.

É pai de quatro filhos com a jornalista Cláudia Cruz. Apresentadora do “RJTV”, da Globo, na década de 90, coube a ela anunciar ao vivo a demissão do marido da presidência da Telerj por suspeita de corrupção. Eles não se abalaram.

Cunha frequenta a igreja neopentecostal Sara Nossa Terra e fez dali seu terreno. Sua votação nas urnas foi crescendo na proporção de sua popularidade entre os evangélicos. Ficou conhecido pela atuação na rádio Melodia FM, também evangélica, na qual dava e dá pitacos sobre vários assuntos, seguido do bordão “O povo merece respeito”.

“Como presidente, é um dos melhores que já teve”, classifica o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB), o mais antigo da Câmara. Aos 84 anos e no décimo mandato, o tucano faz coro com o que os apoiadores de Cunha exaltam de seu trabalho: a eficiência e a quantidade de projetos votados. Sob comando do peemedebista, foram levadas a plenário 393 pautas nos primeiros cem dias de trabalho. Em 2011, foram 171 no mesmo período.

“Tenho muita preocupação de que se confunda quantidade com qualidade”, pondera o deputado Júlio Delgado (PSB), que tem marcado posição contra o que considera “atropelos” de Cunha.

Na última semana, o líder ganhou um novo adjetivo: golpista. Depois de a proposta de redução da maioridade penal não ter atingido os 308 votos necessários para aprovação, Cunha “virou a mesa” e conseguiu aprovar um texto semelhante, 24 horas depois.


As posições políticas do peemedebista variam ao sabor dos ventos. Fez oposição a Lula em seu primeiro mandato e coro para o fim de uma aliança PT-PMDB com discurso idêntico ao usado hoje. Aderiu ao governo após a reeleição do petista e surfou na onda de crescimento econômico do país – ao lado de Lula. Na campanha de 2010, fez périplo junto a igrejas evangélicas para desmentir boatos sobre Dilma Rousseff e arrebanhou votos para a petista. “Dilma mereceu essa grande vitória.”

Cunha é, conforme a definição de um colega, “um workaholic que dorme tarde e acorda cedo”. Como o personagem Frank Underwood – de Kevin Spacey –, da série norte-americana “House of Cards”, coleciona amigos em uma mão e desafetos na outra. Usa o Twitter para se defender, tirar satisfação, orar e destratar os inimigos publicamente. Flamenguista roxo, só chamava Vanderlei Luxemburgo de “Luxemburro” durante a passagem do técnico pela Gávea em 2011.

Preparou um processo contra o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PROS)enquanto via, pela TV, o desafeto chamá-lo de “picareta-mor entre mil picaretas”. Com Anthony Garotinho, durante uma troca de farpas que durou dias, disse que o ex-aliado era “caso de polícia, não de política”. Se o maestro Tom Jobim dizia que o “Brasil não é para principiantes”, Eduardo Cunha soube moldar seus calos.

Diga-me com quem andas...

Bancada evangélica: Bancada da bala: Nas comissões: São cerca de 80 deputados, de diversos partidos, boa parte deles fiel a Cunha, como Marco Feliciano (PSC-SP) e os mineiros Leonardo Quintão (PMDB), Lincoln Portela (PR) e Stéfano Aguiar (PSB).

Militares, ex-militares e deputados conservadores, como Jair Bolsonaro (PP-RJ) e os mineiros Edson Moreira (PTN) e Laudívio Carvalho (PMDB).

Emplacoualiados na de Constituição e Justiça (Arthur Lira), na CPI da Petrobras (Hugo Motta) e na Comissão Especial da Redução da Maioridade Penal (André Moura).

Nanicos:

Deputados de partidos pequenos (PHS, PTN, PMN, PEN, PRP) rondam Cunha como satélites. A relação vem desde 2013, quando ele se tornou líder do PMDB na Câmara e liderou o “blocão”.

Mesa Diretora: Cunha conseguiu isolar a influência do governo federal na Mesa Diretora. PP, PR, PSD, PRB e PSDB são os ocupantes dos cargos de direção da Casa.


Oposição: Ao impor dificuldades ao governo Dilma, Cunha conquistou apoio da oposição. Parte do PSDB votou nele para a presidência da Casa, mesmo com orientação contrária da direção da sigla.


No Twitter

Alvo. Outro desafeto público de Cunha é o colunista Lauro Jardim, da revista “Veja”. Nunca nomeado pelo presidente da Câmara, o jornalista é chamado de “mentiroso” e “notório desafeto”.

Artigo de Lucas Pavanelli no site O Tempo

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