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quinta-feira, 5 de março de 2015

DEM cogita fusão com PTB para manter ACM Neto



Rebaixado na última década à condição de coadjuvante no cenário político nacional, o DEM (antigo PFL) aposta na fusão com outro partido para recuperar o protagonismo do passado. Depois de conversas com PSDB e Solidariedade, os integrantes do DEM investem agora em negociações com o PTB. Com a união, as duas legendas passariam a contar com 47 deputados e oito senadores, a quarta maior bancada nas casas legislativas.

Além de ampliar a representatividade no Congresso, a fusão seria importante para assegurar a permanência do prefeito de Salvador (BA), ACM Neto, em meio aos rumores de que ele poderá deixar o DEM para concorrer à reeleição em 2016 por outro partido que lhe garanta um tempo maior de televisão. Por isso a união com os petebistas é tratada nos bastidores como solução para frear uma eventual desfiliação do prefeito.

Tanto o DEM quanto o PTB reúnem as respectivas bancadas hoje para debater o tema. Prefeito de capital mais bem avaliado do país, conforme pesquisa Vox Populi, divulgada em dezembro, ACM Neto viajou à Brasília e também participará do encontro.

O deputado Rodrigo Garcia (SP), vice-presidente do DEM, reconhece que as negociações contam como aval de ACM Neto, embora descarte a possibilidade de desfiliação do correligionário. "Independentemente das negociações, sua saída nunca foi tratada. Assim como a maior parte de nossas lideranças, o prefeito apenas defende que procuremos alternativas de crescimento do partido", afirma.

O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) corrobora as declarações ao acrescentar que a fusão vai ampliar a ação parlamentar no Congresso e aumentar o tempo de televisão dos candidatos majoritários na eleição de 2016, sobretudo do prefeito. "É preciso dar condições e estrutura partidária para que Neto possa concorrer à reeleição com boas chances de vitória".

A ideia começou a ganhar força depois da eleição de 2014, quando a fusão passou a ser vista como uma medida preventiva diante do diagnóstico interno de que o DEM caminha para se tornar um partido nanico. A bancada na Câmara vem caindo desde 1998, quando foram eleitos 105 parlamentares pelo então PFL. No ano passado foram apenas 22. Além disso, pela primeira vez a sigla não conseguiu fazer um único governador.

A fusão, no entanto, enfrenta a resistência de dirigentes históricos e ameaça a unidade partidária. "Se depender de mim essa tese não avança. O DEM não precisa se fundir com ninguém", alega o senador Ronaldo Caiado (GO). "Sobrevivemos a um processo de mutilação, quando os parlamentares fisiológicos nos deixaram. Naquele momento, perdemos a gordura e passamos a ser um partido de musculatura", acrescenta Caiado ao lembrar da criação do PSD, em 2011, que culminou na perda de 19 deputados do DEM.

Presidente do DEM paulista, o deputado federal Jorge Tadeu Mudalen é outra liderança contrária à proposta de união com os petebistas. Diante do impasse, o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do DEM, atua para evitar a divisão partidária. Diz que as divergências são normais, já que as negociações ainda estão na fase das conversas. Além disso, ressalta que os diretórios estaduais sequer foram consultados.

"Portanto, trata-se de uma tese ainda não pacificada. Estamos tateando a hipótese", desconversa Agripino, acrescentando que a legenda não vai perder, em caso de fusão, a coerência e a linha programática. Garcia, porém, revela que as negociações estão adiantadas e que um mapeamento feito pelo DEM mostra que o PTB foi o partido, entre as legendas sondadas para uma eventual fusão, o que menos apresentou perspectivas de conflitos nos Estados.

Pelo lado petebista, as conversas estão sendo conduzidas pela presidente do partido, a deputada federal Cristiane Brasil (RJ). "Estamos otimistas e não temos pressa. Queremos construir um grande partido. A expectativa é não perder ninguém", disse. O principal empecilho até aqui tem sido a exigência do PTB de manter a sigla e o número (14). "Assim, deixa de ser uma fusão e passa a ser uma incorporação. Não pode. Precisamos analisar bem a situação. O diabo mora nos detalhes", argumenta Aleluia.

Em paralelo às negociações, dirigentes do DEM defendem que o partido tenha uma postura mais autônoma em relação ao PSDB, inclusive, com vistas às eleições presidenciais de 2018. A mudança de atitude tem como base a percepção de que a legenda perdeu para o PSB o posto de aliado mais cobiçado pelos tucanos e que o lançamento de candidatos para cargos majoritários é a única alternativa para recuperar o espaço perdido diante de um quadro de fragmentação partidária.

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