Promotores de Genebra citam casa de câmbio Lespan, do Uruguai, e
doleiro brasileiro Marco Antonio Cursini no rastreamento do dinheiro de
João Roberto Zaniboni
Ocaso Banestado para transferir pelo menos US$ 836 mil para a conta Milmar, de sua titularidade, no Credit Suísse, em Zurique.
engenheiro João Roberto Zaniboni, ex-diretor de operações e
manutenção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em dois
governos do PSDB (Mário Covas e Geraldo Alckmin), entre 1999 e
2003, usou a mesma logística e os mesmos agentes empregados pelo
ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996) e por empresários e investidores do
Documentos enviados pelo Ofício Federal de Justiça da Suíça para o
Brasil revelam passo a passo os caminhos do dinheiro de Zaniboni -o
Ministério Público de São Paulo suspeita que o ex-diretor da CPTM
recebeu propinas para favorecer a Alstom, multinacional francesa, em
contratos de fornecimento e serviços de revisão geral de 129 vagões.
Dois nomes notoriamente conhecidos dos investigadores integram a
estrutura da qual também se valeu Zaniboni: a casa de câmbio Lespan,
sediada no Uruguai, e a Goldrat Corporation, controlada pelo famoso
doleiro brasileiro Marco Antonio Cursini, garantiram as transferências dos recursos que abasteceram a Milmar.
A Lespan operava nos Estados Unidos para cambistas da América Latina,
inclusive doleiros do Brasil. Ela desponta como personagem central em
uma das mais importantes e decisivas investigações já realizadas contra
Maluf, mantido preso na Polícia Federal, por 41 dias, em 2005.
Na época, uma força tarefa do Ministério Público Estadual e
Ministério Público Federal descobriu, a partir de dados enviados pela
promotoria de Manhattan, que a Lespan enviou US$ 11,3 milhões para a
conta Chanani, do doleiro Birigui, em Nova York – o dinheiro, segundo os
promotores, teve origem em desvios que Maluf teria realizado a dano do
Tesouro paulista.
A Lespan também foi usada pelo doleiro Toninho da Barcelona para
mandar valores para paraísos fiscais por meio das contas CC5, operações
desmascaradas pela CPI do Banestado – caso de evasão de US$ 30 bilhões nos anos 90.
Relatório de investigação de polícia criminal da Suíça informa que
“numerosos pagamentos” caíram na conta de Zaniboni “pela maioria em
procedência da companhia Lespan AS, domiciliada em Montevidéu, no
Uruguai”.
Marco Antonio Cursini, o doleiro, foi condenado em 2009 a uma pena de 3 anos e 3 meses de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação, no Caso Banestado.
Foi beneficiado com redução de pena em delação premiada. Ele revelou
clientes e pagou indenização significativa, R$ 4 milhões ao todo, por
imposição da Justiça Federal no Paraná e em São Paulo. Cursini também
fez pacto de colaboração na Castelo de Areia,
espetacular operação da Polícia Federal, deflagrada em 2009, que pegou
executivos da empreiteira Camargo Correia em lavagem de dinheiro e
remessas ilegais para fora do País. Por ordem do Superior Tribunal de
Justiça, a investigação foi anulada.
João Roberto Zaniboni, o ex-diretor da CPTM, caiu na malha fina do
Ministério Público da Confederação suíça (MPC) a partir da investigação
criminal que tinha inicialmente como alvo os consultores brasileiros
Arthur Gomez Teixeira e Sérgio Meira Teixeira, apontados como lobistas e
elo da Alstom com dirigentes de estatais paulistas.
Os investigadores de Genebra identificaram a cadeia de transferências
de capitais, a partir de depósitos nas contas Rockhouse e Sunrock, de
Arthur e Sérgio Teixeira – alojadas no Credit Suísse -, abastecidas por
operações de duas offshores, GTH Consulting AS e Gantown Consulting AS,
por eles administradas.
A GTH e a Gantown, sediadas no Uruguai, aparecem como empresas que
teriam prestado consultoria para a Alstom. A pesquisa revelou que parte
do dinheiro migrou, depois, para a conta 180636, a Milmar – primeiras
letras das duas filhas de Zaniboni.
Do saldo de US$ 836 mil, composto entre setembro de 1999 e dezembro
de 2002 – período em que Zaniboni exercia o cargo diretivo na CPTM – a
Milmar recebeu US$ 216, 87 mil pelas offshores dos Teixeira. Em 2 de
maio de 2000, a Rockhouse transferiu R$ 103,5 mil para o ex-dirigente da
CPTM; Em 27 de dezembro daquele mesmo ano, a Sunrock enviou US$ 113,3
mil para a Milmar.
Em um capítulo intitulado “antecedentes de fato”, o relatório dos
promotores suíços assinala que os Teixeira foram enquadrados por lavagem
de dinheiro. “Eles foram indiciados por lavagem de dinheiro agravado
por corrupção de funcionários estrangeiros. Acusa-se as pessoas de terem
assistido companhias da Alstom na obtenção de projetos de grande porte
no Brasil, particularmente também no âmbito dos transportes, em
qualidade de tais consultores, e ter transmitido no âmbito dessas
atividades propinas por conta da Alstom.”
Os investigadores suíços apontam “numerosos outros pagamentos” para
Zaniboni realizados pela offshore controlada por Cursini – a Goldrate
Corporation, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, com uma conta no
Deutsche Bank de Hamburgo.
A investigação mostra que em 23 de julho de 2007, o ex-diretor da
CPTM esvaziou a Milmar e deslocou todos os ativos para a conta 6034632,
no Safra National Bank em Nova York – a titular dessa conta é uma filha
de Zaniboni.
A transferência foi promovida por Cursini, afirma a Suíça. Desta vez,
o doleiro usou outra offshore, denominada Gelateria, que mantém conta
no Bank Holmann AG, em Zurique.
Defesa. O criminalista Luiz Fernando Pacheco, que
defende João Roberto Zaniboni, disse que o ex-diretor da CPTM “usou
doleiros (para transferir os valores para a Suíça) dos quais não lembra o
nome”. Segundo o advogado, Zaniboni “não chegou nem a ter contato
direto com eles (doleiros) e desconhece o nome de suas contas”. As informações são do jornal O Estado de SP
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