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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Lula saúda juventude e ouve recado para instituições e PT se renovarem

Em seu artigo mensal no jornal New York Times, o presidente Lula falou sobre a voz das ruas nas recentes manifestações brasileiras.

No Instituto Lula ele recebeu jovens de movimentos sociais e de coletivos independentes, onde conversou sobre os movimentos políticos dos últimos meses e também sobre temas como cultura, democracia, política e comunicação. Também estavam lá o governador da Bahia, Jaques Wagner, o secretário de cultura da cidade de São Paulo, Juca Ferreira e membros do Instituto Lula.

Eis o texto no jornal New York Times traduzido:

A mensagem da juventude brasileira



Os jovens, dedos rápidos em seus celulares, tomaram as ruas ao redor do mundo.

Parece mais fácil explicar esses protestos quando ocorrem em países não democráticos, como no Egito e na Tunísia, em 2011, ou em países onde a crise econômica aumentou o número de jovens desempregados para marcas assustadoras, como na Espanha e na Grécia, do que quando eles surgem em países com governos democráticos populares - como o Brasil, onde atualmente gozamos das menores taxas de desemprego da nossa história e de uma expansão sem precedentes dos direitos econômicos e sociais.

Muitos analistas atribuem os recentes protestos a uma rejeição da política. Eu acho que é precisamente o oposto: Eles refletem um esforço para aumentar o alcance da democracia, para incentivar as pessoas a participar mais plenamente.

Eu só posso falar com autoridade sobre o meu país, o Brasil, onde acho que as manifestações são em grande parte o resultado de sucessos sociais, econômicos e políticos. Na última década, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos de famílias pobres. Nós reduzimos drasticamente a pobreza e a desigualdade. Estas são conquistas importantes, mas é completamente natural que os jovens, especialmente aqueles que estão obtendo coisas que seus pais nunca tiveram, desejem mais.

Esses jovens não viveram a repressão da ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970. Eles não convivem com a inflação dos anos 1980, quando a primeira coisa que fazíamos quando recebíamos nossos salários era correr para o supermercado e comprar tudo o possível antes de os preços subirem novamente no dia seguinte. Lembram-se muito pouco da década de 1990, quando a estagnação e o desemprego deprimiu nosso país. Eles querem mais.

É compreensível que assim seja. Eles querem que a qualidade dos serviços públicos melhore. Milhões de brasileiros, incluindo os da classe média emergente, compraram seus primeiros carros e começaram a viajar de avião. Agora, o transporte público deve ser eficiente, tornando a vida nas grandes cidades menos difícil.

As preocupações dos jovens não são apenas materiais. Eles querem maior acesso ao lazer e a atividades culturais. Mas, acima de tudo, eles exigem instituições políticas que sejam mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil, que recentemente se mostraram incapazes de gerir a reforma. A legitimidade dessas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível atendê-las rapidamente. É preciso primeiro encontrar recursos, estabelecer metas e definir prazos.

A democracia não é um compromisso de silêncio. Uma sociedade democrática é sempre em fluxo, debater e definir as suas prioridades e desafios, em constante desejo por novas conquistas. Apenas em uma democracia um índio pode ser eleito presidente da Bolívia, e um afro-americano pode ser eleito presidente dos Estados Unidos. Apenas em uma democracia poderia, primeiro um metalúrgico e depois, uma mulher serem eleitos presidentes do Brasil.

A história mostra que, quando os partidos políticos são silenciados e as soluções são procuradas pela força, os resultados são desastrosos: guerras, ditaduras e perseguição das minorias. Sem partidos políticos não pode haver uma verdadeira democracia. Mas as pessoas simplesmente não querem votar a cada quatro anos. Eles querem interação diária com os governos locais e nacionais, e querem participar da definição de políticas públicas, oferecendo opiniões sobre as decisões que os afetam a cada dia.

Em suma, eles querem ser ouvidos. Isso cria um enorme desafio para os líderes políticos. Exige as melhores formas de engajamento, através da mídia social, nos espaços de trabalho e nos campi, reforçando a interação com grupos de trabalhadores e líderes da comunidade, mas também com os chamados setores desorganizados, cujos desejos e necessidades não devem ser menos respeitado por falta de organização.

Tem-se dito, e com razão, que enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas utilizassem as novas tecnologias de comunicação como instrumentos de diálogo, e não para mera propaganda, eles iriam respirar ar fresco em suas operações. E seria mais eficaz trazê-los em sintonia com todas as partes da sociedade.

Mesmo o Partido dos Trabalhadores, que ajudei a fundar e que tem contribuído muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista.

A boa notícia é que os jovens não estão conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que pensam que odeiam a política estão começando a participar. Quando eu tinha a idade deles, nunca imaginei que me tornaria um militante político. No entanto, acabamos criando um partido político quando descobrimos que o Congresso Nacional praticamente não tinha representantes da classe trabalhadora. Através da política conseguimos restaurar a democracia, consolidar a estabilidade econômica e criar milhões de empregos.

É evidente que ainda há muito a fazer. É uma boa notícia que os nossos jovens querem lutar para garantir que a mudança social continue em um ritmo mais intenso.

A outra boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff propôs um plebiscito para realizar as reformas políticas que são tão necessárias. Ela também propôs um compromisso nacional para a educação, saúde e transporte público, em que o governo federal iria fornecer apoio técnico e financeiro substancial para estados e municípios.

Ao conversar com jovens líderes no Brasil e em outros lugares, eu gostaria de dizer-lhes o seguinte: Mesmo quando você está desanimado com tudo e com todos, não desista da política. Participe! Se você não encontrar em outros o político que você procura, você pode achá-la em si mesmo.

Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente do Brasil, que agora trabalha em iniciativas globais com o Instituto Lula.

2 Comentários:

ALFS disse...

O PT, PRECISA MUDAR
O BRASIL PRECISA MUDAR
TODOS PRECISAM MUDAR

BRASIL,
- PAIS RICO E JUDIADO.
PRECISAMOS MUDAR DRASTICAMENTE, E SÓ TEM UMA SOLUÇÃO, O BRASIL TOMOU UM CAMINHOTÃO ERRADO, QUE SE INSISTIRMOS EM LEVALO ADINTE SO VAI PRODUZIR DESASTRES, PORTANTO, TEM QUE FRACIONA-LO, RACHANDO O TERRITIRIO BRASILEIRO EM DOIS OU TRES,TERRITORIOS MENORES FICA MAIS FACIL DE ADMINISTRAR E FISCALIZAR, CADA UM DOS TRES REGIDO POR UM SISTEMA DE GOVERNO QUE LHE FOR MAIS COMPATIVEL COM SUA ECONOMIA E CIVILIZAÇÃO CULTURAL, CRIANDO UMA ORLA DE PROTEÇÃO EM VOLTA DOS TRES PAISES, LHES DANDO SUSTENTAÇÃO PARA AUTO DESENVOLVIMENTO, AI SIM, A CAVERNA DA RATAZANA VAI SER DESFEITA. PAIS SUL, PAIS SUDESTE E PAIS NORDESTE, AMBOS GEOGRAFICAMENTE COM MARGENS IGUALITARIAS EM TERRA E MAR.
DIVULGUE ESTA IDEIA, POIS E UMA QUESTRÃO DE AMOR AO PATRIMÕNIO QUE E NOSSO.
SIMPLES, DIVIDIR PARA FORTALECER.
EU FICO ONDE ESTOU, NA PARTE DO SUDESTE.CADA HABITANTE FICA ONDE ESTA COMFOME JA ESTA DESCRITO NAS PLANILHAS DEMOGRAFICAS DO IBGE. SEM PREJUIZO SEM ALTO CUSTO COM UMA MUDANÇA GERAL EM ESFERA MINDIAL, AFINAL, E A LEI NATURAL DA FISICA, QUE QUANDO CRESCE TEM QUE DIVIDIR PARA ADMINISTRAR MELHOR.
ESSA DECISÃO NÃO E DE GOVERNOS, E DO POVO NA SUA TOTALIDADE, E A FERRAMENTA E ESTA, A INTERNET.
VAMOS COMEÇAR A PARTIR DAQUI?

Emílio disse...

Alguém tem o link do artigo original do Lula no NYTimes? Não consigo encontrar.

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