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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Quem não gosta de partido é ditadura



Quem não gosta de partido é ditadura. Hora de escolher: ou dar as mãos aos skinheads neonazistas ou abraçar a tolerância e a democracia.Os que aplaudem a massa reprimindo militantes, tendo na “vanguarda” neonazistas, têm partido, sim: o Partido da Intolerância, o Partido do Ódio. Já vimos esse filme.
 Nazifascistas brasileiros dos anos 1930, os integralistas também batiam em militantes de partidos

 A mão intolerante que empunha o punhal é de um integralista

Como observado segunda-feira na passeata dos mais de 100 mil, os protestos populares em curso constituem terreno de ferrenha disputa política entre os próprios manifestantes (leia reportagem aqui). O confronto degringolou ontem, na despedida do outono. No país inteiro, militantes portando bandeiras, estandartes e símbolos de partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos sociais foram escorraçados por uma turba intolerante.

Em São Paulo, os principais executores dessa modalidade de repressão política foram os skinheads, os “carecas” neonazistas. Botaram para correr quem vestia camisa vermelha, rasgaram bandeiras de agremiações e arrancaram faixa do movimento negro. São racistas e homofóbicos. No Rio, essa turma agride, fere e mata gays.

Na Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938, a escória nazista atacou os judeus por toda a Alemanha, insuflada por Adolf Hitler. No dia 20 de junho de 2013, foi a vez de ativistas de esquerda serem o alvo, no Brasil.

Não está em debate o mérito do partido X ou Y, no governo ou na oposição, menos ou mais comportado. Nem se um sindicato representa dignamente ou não seus filiados. Ou mesmo se os imensos protestos resultam de força ou fraqueza de uma ou outra sigla _as opiniões são legítimas sobre todas essas questões. O que se discute é o direito democrático de seus integrantes participarem das manifestações.

Desde os primeiros atos do Movimento Passe Livre, duas semanas atrás, os partidos tiveram direito de estar presente. No Rio, foi assim há quatro dias. Se outros chegaram ontem, é também seu direito, porque inexiste veto dos organizadores dos protestos, onde se sabe quem são eles.

Como se disseminou um robusto sentimento antipartidos, sobretudo na classe média, os neonazistas capitalizam frustrações e comandam os ataques. É legítimo rejeitar siglas, tomar distância delas e derrotá-las nas urnas. Impedir sua expressão é mania de ditaduras.  Além de ser irônico que determinadas agremiações, cuja militância foi decisiva na construção do movimento contra o reajuste das tarifas, sejam agora reprimidas.

Não deixa de ser curioso: quem protesta contra algumas covardias policiais agride covardemente quem não concorda com suas ideias. A faixa “Meu partido é meu país” é tão legítima como a do partidinho mais mequetrefe. Todos têm direito de se manifestar.

Em 1935, o presidente Getulio Vargas colocou na ilegalidade uma frente de esquerda, a Aliança Nacional Libertadora. Com o golpe de 37, instaurando a ditadura do Estado Novo, baniu o centro, a direita e a extrema direita. Em 47, a Justiça cassou o registro do PCB, e no ano seguinte seus parlamentares, eleitos pelo voto popular, tiveram os mandatos cassados.

A ditadura implantada em 1964 aboliu os partidos do regime democrático restabelecido em 1945-46, inclusive aqueles, como UDN e PSD, que colaboraram para a deposição do presidente constitucional João Goulart, cuja base tinha entre outros o PTB e o PSB.

Durante aquele tempo de trevas, a ditadura descaracterizou o Congresso, impondo cerca de uma centena de cassações de deputados e senadores do MDB. Triturou a Frente Ampla de Jango, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek.

As ditaduras, do Estado Novo à de 1964-85, mataram militantes que batalhavam pelo direito de existência e expressão de partidos. Eles são mártires da democracia e do país.

A União Nacional dos Estudantes, outro alvo da malta, teve um presidente, Honestino Guimarães, assassinado pela ditadura. A ditadura que matou e sumiu com o corpo do líder estudantil, em 1973, impedia a livre organização partidária. Trucidava quem queria se organizar.

Essa mesma ditadura sofreu uma derrota dura com a formação da CUT, em 1983. As outras centrais sindicais são igualmente legais e legítimas, simpatizemos ou não com elas. Em 1979, o operário Santo Dias foi assassinado com um tiro da polícia. É a memória de gente como ele que é insultada quando fascistoides proíbem os sindicalistas de se manifestar. Como no Rio, rasgando seus panfletos.

É impressionante que certos analistas políticos vibrem com a pancadaria contra bandeiras partidárias, mas não apresentem uma só restrição às ações neonazistas. Impressiona, mas não surpreende: eles apoiaram a ditadura, a intolerância está em seu DNA.

Condenável é partido aparelhar movimentos e protestos, impondo sua agenda particular às reivindicações coletivas. Isso é partidarismo. Mas a presença de agremiações políticas é uma tradição democrática, e muito o Brasil deve a elas. Esqueceram que na Campanha das Diretas (1984) e no Fora, Collor (92) as bandeiras tremulavam nos comícios? Nos palanques, uniam-se dirigentes de partidos para todos os gostos e muita gente que não ia com a cara deles, mas estava unida para melhorar o Brasil.

Os que aplaudem a massa reprimindo militantes, tendo na “vanguarda” neonazistas, têm partido, sim: o Partido da Intolerância, o Partido do Ódio. Já vimos esse filme.

Os provocadores que espalham a baderna, fração ultraminoritária das manifestações, não são os militantes partidários, mas os skinheads, alguns ditos punks e outros ditos anarquistas, que de anarquistas nada têm. Os militantes partidários não promoveram vandalismo, mas foram alvo deles _tomar, rasgar e queimar bandeira é ato de vândalo.

Os protestos em curso, que arrancaram bravamente a redução das tarifas dos transportes públicos, exibem algumas características novas. Uma delas é que reúnem no mesmo evento quem, em 1964, participaria da Marcha da Família, de direita, e em 1968, da passeata dos 100 Mil, dirigida pela esquerda, contra a ditadura. Daí que o ódio dos neonazistas encontre ressonância.

Quem não tem legitimidade para participar dos atos são essas facções que ontem agrediram os militantes políticos, sindicais, estudantis e sociais. São os herdeiros da Ação Integralista Brasileira, a tradução tupiniquim para o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, na década de 1930.

É legítimo amar e odiar os agredidos de ontem. Nada mais natural do que achar que um e outro são oportunistas _o que não falta no mundo é oportunista. Mas quem não gosta de partido é ditadura.
 - Matéria extraída do blog de Mário Magalhães

1 Comentários:

joaquim urias sobrinho disse...

VAMOS ÀS RUAS

Ontem estive na Paulista na manifestação do MPL-Movimento Passe Livre, atendendo à convocatória da Executiva Municipal. Dois fatos me chamaram a atenção: primeiro, a presença de grupos que nada tinha a ver com o grosso dos manifestantes, me fez lembrar os famigerados CCC´s (Comando de Caça aos Comunistas) da época da ditadura, segundo, as palavras de ordem contra os partidos, o que é um retrocesso no processo de democratização brasileira.
A esquerda não pode se acovardar, temos que nos mobilizar em defesa da democracia e das conquistas dos governos populares nas cidades e dos 10 anos de governo Lula e Dilma.
Aqui em São Paulo no governo da companheira Marta conquistamos os CÉU´s, o Vai e Volta, o uniforme escolar, o Bilhete Único, os corredores de ônibus, os terminais, o Projeto Centro de Bairros, que levou esporte, lazer e cultura à periferia. A nível federal houve a inclusão social de milhões de brasileiros, a chamada Nova Classe Média, o Bolsa Familia tirou milhões de famílias da miséria, a expansão das universidades federais, o Pro Uni, as cotas nas universidades, os menores juros da economia, o acesso ao financiamento para as classes de baixa renda e o rebaixamento dos juros bancários foram políticas públicas que honram os partidos de esquerda. Devemos lembrar aos jovens que estão na rua que muitos companheiros e companheiras deram a vida, enfrentando a Ditadura, para que eles tenham hoje o direito de se manifestar. E não foram balas de borracha, foram balas de chumbo.
A inclusão social, a melhoria da renda, levam a população a ansiar por melhores moradias, melhores serviços na área de educação, saúde, transportes, cultura, lazer e segurança. Nossos governos têm que estar atentos a estes anseios.
O pior cenário para a esquerda é quando o povo não consegue diferenciá-la da direita.Na Espanha o PSOE(Partido Socialista Operário Espanhol) não levou a sério as manifestações populares e nas eleições de 2012 foi fragorosamente derrotado pelo PP(Partido Popular).
O PT tem contribuído, e muito, para este cenário. As alianças com Maluf e Kassab em São Paulo, com a família Sarney no Maranhão e Fernando Collor em Alagoas, contribuíram para criar na população um total descrédito quanto a representatividade política e o afastamento de petistas históricos das atividades partidárias.
Outro desafio é o pragmatismo eleitoreiro do partido nos últimos anos. O PT não se organiza internamente para os novos desafios da atual conjuntura e não consegue renovar seus quadros . Sua atuação está totalmente voltada para as eleições. Seria interessante que nossos parlamentares aderissem a unificação eleitoral , com eleições gerais a cada 4 anos. Ninguém mais aguenta eleição de dois em dois ano. Devemos debater com a população a Reforma Política com o financiamento público de campanha e o voto em lista. Diante deste quadro nossa agenda é organizar os partidos de esquerda, os movimentos sociais e sindicais, e todos que acreditam na democracia, para fazermos grandes manifestações e defendermos as conquistas dos últimos 10 anos à frente do governo federal e neutralizarmos a tentativa da direita de desestabilizar nossos governos.

21/06/2013

Joaquim Urias – membro da Executiva do DZ Capela do Socorro
e-mail: urias.js@gmail.com

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