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sábado, 23 de junho de 2012

Paraguai: Dessa vez a crise é nossa; os yankees apenas assistem de camarote

É natural que os EUA sejam simpáticos a troca de um governo popular latino-americano pela velha guarda submissa, mas desta vez não adianta tapar o sol com a peneira e esconder nossas vulnerabilidades, nem desviar o foco só apontando o dedo para os estadunidenses.

Não é por virtude, e sim por esperteza que não havia interesse maior dos EUA neste golpe neste momento. A guerra-fria já acabou, e hoje os EUA se movem mais pelo interesse nos negócios e militares. O Paraguai não era um alvo estratégico para os EUA a curto prazo, nem Lugo representava nenhuma grande ameaça no contexto sul-americano. Pelo contrário, o golpe lá fortalece todos os demais governos nacionalistas latino-americanos, em especial dá munição para a reeleição de Hugo Chavez, na Venezuela, este sim um país de maior interesse estratégico para os estadunidenses. Fosse um golpe armado pela CIA, esperaria as eleições venezuelanas de 7 de outubro passar. Os falcões estadunidenses teriam que ser aloprados para se envolverem em tamanha trapalhada.

Fala-se muito em base militar yankee no Paraguai, porém também é insensato pensar que os EUA compraria briga com o Brasil, para instalar uma base lá, de efeito prático duvidoso. Isso só afastaria mais o Brasil, levando-o a ampliar laços, inclusive militares, com os BRICS, sobretudo com os rivais dos EUA, China e Rússia.

Tampouco é tão importante assim a tão falada pista de pouso no Chaco, mesmo sem base militar. O Paraguai é cercado por todos os lados, o que obrigaria a invadir o espaço aéreo de algum outro país para usar tal pista. Obviamente os EUA tem força militar suficiente para se lixar para isso, mas violar a soberania do espaço aéreo traz implicações políticas. Só faria isso se estivesse em guerra direta com algum dos vizinhos. Nesse caso a máquina de guerra convencional estadunidense se apoia em porta-aviões para ataques aéreos e disparam mísseis teleguiados de longo alcance da frota da marinha. Tal pista seria irrelevante para uma super-potência bélica. Ela teria sua importância apenas para guerras regionais entre países sul-americanos.

O Paraguai também não é nenhum parceiro econômico estratégico dos EUA. Não produz petróleo, não exporta quase nada para os EUA, importa mais do Brasil e da China do que dos EUA (e é um valor insignificante para eles), não tem dívida externa significativa, por isso não representa risco de perdas aos bancos estadunidenses, e as grandes corporações não tem grandes investimentos lá, apenas interesses localizados. Mesmo no agronegócio, a política dos EUA ainda é protecionista a seu mercado interno, investindo em subsídios aos produtores estadunidenses, em vez de importar a produção dos países pobres. Há apenas interesses localizados de multinacionais do ramo, mas nada que influenciasse o departamento de Estado e os serviços de inteligência a patrocinar um golpe como este.

Quem tem maior interesse a curto prazo no agronegócio paraguaio, além de oligarcas brasileiros e dos outros países vizinhos, é a China, que por sua vez tem um sério contencioso político com o Paraguai, pois é um dos poucos países que priorizam as relações com Taiwan, atitude não aceita pela China.

Com o golpe consumado, obviamente os EUA procurarão ocupar espaços e tirar proveito se aproximando do novo governo e talvez até suprindo-o com alguma forma de "ajuda" (buscando gerar dependência), mas fará aproveitando as brechas e os erros dos outros, sem afrontar os passos institucionais rejeitados pelo Brasil e pelos órgãos multilaterais da américa latina. O governo brasileiro precisará ter muita habilidade para não endossar golpistas e, ao mesmo tempo, evitar que o vizinho se torne uma ilha de dependência das políticas do século passado.

Para complicar, Lugo reclamou mas acatou o resultado do impeachment em discurso. Eis um trecho:
"Hoje não é Fernando Lugo que recebe um golpe. Hoje não é Fernando Lugo que é destituído. É a história paraguaia, sua democracia, que foi ferida profundamente. Foram transgredidas todos os princípios da defesa, de maneira covarde, de maneira traiçoeira, e espero que seus executores tenham em conta a gravidade de seus feitos.
Como sempre atuei no marco da lei, embora essa lei tenha sido torcida como um frágil ramo ao vento, me submeto à decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre por meus atos como ex-mandatário nacional."
Assim, quando não há resistência nem do mandatário deposto, fica difícil não respeitar a auto-determinação dos povos (apesar de não ser exatamente do povo e sim da oligarquia). Sem Lugo resistir, as pressões estrangeiras se limitarão à moções de repúdio e censura ao processo sumário, a menos que surja alguma revolta popular. Haverá uma má relação política com um governo que chegou ao poder de forma trapaceira, pelo menos até que se façam as novas eleições, mas será difícil ir muito além disso, pois senão vira intervenção estrangeira.

O fato é que, desta vez, os golpistas foram a oligarquia paraguaia, e os "yankees go home" são, em grande parte, também os latifundiários brasileiros que exploram o agronegócio lá, onde as terras são mais baratas e é mais fácil impor a lei do mais forte para fazer grilagem de terras, explorar mão de obra informal e barata ou escrava, violar leis ambientais, sonegar impostos e até cultivar produtos ilícitos. É com essa realidade que precisamos lidar.

14 Comentários:

Probus disse...

Quer dizer que a TRÍPLICE FRONTEIRA, a USINA de ITAIPU e o AQUÍFERO GUARANI não representam nada pra você Zé Augusto???

LaSinistraBento disse...

Sem dúvida, um golpe para mudar para o que sempre foi. Ou, para que tudo continue igual. Os latifundiários brasileiros, que são donos da maioria das terras Paraguaias(as que servem para alguma coisa)só se reafirmaram no poder real. Como aqui.

LaSinistraBento disse...

Mais um GOLPE para que tudo continue como está, ou seja, mandam os latifundiários brasileiros e obedecem os escravos Paraguaios. Depois do genocidio do século XIX éa situação normal.

VERA disse...

Discordo!!!
Acho que o Azenha é quem tem razão!!!
Os ianques estão sim interessadíssimos no petróleo, nas águas do aquífero Guarani, na biodiverdidade e na colocação de bases nos países da América do Sul!!! Como o Lugo era uma pedra no meio do caminho, tiraram o Lugo!!!

Jbmartins-Contra o Golpe disse...

É o neocolonialismo, agora faminto pelo controle direto ou indireto das riquezas do século 21: petróleo, terras, água doce, biodiversidade.

jose ricardo disse...

A supor por esforço de contra-argumentação que o raciocínio desenvolvido aqui esteja correto, o Brasil não pode se abstrair ou contornar as sanções previstas e cláusulas pétreas do Mercosul e da Unasul no que diz respeito à premanência do Paraguai nestas instituições. Sejam cumpruidas as regras e, não havendo mais obstrução, aceita-se a Venezuela no Mercosul.

jose ricardo disse...

A supor por esforço de contra-argumentação que o raciocínio desenvolvido aqui esteja correto, o Brasil não pode se abstrair ou contornar as sanções previstas e cláusulas pétreas do Mercosul e da Unasul no que diz respeito à premanência do Paraguai nestas instituições. Sejam cumpruidas as regras e, não havendo mais obstrução, aceita-se a Venezuela no Mercosul.

Anônimo disse...

Você acredita mesmo na neutralidade e desinteresse dos E.Unidos? Tá faltando conhecimento da atuação dos yankees no mundo e visão crítica do golpe no Paraguai.

João Paulo Ferreira de Assis disse...

O problema é de difícil solução. Tenho para mim que o golpe já foi dado quando os constituintes paraguaios deixaram o conceito de mau desempenho das funções de presidente da república AMBÍGUO o bastante para que por qualquer bagatela um presidente que não lhes agradasse pudesse ser afastado. Sou de parecer que a Presidenta Dilma antes de tomar uma decisão deveria mandar estudar a constituição paraguaia para ver se cabe sanções. Pois se a lei paraguaia é ambígua e o presidente foi afastado em função dela, não cabe represálias, ainda mais que o próprio presidente deposto desestimulou a resistência dos seus partidários, ao aceitar passivamente a destituição.

Anônimo disse...

Como faço para comentar de forma clara e nominal se não tenho facebook, twiter, não reconheço esses outros perfis que não seja o "anônimo"? Se vocês não publicam comentários de anônimos por que colocá-la como forma alternativa?

Anônimo disse...


Vc da entender que não sabe da historia do gavião
e o Tico tico.
Depois de um dia de caça os dois foram dormir,depois de um tempinho o gavião perguntou ao tico tico, uai compade ose dorme com um soio so?
É compade quando o amigo não é certo um fecha
o outro regaldo e deu no pé...
Zé se vc gosta de predadores fique proce...

Anônimo disse...

Até parece que foi embaixador americano que escreveu este artigo. Ele é uma resposta ponto por ponto do artigo do Azenha. Minha opinião. Tem gringo na linha.

Anônimo disse...

Azuir Disse:

Temos de apoiar Lupo para poder continuar na Luta Política, poder se candidatar a Senador, poder até formar um Partido Tipo dos Trabalhadores pois a Luta continua pra formar a Consciência somar as forças e Libertar o Paraguai.

O Paraguai é nosso irmão, temos de sentir no coração e pedir a Deus para evoluir. mudar.
Eles merecem a Liberdade, condições de dignidade, e toda Paz pra dos bens da terra desfrutar.

O PARAGUAI É NOSSO IRMÃO, GOLPE INDIGNO NÃO PASSARÁ.

Tem de ter a Democracia, e Governo eleito defender.
Com Respeito e harmonia, com povos irmãos conviver.
Não queremos confusão, mais queremos muito ajudar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Seu Povo irmão é Sagrado, tem da democracia defender.
Tem de ser Unido e dedicado, para nenhum golpe haver.
Valorizando cada eleição, e o voto do povo respeitar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Estamos acompanhando, torcendo para o entendimento.
O Povo vai se mobilizando, isso é seu posicionamento.
Ao Povo a Lei e condição, e necessidades não passar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Temos de ouvir o divino, em Justiça Direito e amor.
Com Bom Jesus Menino, e o respeito ao trabalhador.
Não pode ter é exploração, que faz a Deus desagradar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

A convivência com carinho, por compromisso e dever.
Tem de honrar seu vizinho, não deixar Golpe florescer.
Tem de ouvir e de dar a mão, e todos irmãos a cuidar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Vamos produzir na terra, para todo Paraguai usufruir.
Não vamos fazer Guerra, vamos e aumentar o produzir.
As terras já tendo ocupação, vamos outras terras doar
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Questão terra é universal, não deixemos virar Guerra.
Jesus nos dá o seu sinal, os mansos herdarão a Terra.
Irmanados em decisão, irmão tem do irmão consultar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Terra tem a Função Social, é de sustentar toda gente.
Vamos ouvir o Pai Celestial, fazer partilha decente.
Sem ausência ou omissão, a partilha todos contemplar.
O Paraguai é Povo Irmão, o Golpe indigno Não Passará.

Azuir Filho e Turmas de Amigos: do Social da Unicamp, Campinas, SP,de Rocha Miranda, Rio de Janeiro, RJ e de Mosqueiro, Belém do Pará

Zé Augusto disse...

Gente, não adianta brigar com os fatos. Esse golpe é rudimentar demais para ter o DNA dos EUA. As sabotagens dos EUA ou são mais sofisticadas ou são truculentas de uma vez. O Lugo continua lá livre para fazer oposição, como favorito para eleger seu sucessor em 2013 e ainda eleger uma grande bancada no Congresso. Nem o Lugo culpou forças estrangeiras. Foi golpe meio no desespero da casa grande paraguaia, com apoio dos brasilguaios, de olho nas eleições de 2013. As análises do Azenha seriam boas para explicar o que ocorreu no século passado, e se o golpe fosse diferente. Uma das teorias do Azenha é a do dominó, igual à usada no Vietnan. Então o golpe no Paraguai seria uma contenção à integração sul-americana. Só que o golpe é um tiro no pé para esse propósito, porque basta o Mercosul suspender o Paraguai (deixá-lo fora do direito a voto e veto), para incluir a Venezuela, sem depender da aprovação do Congresso paraguaio. Neste caso os EUA só tem a perder. Também não adianta buscar explicações na Monsanto. Só para dar um exemplo, a Argentina é um mercado maior para a Monsanto do que o Paraguai. Se ela se metesse a patrocinar golpe no mercado menor seria considerada inedônia no maior. O melhor jeito de não ajudar o Paraguai é inventar fantasmas para lutar contra moinhos de vento, em vez de lutar com a realidade nua e crua.

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