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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Esquema Cachoeira é parte do golpe para capturar o poder, falsificando a luta contra a corrupção

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), em artigo, analisa o que há de maior por trás do esquema Cachoeira.

Tarso analisa que os demotucanos e a velha imprensa tentam isolar o esquema como se fosse desvio de conduta de pessoas substituíveis, como o senador Demóstenes Torres, sem atacar o sistema maior do qual o bicheiro Cachoeira era parte, numa máquina onde a velha imprensa e setores demotucanos faziam parte da engrenagem.

E o desafio maior da CPI é desbaratar esse esquema maior.

Eis alguns trechos:
... o esquema Cachoeira não é um simples evento de criminalização de políticos, mas é um vasto esquema de dominação de partidos pelo crime organizado. É um esquema de interferência na agenda política da nação, para falsificá-la e colocá-la a serviço da corrupção e do atraso neoliberal, inclusive usando para isso - criminosamente, portanto - a liberdade de imprensa e os órgãos de imprensa que se prestam para isso.
... não apenas atos isolados de corrupção, mas uma conspiração criminosa que usava a luta contra a corrupção para promover uma corrupção ainda maior, a destruição no atacado do espaço político democrático com falsificação de informações, destruição de reputações, negócios ilegais com bens públicos, articulação com o submundo do crime e aparelhamento do estado para fins ilícitos.
... dar uma nobre função política à CPI, não transformá-la num mero inquérito policial (...) e mostrar que a malha grossa do sistema político, erguido sobre o financiamento privado das campanhas, é o grande alicerce da corrupção no Brasil
... a transformação da corrupção no assunto político principal da República obedece a outros objetivos: transferir à esquerda que governa todas as mazelas do país, para esconder o fracasso político dos governos anteriores, que não só foram ineptos para governar, mas também incompetentes para atacar a corrupção enraizada no Estado, promovida diretamente por setores da iniciativa privada mancomunados com agentes públicos.
Eis a íntegra do texto, originalmente publicado na Carta Maior:




Democracia e falência da moralidade da direita

A melhor forma de ajudar a recuperação da oposição direitista é transformar a CPI num repto moralista, aproveitando a “onda” anti-Demóstenes (a direita quer se livrar dele), apenas invertendo a mão do que vinha acontecendo contra Lula. Com isso deixa de lado a gravidade do que ocorreu: não apenas atos isolados de corrupção, mas uma conspiração criminosa que usava a luta contra a corrupção para promover uma corrupção ainda maior, a destruição no atacado do espaço político democrático. O artigo é de Tarso Genro.

O episódio envolvendo a conversa do Presidente Lula com o Ministro Gilmar Mendes só adquiriu notoriedade e importância, em função do debate político que atravessa marginalmente a sociedade brasileira. Um debate que se faz através de códigos, de discursos não explícitos, de alusões ligeiras a temas relevantes, que refletem visões sobre o estado e o modelo de desenvolvimento em curso e também sobre os efeitos da crise mundial sobre este modelo. O encontro, na verdade, serviu para rememorar posicionamentos anteriores sobre estes dois temas – Estado e modelo de desenvolvimento - que vem marcando a última década. O resto é manipulação política para, mais uma vez, a grande mídia tentar desgastar Lula, o Presidente que iniciou uma grande virada democrática e social no Brasil, contra as idéias da direita conservadora e do neoliberalismo, hegemônicos no período anterior.

A grande mídia tem composto a agenda política do país em torno da questão da corrupção, como nunca ocorrera. É uma agenda importante e permanente do país e muito se avançou, até agora, com as ações do governo federal na Controladoria Geral da União, com a reorganização e a autonomia investigativa da Polícia Federal e, até mesmo, com algumas denúncias fundadas que saíram na grande imprensa, que ajudaram o Ministério Público nas suas tarefas de fiscalização da legalidade. Mas a transformação da corrupção no assunto político principal da República obedece a outros objetivos: transferir à esquerda que governa todas as mazelas do país, para esconder o fracasso político dos governos anteriores, que não só foram ineptos para governar, mas também incompetentes para atacar a corrupção enraizada no Estado, promovida diretamente por setores da iniciativa privada mancomunados com agentes públicos.

A oposição conservadora de matiz neoliberal, que promoveu as privatizações selvagens, que pretendia privatizar a Petrobras, vender ativos públicos que hoje se configuram como “chaves” para enfrentar a crise - como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil - a mesma oposição que defendia e defende uma política externa de subserviência aos EUA (e não relações de cooperação interdependente com soberania) -esta oposição - tinha adquirido através da campanha midiática, formalmente contra a corrupção, a condição de paradigma da moralidade. 

O processo teve realmente efeito em vastos setores das classes médias, mas o povo de baixa renda, que ganhou com o emprego, com a renda, com o Pronaf, com o Prouni, com os aumentos reais do salário mínimo, com as centenas de obras públicas, com o bolsa-família, não se enganou. O moralismo udenista voltou-se contra a própria direita e a sua saída agora é recuperar o mensalão.

Esta falência “múltipla dos órgãos” oposicionista tem conseqüências negativas e positivas para a democracia. Negativas, porque ajuda a campanha contra os partidos e a esfera da política, contra os políticos em geral que, “na sua maioria, estão aí para roubar”, como disse recentemente um conhecido jornalista. A afirmativa permitiria qualquer um dizer que “todos os jornalistas estão aí para mentir e manipular informações”, o que em ambos os casos não é verdade. 

A falência oposicionista, neste momento, também tem conseqüências positivas, pois o debate sobre ética pública, que está em curso, pode abrir espaços para uma discussão de fundo sobre a questão democrática: debate que também pode incidir sobre a recuperação das funções públicas do Estado e sobre o sistema político vigente. Se esquerda que apóia Lula e Dilma acordarem uma agenda mínima, unitária, sobre a reforma política e, ao mesmo tempo, utilizarem a CPI para fazerem um trabalho sério e profundo, este episódio da CPI pode se tornar um grande evento republicano.

Um trabalho republicano exige que as investigações e os debates na CPI não sejam pautados pela mídia, que eles tenham foco, que não se preocupem com as colorações partidárias dos envolvidos, porque o esquema Cachoeira não é um simples evento de criminalização de políticos, mas é um vasto esquema de dominação de partidos pelo crime organizado. É um esquema de interferência na agenda política da nação, para falsificá-la e colocá-la a serviço da corrupção e do atraso neoliberal, inclusive usando para isso - criminosamente, portanto - a liberdade de imprensa e os órgãos de imprensa que se prestam para isso.

A melhor forma de ajudar a recuperação da oposição direitista é transformar a CPI num repto moralista, aproveitando a “onda” anti-Demóstenes (a direita quer se livrar dele), apenas invertendo a mão do que vinha acontecendo contra Lula. Com isso deixando de lado a gravidade do que ocorreu: não apenas atos isolados de corrupção, mas uma conspiração criminosa que usava a luta contra a corrupção para promover uma corrupção ainda maior, a destruição no atacado do espaço político democrático com falsificação de informações, destruição de reputações, negócios ilegais com bens públicos, articulação com o submundo do crime e aparelhamento do estado para fins ilícitos.

Entendo que a esquerda deve pensar que, em todos os partidos, há pessoas - em maior ou menor número- que gostariam de fazer o Brasil avançar na luta contra a corrupção. O udenismo reacionário é que divide o espaço político, entre a oposição “pura” e os “governos corruptos”. Não podemos estabelecer, agora, em função do caso Demóstenes, uma dialética inversa. Ou seja, os que estão no governo são “puros” e progressistas e os que estão na oposição são “falsos moralistas”.

É óbvio que o próprio olhar sobre a corrupção é derivado do lugar social e político que se olha e, segundo esse lugar, a corrupção será vista com mais, ou menos, leniência. Mas há uma questão democrática preliminar, que pode alargar a influência da esquerda e ampliar a base do governo na sociedade: a corrupção pode ajudar a destruir a democracia e também reduzir, ainda mais, as funções públicas do Estado. Esta questão democrática é que deveria ser considerada pela esquerda para dar um destino exemplar à CPI: dar uma nobre função política à CPI, não transformá-la num mero inquérito policial que, de resto, é o espaço real de construção da persecução criminal. Apurar rigorosamente todos os fatos (que servirão para o Ministério Público cumprir as suas funções) e mostrar que a malha grossa do sistema político, erguido sobre o financiamento privado das campanhas, é o grande alicerce da corrupção no Brasil. 

(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul.

2 Comentários:

Valdirio Guerra disse...

Alguém já viu guerra de travesseiro, voando penas para todo lado?

Pelo visto vamos assistir uma igual na CPMI só que sem os travesseiros.

PAGOT SE COLOCA À DISPOSIÇÃO PARA FALAR À CPI DO CACHOEIRA

http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/cpi-cachoeira/noticias/0,,OI5824581-EI20308,00-Pagot+se+coloca+a+disposicao+para+falar+a+CPI+do+Cachoeira.html

José Carlos Lima disse...

Ao ler o título me lembrei que em 2002 o jurista Dalmo Dallari alertou a nação sobre o risco que seria para a democracia e para o combate contra a corrupção a indicação de Gilmar Mendes para o STF. E falando em STF, será que algum dos ministros da Suprema Corte terá condições de, em respeito à sua consciência de juiz, assim como ocorreu com o processo do mensalão tucano de MG, pedir vistas nos autos assim como fez o ministro Dias Tofolli? Por sinal mais antigo e que envolve 5 vezes mais o valor do caixa 2 petista? No processo contra Azeredo havia um comprovante de que o tucano havia recebido mais de 4 milhões de reais não contabilizados. Referida prova já havia sido atestada por diversas perícias quando o ministro Dias Tofolli pediu vista nos autos para analisar esta prova material incontestável. Como se sabe, os tucanos estão se safando destes casos através de perícias de araque, os Molinas da vida estão por aí. Enfim, será que algum ministro, diante de uma situação de dúvida, pedirá vistas nos autos neste julgamento montado pelo pig para virar palanque eleitoral. Será que algum ministro(a) terá coragem de peitar o pig e, em respeito à sua própria consciência de juiz, pedirá vista nos autos. Ao fazer isso, o ministro estaria fazendo jus à sua independência de magistrado? Quem há de? Claro que o pig comerá uma campanha, desde já, amedrontando e ameaçando ministro que possa vir a fazer isso, tal como ocorreu com esta campanha onde os ministros foram acusados de terem sido seviciados por Lula, ilações feitas por Gilmar Mendes e cia mas prontamente negados mas que, é claro, serviram de pressão sobre um STF transformado em vitrine fragilíssima.

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