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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Noblat defende bandalheiras do CQC ou do filho que trabalha lá?

Humor de Chico Anysio e Cascatinha:
- Meu garoto!
- Meu paipai!

Nada contra o humor do CQC, mas humor tem lugar e hora, e saber disso não tem nada a ver com censura.

Alguém gostaria que o CQC fizesse palhaçada na cobertura dos trabalhos dos bombeiros em um incêndio? Ou com médicos e enfermeiros, atrapalhando o corre-corre de um pronto-socorro e com gente sofrendo ali para ser atendida? Ou enfiando microfones em frente músicos durante a execução de uma sinfonia? Ou tirando a concentração de atletas momentos antes de disputar uma medalha Olímpica? E que tal fazer perguntas engraçadinhas a dois mestres do Xadrez durante uma disputa?

Pois é, todo mundo gosta de humor na hora de relaxar, mas ninguém gosta de ter o suor de seu trabalho sério interrompido e atrapalhado para se tornarem figurantes involuntários de programas humorísticos, para os outros ganharem dinheiro às custas do prejuízo alheio.

O CQC tem entrado em entrevistas coletivas de imprensa organizadas com cerimonial rigoroso, como é o caso do Itamaraty, e que tem esquemas de segurança rígidos, sobretudo quando envolve autoridades estrangeiras e, por provocar tumulto e até assustar seguranças no caso de estrangeiros que não os conhecem, a entrevista é interrompida, impedindo os verdadeiros jornalistas de fazerem perguntas e obterem informações para seus leitores/telespectadores.

O caso gerou protestos no sindicato dos jornalistas, pedindo que separem credencial de jornalista de credencial de humorista.

Um jornalista-blogueiro, Ricardo Noblat, tomou as dores do CQC. Ele é livre para ter sua opinião divergente, e a diversidade e o contraditório são bem-vindos. Só deveria avisar ao leitor que seu filho Guga Noblat é produtor do programa.

É de bom tom no jornalismo avisar ao leitor quando há algum conflitos de interesses. Isso não diminui, nem desqualifica o jornalista e sua opinião, apenas coloca as coisas às claras. O leitor sabe ler e tirar suas próprias conclusões. O que desqualifica um jornalista é não informar quando há conflito de interesses.

Eis a nota publicada no Portal Terra e republicada no blog do Noblat com seus comentários:

Sindicato de jornalistas pede ao governo que restrinja trabalho do CQC

TERRA

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal pediu nesta quinta-feira a colocação de limites para impedir que os humoristas do programa da Band Custe o Que Custar (CQC) prejudiquem o trabalho da imprensa em Brasília.

A onda de reclamações que chegou ao sindicato diz respeito ao mais recente episódio, a visita da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.

"Sem desmerecer o trabalho humorístico, consideramos que nossa sociedade carece, em maior grau, de informações de qualidade e, nesse sentido, defendemos sempre a preponderância da atividade jornalística sobre a humorística", justifica o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Brasília em comunicado.

Na mesma nota, o sindicato pede que as assessorias de imprensa dos organismos governamentais, principalmente as da Presidência e a do Itamaraty, "adotem as medidas necessárias para garantir tal preponderância".

Os líderes sindicais alegam que "perante os abusos da equipe do CQC" são necessárias medidas das assessorias de imprensa para garantir as condições de trabalho dos jornalistas. "Não nos consta que em qualquer outro lugar do mundo profissionais do jornalismo e humoristas recebam o mesmo tipo de credenciamento", acrescenta a nota.

O sindicato protestou principalmente pelo incidente provocado pelos humoristas do programa CQC na entrevista coletiva que a secretária americana de Estado concedeu na segunda-feira junto ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.

Segundo os jornalistas que participavam da coletiva, a entrevista foi interrompida quando um dos humoristas do CQC, sentado como sempre nos locais destinados à imprensa, tentou entregar uma máscara de Carnaval a Hillary Clinton.

Os membros da equipe de segurança impediram a entrega e retiraram rapidamente à secretária de Estado da sala de entrevistas diante do protesto de jornalistas e fotógrafos, e de empurrões entre humoristas e comunicadores.

[O sindicato errou: avisada com antecedência, Hillary aceitou receber a máscara, entregue a um dos seus seguranças.]

"Este sindicato recebeu nas últimas horas dezenas de reivindicações relativas à forma como integrantes do programa humorístico CQC se comportaram em coletivas de imprensa e cerimônias governamentais. O episódio mais recente e grave ocorreu na visita da secretária de Estado dos EUA. Esse tipo de comportamento gera vergonha e conflitos que frequentemente prejudicam o bom desempenho dos profissionais de imprensa e muitas vezes precipitam o fim das entrevistas e restrições ao acesso dos jornalistas a autoridades", acrescenta o comunicado.

O sindicato colocou seu departamento jurídico à disposição de jornalistas interessados em processar os humoristas por danos morais e físicos. "Também pedimos aos profissionais do CQC uma reflexão sobre seu modus operandi, para que levem em conta os princípios como respeito e profissionalismo", conclui a nota.

O CQC, que é exibido desde 2008 no Brasil pela mesma produtora do programa na Argentina, chegou a ter proibida a entrada no Congresso Nacional por algumas semanas, mas o Parlamento voltou atrás.

(Comentário meu [do Noblat]: Há muita coisa espantosa em uma nota de um sindicato de jornalistas que pede ao governo para limitar o trabalho do que chama de "humoristas". No caso do CQC, esses humoristas, da forma como atuam, informam tão bem ou melhor do que muitos jornalistas.

A nota foi inspirada pelo corporativismo que domina entidades refratárias à renovação.

O mais absurdo: os jornalistas aprendem que devem sempre ouvir os dois ou mais lados de uma questão. O sindicato não fez isso. O relato sobre o que aconteceu peca pela imprecisão e por distorções criminosas.)

Atualização das 19h05 - O Itamaraty já anunciou que o CQC está proibido de entrar em suas dependências. O Palácio do Planalto informou que o CQC está proibido de acompanhar viagens de Dilma. Quem achar que tais atos são arbitrários e agridem a liberdade de informação, bata às portas do Sindicato dos Jornalistas de Brasília. Ou liberdade de informação e de manifestação de pensamento é monopólio dos jornalistas?

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