Na Assembleia mineira, Zezé faltou à maioria das sessões e abasteceu seus aviões com verba pública
A exemplo do seu antecessor, o suplente de Itamar Franco no Senado Federal e presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Zezé Perrella (PDT), também parece ser um homem de sorte. No ano passado, a três dias do encerramento do prazo para registro de candidaturas, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que só poderia concorrer quem apresentasse a prestação de contas de eleições passadas devidamente aprovadas. Perrella ficou em apuros: as contas de sua campanha a deputado estadual de 2006 foram rejeitadas em todas as instâncias de julgamento possíveis. Mas sua estrela brilhou quando o Ministério Público entendeu que não havia prazo suficiente para rever as inscrições. E Perrella obteve o aval para ser o suplente na chapa de Itamar.
O homem que chega ao Senado no lugar do ex-presidente mineiro não é um poço de austeridade e apreço pela atividade parlamentar, características do cabeça de sua chapa. Eleito deputado estadual no último quadriênio (2007-2010), faltou a nada menos que 89 das 101 reuniões das comissões para as quais foi designado. No primeiro ano de mandato, compareceu a dois terços das reuniões ordinárias e extraordinárias, mas sua participação foi caindo ano a ano, a ponto de marcar presença em apenas 6 das 134 reuniões realizadas de janeiro a setembro de 2010 (as atas do último trimestre ainda não foram publicadas nos Anais da ALMG).
- Garanto que participei das votações mais importantes. Eu não ia à Assembleia para comer melancia e tomar cafezinho - justifica.
Em quatro anos de mandato, Perrella fez cinco pronunciamentos - em um pediu para ser o primeiro a votar porque precisava sair, em dois comentou fatos relacionados ao dia a dia do time de coração. Das 51 proposições que apresentou, 21 eram pedidos de declaração de utilidade pública a entidades. Apesar da pouca presença na atividade legislativa, nem por isso deixou de gastar o dinheiro do mandato - e em alto estilo. Levantamento do GLOBO em um ano e meio de prestação de contas da época em que era deputado mostra que pelo menos R$26,3 mil dos cofres da Assembleia foram usados para pagar o combustível dos dois jatinhos particulares do político. Perrella apresentou notas em valores nominais que variam de R$91 a R$3,6 mil.
- Eu fazia meu deslocamento por toda Minas Gerais de avião. São viagens políticas, visitando prefeitos, levantando obras. Dentro da minha ação política eu podia usar a verba indenizatória com combustível - defende.
Negócios com governo de MG
Entretanto, as voltas no ar com dinheiro público não ocorreram apenas em Minas. A Assembleia mineira o reembolsou por despesas em postos especializados no abastecimento de aeronaves em Salvador, em fevereiro do ano passado. O mesmo ocorreu em Brasília, em novembro de 2009. As duas notas somam R$1,6 mil.
Perguntado se temia ser questionado por seus eleitores pelo uso de dinheiro público para abastecer seus jatos particulares, Perrella respondeu:
- A partir do momento em que é permitido, não tenho nenhum tipo de constrangimento. Se fosse ilegal, eu teria - disse, referindo-se ao decreto da Assembleia de Minas que regula o reembolso de despesas de deputados com veículos e não cita impedimentos a gastos com aeronaves.
Se a presença de Perrella no plenário da Assembleia caiu ano a ano, os negócios da família com o governo de Minas cresceram. Os contratos da Stillus Alimentação, empresa responsável pela alimentação de presos nas penitenciárias de Minas, avançaram de R$5,7 milhões em 2006 para R$27,2 milhões no ano passado. A Stillus está registrada em nome de Alvimar Perrella, seu irmão, com quem Zezé alterna a presidência do Cruzeiro há 16 anos.
No início deste ano, a Secretaria de Defesa Social recebeu uma denúncia dando conta de que o subsecretário do sistema prisional e uma assessora técnica recebiam propina para favorecer a empresa dos Perrella nas licitações. De acordo com a denúncia, credenciais para acesso a jogos do Cruzeiro entravam no pacote. A assessora foi exonerada do cargo, e a denúncia, encaminhada ao Ministério Público de Minas Gerais. Oficialmente, a secretaria atribui a saída da servidora à "incompatibilidade de perfil para a função delegada". Localizada pelo GLOBO, a assessora disse não saber por que foi afastada.
Perrella vê com naturalidade os problemas que enfrenta na Justiça, repete que nunca foi condenado e defende que sejam feitas investigações a respeito da conduta de qualquer cidadão. No ano passado, o Ministério Público colheu depoimento do dono de uma das redes de pizzarias mais tradicionais de Belo Horizonte, que acusa a família Perrella de lotear os restaurantes da Cidade Administrativa, sede do governo mineiro. O político nega relação com os negócios do irmão e diz nem saber onde fica o escritório das empresas.
Nos escaninhos do Tribunal Regional Federal da 1ª Região repousa um inquérito onde os irmãos Perrella estão indiciados por lavagem de dinheiro e evasão de divisas em transações envolvendo jogadores do Cruzeiro. O juízo aguarda análise dos fatos pelo Ministério Público Federal. O cartola diz que "não há provas de crime" e que as vendas foram realizadas "dentro da legalidade".
Semana passada, ele foi convidado a prestar depoimento em novo inquérito, que investiga as circunstâncias da compra de uma fazenda pelo político em Morada Nova, no interior de Minas.
Ao assumir a cadeira no Senado, Perrela chega com o status de integrante número 1 da bancada da bola - e da defesa dos interesses da CBF e dos times brasileiros às vésperas da Copa do Mundo de 2014. Só não poderá ser acusado de insensibilidade social:
- Vou trabalhar para que a cesta básica seja isenta de impostos. Hoje um trabalhador que ganha R$500 gasta isso com alimentação e perde 40% com imposto. Isso é um absurdo - protesta. Informações Globo
1 Comentários:
E o pior é que um traste desse é aliado da Dilma! A nossa presidente ou se impõe ou terá problemas sérios no futuro. É impossível ser aliado de canalhas desse naipe.
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