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sexta-feira, 18 de março de 2011

Comício alienígena de Obama é cancelado

Em vez do comício sem-noção do presidente Obama na praça da Cinelândia, haverá um discurso fechado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Sábia decisão.

Os estadunidenses recobraram, pelo menos em parte, o bom-senso. Fala-se que o evento em praça pública foi cancelado porque os alertas de segurança subiram de nível com a decisão dos EUA de apoiar um bombardeio à Líbia. Isso pode ter contribuído, mas o fator decisivo deve ter sido um possível marketing mais negativo do que positivo, aumentando os alertas é de protestos pacifistas, contra casos de desrespeito aos direitos humanos nos EUA, e contra atitudes imperialistas na política externa contra povos oprimidos.

Além da atitude inapropriada pela cultura política brasileira, o rigor no esquema de segurança tinha tudo para irritar mais do que agradar, até quem quisesse ir ao evento.

A praça tem 10 ruas de acesso e 9 ficariam fechadas. O único acesso seria pela rua ao lado de onde fica o Consulado dos EUA no Rio. Além da proibição de bolsas, guarda-chuvas, isopor, é certo que todos teriam que passar por detectores de metal e, quando a máquina apitasse, muita gente teria sua entrada barrada e ainda seria revistado como suspeito. Alguém mais exaltado que se irritasse por ser barrado poderia acabar preso por desacato à autoridade, aumentando o desgaste.

O esquema de trânsito anunciado era mais para dissuadir do que incentivar as pessoas a comparecerem, com várias ruas fechadas ao trânsito. Até a estação do Metrô na Cinelândia ficaria fechada (!), ou seja, o carioca "para ver o presidente dos EUA" teria que parar em uma estação antes ou depois, andar cerca de 1km ou mais, contornando diversas ruas para chegar à única rua de acesso. Essa logística toda colocava em dúvida se haveria de fato público interessado em passar por essa via-crusis, a não ser manifestantes.

A imprensa noticiou que cartazes seriam proibidos. É óbvio que haveriam grupos de manifestantes barulhentos que levariam cartazes e seriam barrados pela segurança, próximo ao consulado. Essas imagens correriam o mundo, tanto quanto ou mais do que o próprio comício. Marketing negativo.

A imagem que sempre assombra eventos abertos de presidentes dos EUA é a de atentados. No Brasil não existem antecedentes destes e não é da índole brasileira, mas é impossível impedir malucos estadunidentes sem antecedentes de pegar um avião lá como turista e vir buscar seus 15 minutos de fama aqui. Porém, o risco maior de fato seria o contrário: seguranças estadunidenses estressados com estes fantasmas, descarregarem uma pistola em um brasileiro por engano, como aconteceu com Jean Charles na Inglaterra, caso, por exemplo, confundissem uma bolinha de papel com um "ameaçador rolo de fita crepe".

Por tudo isso, "welcome to Rio, Mr. Obama", mas ao Rio como ele é, receptivo sim, mas também politicamente combativo na defesa dos interesses nacionais e solidário com os povos oprimidos por políticas ditatoriais econômicas e bélicas de países imperialistas.

Pegue a Michelle, vá ao Cristo Redentor ver porque o Rio é uma cidade muito mais bonita do que São Francisco. Conheça o povo de verdade na Cidade de Deus, que passa a tomar conta do seu destino, sua rica cultura popular do samba, rap e funk, Vá ao Flamengo, ao Engenhão assistir o Vasco e Botafogo, veja um pôr-do-sol na praia namorando a Michelle, tome uma água de côco. Pena que não chegou a tempo do Carnaval para ir ao sambódromo ou colocar uma máscara de Obama no carnaval de rua e acompanhar anonimamente o bloco carnavalesco Cordão do Bola Preta, ali mesmo na Cinelândia. Relaxe e veja porque o Rio ganhou de Chicago para ser sede das Olimpíadas de 2016. O marketing de conhecer o cotidiano carioca é bem melhor do que um comício alienígena.

O que o governo Dilma tem a ver com isso?

Temos lido cada coisa desatinada por aí, atribuindo ao Itamaraty e ao governo Dilma a idéia de tal comício.

Ora, é óbvio que esse tipo de iniciativa só pode ter partido de marqueteiros da Casa Branca, a contragosto do Itamaraty e do governo Dilma. Do lado brasileiro, quem estava abraçando essa iniciativa era o governador Sérgio Cabral (PMDB/RJ), também acreditando tratar-se de um bom marketing para a cidade e para si.

Já é absurdo acreditar que o governo de lá, com todos os seus receios de segurança, se submeteria a eventos em praça pública do governo brasileiro, se não fosse uma agenda deles.

Mais absurdo é não perceber que nenhuma autoridade federal brasileira participaria de tal evento. Se fosse iniciativa do governo brasileiro, seria um evento conjunto, com a participação da presidenta.

Também não caberia ao Itamaraty, nem ao governo federal, proibir, porque no Brasil democrático é livre o direito de reunião, seguindo os trâmites legais.

A Folha de São Paulo, apesar de não ser nem um pouco confiável, narra descontentamento de Dilma com este comício, e desavenças da diplomacia brasileira e estadunidense na organização da viagem.

Voto contrário aos EUA no Conselho de Segurança da ONU

Também há um grande erro nas análises das relações Brasil-EUA ao não enxergar que a política do Itamaraty continua a mesma que era no governo Lula.

O Brasil acabou de votar contra a posição dos EUA no Conselho de Segurança da ONU, tomando a mesma atitude da China, Rússia, Índia e Alemanha de abster-se na votação da proposta de abrir as portas para bombardear a Líbia.

Segue a íntegra do voto brasileiro, apresentado pela representante do Brasil na ONU, a embaixadora Maria Luiza Viotti:
“Senhor presidente [o embaixador da China Li Baodong]

O Brasil está profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia. Apoiamos as fortes mensagens da Resolução 1970, adotada por consenso por este conselho. O governo do Brasil condenou publicamente o uso da violência pelas autoridades líbias contra manifestantes desarmados e exorta-as a respeitar e proteger a liberdade de expressão dos manifestantes e a procurar uma solução para a crise por meio de diálogo significativo.

Nosso voto de hoje [ontem, dia 17] não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitar os seus direitos.

O Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança, maior participação política, oportunidades econômicas e justiça social. Condenamos o desrespeito das autoridades líbias para com suas obrigações à luz do direito humanitário internacional e dos direitos humanos.

Levamos em conta também o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que deem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea. Somos sensíveis a esse chamado, entendemos e compartilhamos suas preocupações.

Do nosso ponto de vista, o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força, como dispõe o Parágrafo Operativo 4 (OP4) da presente resolução, levará à realização do nosso objetivo comum – o fim imediato da violência e a proteção de civis.

Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos.

Muitos analistas ponderados notaram que importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local. Estamos também preocupados com a possibilidade de que o emprego de força militar, conforme determinado pelo OP 4 desta resolução hoje aprovada, possa alterar tal narrativa de maneiras que poderão ter sérias repercussões para a situação na Líbia e além.

A proteção de civis, a garantia de uma solução duradoura e o atendimento das legítimas demandas do povo líbio exigem diplomacia e diálogo. Apoiamos os esforços em curso a esse respeito pelo enviado especial do secretário-geral e pela União Africana.

Nós também saudamos a inclusão, na presente resolução, de parágrafos operativos que exigem um imediato cessar-fogo, o fim à violência e a todos os ataques a civis e que sublinham a necessidade de intensificarem-se esforços que levem às reformas políticas necessárias para uma solução pacífica e sustentável. Esperamos que tais esforços continuem e tenham sucesso"

12 Comentários:

Maíra disse...

Quem escreveu o artigo da Folha foi o Kennedy Alencar, que trabalha também na Rede TV. Ele é um jornalista muito bom, imparcial, algo raro de se ver na velha mídia.

Morais disse...

Acho que eles deisistiram do discurso do Obama por causa da bolinha de papel, arma perigosíssima usada no Brasil e que os detectores deles não conseguem captar, assim o Obama estaria correndo grandes risco de ter um traumatismo craniano.

Anônimo disse...

Boa tarde,

A tah então humildemente eu estava

correto na minha visão. O Obama

iria dizer (ou vai) O que para

Quem.Cuide da América que aqui a

presidenta Dilma cuida do Brasil e

dos brasileiros.(muito bem por sinal)


Abraços Fraternais / Carlos -Americana

Amilton M. Machado disse...

Morais,
Fantástico!
Você acertou na mosca.

Unknown disse...

Essa da bolinha de papel foi ótima. srsrsr



Documentário - Capitalismo: Uma História de Amor
Qual o preço que os EUA pagam por seu capitalismo?
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Ary disse...

Bom, muito bom. Pelo menos o governo brasileiro não pagará um mico: presenciar um convidado oficial (que chamou Lula de "o cara" e todo mundo adorou!) ser vaiado por meia dúzia de masturbadores imberbes.

Anônimo disse...

Ainda bem que os gringos não são tão burros como estavam parecendo. Obama devia por o autor dessa idéia asnática de comício (na Cinelândia!) no lugar de Bradley Manning e libertar este, pois aquele é muito mais perigoso.

Pena que não poderei conhecer e aplaudir o bondoso extremista de direita estadunidense (lá só há extrema direita e ultra direita).

Será que vão cobrar entrada no Municipal? Seria justo.


Edemar Motta

Anônimo disse...

Que o CEO da indústria de armas estadunidense se limite aos seus interesses. Haja!

armando do prado

José Henrique disse...

Dizem que foi o PT do Rio que sugeriu a mudança, ora quando o PT era oposição criticavam os Yankes e agora querem protege-los. O Estados Unidos continuam a sobretaxar os produtos brasileiros, principalmente o etanol. Fora os yanques.

MauMauquirino disse...

Os documentos divulgados pelo Wikileaks sobre a política externa dos EUA,seja com aliados ou adversários, dão a exata dimensão com quem estamos lidando,eles estão se lixando para o resto do mundo.

Anônimo disse...

Caro Zé Augusto,

Leio em vários locais que Brasil, Rússia etc, na votação sobre a intervenção na Líbia, não votaram CONTRA, apenas se abstiveram. Aliás, Rússia e China, se fosse contra 'de vera', poderiam vetar a resolução autorizativa da tal exclusão aérea.

Como este querido blogue mancheteia Brasil CONTRA, apreciaria um esclarecimento. A transcrição do voto de nossa embaixadora parece 'enrolation', fala, fala e não diz nada.

O Brasil votou CONTRA a imposição de zona de exclusão aérea na Líbia, ou se absteve? Obrigado.


Edemar Motta.

Zé Augusto disse...

Edemar Motta
A posição de abstenção é de não concordar, por isso é contrária.
Pela nota da embaixadora, o Brasil aprovaria uma resolução se não houvesse autorização do uso da intervenção militar externa, que não fosse uma força de paz.
Nenhum país votou contra, porque ninguém apoia Kaddafi violar direitos humanos, fazer presos políticos, e a parte de reprimir com o exército civis desarmados. Por isso não tinha como simplesmente votar contra, porque seria como votar a favor de Kaddafi fazer tudo isso.

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