Esperando Godot

Na peça Esperando Godot, do irlandês Samuel Beckett, os personagens passam o tempo a dialogar sobre banalidades enquanto esperam inutilmente uma figura que nunca chega, o Godot do título. Nos diálogos, sente-se toda a solidão e desolação dos personagens, que tentam comunicar-se, sem sucesso.

Assim está a campanha do tucano José Serra até o momento. Marqueteiros e outros profissionais tentam elaborar o discurso do candidato a partir da leitura de pesquisas e da conjuntura econômica e social do país. Por critérios racionais, recomendam a Serra: "Não bata! Isso tira votos!"

Seria o melhor conselho, se associado a essa postura, Serra dispusesse de um bom programa de governo, de discurso sólido sobre as mudanças que pretende implementar no governo para melhorar ainda mais o Brasil. Ou, como ele disse, fazer o Brasil poder mais.

Mas Serra não tem esse discurso. Todos sabem que os demo-tucanos terceirizaram a elaboração de politicas e das propostas. O discurso agora vem nas colunas de jornais, TVs e rádios, que destilam diariamente doses cavalares de bílis, esbravejando contra o governo e contra o presidente Lula.

Na falta de discurso melhor, a tucanada perfila-se e marcha no ritmo dos mervais, lúcias e mirians, que faz sentido para eles, mas não diz coisa com coisa aos cidadãos comuns.

De outro lado, Dilma beneficia-se das realizações do governo e da popularidade de Lula. Mais que isso, é assessorada por equipe que trabalha coesa e disciplinada. Uma equipe formada e treinada pelo presidente Lula, que ainda exerce a coordenação real, não apenas de seu governo mas também da elaboração da estratégia eleitoral.

E Serra segue esperando seu Godot, ou melhor, seu candidato a vice, que nunca vem. No maior medo de que alguma pesquisa nova indique Dilma na sua frente, agravando os problemas da campanha, Serra ainda enfrenta várias dificuldades de ordem interna.

Tucanos mais antigos, vários deles, tem ressentimentos por antigas desavenças com Serra. FHC disputa com ele e não o perdoa por não ter defendido nunca, seu governo. Tasso imputa a Serra vários problemas que enfrentou no passado.

Do lado dos lideres mais novos a má vontade é ainda maior. Alckmin, Aécio e até Beto Richa sonham em disputar a presidência, avaliam que esta guerra já está perdida e ficariam mais felizes se Serra não atrapalhasse seus planos futuros. De fato, o candidato tucano não terá vida fácil. Quem sabe arruma um vice muito forte que comece a mudar tudo isso.