Incidente Vela já mostrava a cooperação nuclear entre Israel e Africa do Sul

O furo do jornal "The Guardian", publicando documentos secretos da África do Sul, onde revela que Israel tentou vender armas nucleares para o país africano na época do apartheid, reforça a história não oficial em torno do Incidente Vela:

Na década de 1970, a África do Sul enfrentava diversos embargos e sanções, por conta de sua política interna do “appartheid” (de segregação racial).

Nessa época houve uma aproximação armamentista entre África do Sul e Israel, inclusive nuclear, agora confirmada pelos documentos publicados no "The Guardian".

Apesar de ser sabido que Israel dispõe de arsenal nuclear, nunca foi detectado nenhum teste de detonação nuclear em Israel ou nos arredores.

De que forma Israel poderia realmente ter certeza que o design de seu armamento nuclear realmente funcionaria? Isso seria possível se alguma outra nação produzisse alguma espécie de artefato nuclear, segundo o design israelense e o testasse.

No dia 22 de setembro de 1979, às 00:53 GMT, o satélite americano Vela 6911, criado para detectar explosões nucleares espaciais e posteriormente também na atmosfera, detectou um duplo flash, característico em explosões nucleares atmosféricas, sobre o Oceano Índico. Posteriormente, segundo os dados captados e transmitidos ao centro de controle, foi possível determinar a localização de tal evento :

47 graus Sul, 40 graus Leste – Oceano Índico

O local fica próximo às ilhas sul-africanas Príncipe Eduardo, segundo os dados hidro-acústicos. As características da curvatura do flash, indicam que a explosão foi de baixa potência (aproximadamente 3 kilotons). O sinal hidro-acústico indicava uma explosão a baixa altitude. Estas características propiciaram o surgimento das controvérsias sobre a interpretação dos dados.

A África do Sul, à época, negou ter realizado qualquer espécie de teste durante diversos anos, até que finalmente em 1990, devido à forte pressão internacional e à promessa de ajuda financeira, declarou oficialmente possuir armamentos nucleares de defesa, firmando compromisso de desmantelar as armas já fabricadas e como signatária do NPT – Tratado de Não Proliferação, não desenvolver, fabricar, comprar, vender ou auxiliar na fabricação de artefatos nucleares.

Com isso, veio também uma espécie de “confissão” sobre o controverso teste de 1979, onde assumiu ter realizado “sozinha” um teste nuclear de pequenas proporções.

Confirmando que de fato houve um teste nuclear (e acabando com a questão de que os satélites Vela teriam realizado leituras errôneas), a questão era definir realmente se o teste foi realizado somente pela África do Sul ou se foi um teste conjunto com Israel.

Para aumentar ainda mais a controvérsia, em 1994 (após ter cumprido a pena por espionagem), o Comodoro Dieter Gerhardt, um convicto espião soviético, que à época era comandante da Base Naval de Simonstown, revelou em entrevista para o jornal “Johannesburg City Press”, que o flash captado em 1979, pelo satélite Vela, foi produzido na condução de um teste nuclear Israelense Sul-Africano, de codinome “Operação Phenix”, mas que não poderia revelar dados mais precisos, porque ele não esteve diretamente envolvido na operação.

A África do Sul nunca implicou Israel em suas declarações a respeito do seu controverso programa nuclear, mas sabe-se que duas embarcações israelenses se dirigiram ao local captado pelo satélite Vela, logo após a captação dos sinais.