À medida que os bons candidatos desconhecidos ficam mais conhecidos, tendem a subir.
À medida que os candidatos conhecidos se expõem, podem subir ou cair, dependendo das qualidades e defeitos deles.
Dilma subiu, sem sombra de dúvida, em parte pelo fato da população ficar sabendo que ela é a candidata do presidente Lula. Mas também por suas qualidades.
Mas o que explica Serra cair, quanto mais se expõe como pré-candidato na TV, entrevistas de rádio e jornais?
Era para estar subindo também, mesmo que lentamente, ainda mais com a saída de Ciro, cujos votos se redistribuíram.
A resposta é que na avaliação popular, Serra não é bom candidato a presidência da República.
Se Serra fosse um candidato que empolgasse, estaria subindo também, mesmo que fosse lentamente. Então vamos ver alguns motivos.
Evasivas
Do pouco tempo desse período anterior à campanha oficial, verificamos que Serra foge de assuntos polêmicos, sempre com evasivas. Em entrevistas na condição de pré-candidato tenta mudar o rumo do assunto para transformar uma entrevista política em uma mesa redonda de futebol.
É mais ou menos como se o técnico da seleção brasileira concedesse uma entrevista e em vez de falar da seleção, desandasse a desviar o assunto para comentar sobre golfe. O telespectador ficaria irritado e pensaria que o técnico não está à altura do cargo.
Grosserias, sobretudo com as mulheres
Por diversas vezes Serra perdeu a compostura quando perguntado sobre assuntos que lhe incomodam, seja o mensalão do DEM, seja privatizações, seja FHC. Não deixa a pergunta ser concluía, interrompe o jornalista, tenta desqualificar a pergunta ou o próprio jornalista, eleva o tom de voz, usa termos agressivos.
E Serra ainda amplificou o erro ao ser grosseiro justamente com jornalistas mulheres.
O demo-tucano foi grosseiro na RBS com duas jornalistas na mesma entrevista, repetiu a dose com uma repórter da TV Brasil, e sobrou grosseria até para Miriam Leitão, da Globo.
Falta de plano e de rumo, que não convencem
Serra quando questionado sobre segurança pública, se socorre em factóides. Diz que vai criar um Ministério da Segurança Pública, mas não apresenta uma única solução que possa se chamar de plano de governo para o setor.
Depois diz que vai criar uma polícia federal fardada de fronteira, sem noção do monitoramento de fronteiras que já existe e do que está em implantação, inclusive empregando aviões espiões não tripulados; sem noção das dimensões da fronteira seca, da costa marítima e do espaço aéreo, para entender que qualquer "linha Marginot" (linha de defesa construída pela França na fronteira com Alemanha após a I Guerra mundial), seria facilmente contornada, assim como Hitler contornou a linha Marginot, pela Bélgica. E que o combate ao crime organizado, se dá com operações como as da Polícia Federal, investigando as rotas e redes e desbaratando as organizações criminosas.
Quando as polícias civis de cada estado do Brasil passarem a atuar nos moldes da Polícia Federal, inclusive com melhorias salariais, a Segurança Pública melhorará drasticamente. Mas Serra não fez nada disso na Polícia Civil paulista, que esteve sob seu comando.
A população tinha expectativa que Serra descrevesse sua experiência como governador, do estado que tem o maior contingente policial do Brasil. Que apontasse as soluções que promoveu (se houvesse) e algum rumo. A clara impressão que fica é de alguém que foge do assunto, para esconder o que foi só fracasso no passado, em seu currículo.
Embalagem enganosa cujo conteúdo decepciona
A imprensa incensou Serra como o mais "preparado", "capacitado", "brilhante", como se fosse uma sumidade em qualquer assunto, com soluções na ponta da língua para qualquer problema.
Quem não mora em São Paulo, quando toma contato com uma entrevista de Serra, não reconhece as qualidades que a imprensa divulgou. Nas respostas do demo-tucano o que aparece é falta conteúdo, fica falando abobrinhas, foge de assuntos sérios, foge de dar explicações, titubeia em prestar contas de atos de governos passados que ele esteve à frente, falta ATITUDE, falta COMPROMETIMENTO. De uma entrevista, dificilmente, quem perdeu o tempo ouvindo, pode dizer que tirou proveito, que ouviu alguma coisa que preste, que dê ao menos esperança. A sensação é de decepção.
Já Dilma é o contrário. A imprensa a demoniza o tempo todo. Aí, quando Dilma aparece em entrevistas, ela não foge de nenhuma pergunta, por mais provocativa que seja, aprofunda nas respostas, mostra-se preocupada em informar, em esclarecer, e tem sabido lidar com "flair-play" quando provocada.
Mesmo não tendo carisma como tem o presidente Lula, tem densidade, tem consistência. Tem ATITUDE. Até em respostas longas, técnicas, que nem todo mundo entende bem, as pessoas a vêem como alguém apaixonada pelo que faz, interessada, empenhada, dando o máximo de si pela causa a que se dedica. Percebe-se elevado espírito público, vocação e motivação.
A impressão que Dilma passa, fazendo uma analogia, é de uma médica dedicada que ouve o paciente, que o examina detalhadamente, que faz tudo para resolver o problema de saúde dele, com atenção, carinho, conhecimento, competência e autoridade. Passa confiança.
Serra parece aquele médico negligente, que está com pressa, atende superficialmente, e quer se livrar logo do paciente. Não passa confiança. É daqueles que todo mundo que sai do consultório, se puder, buscará uma segunda opinião.
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5 Comentários:
"Serra parece aquele médico negligente, que está com pressa, atende superficialmente, e quer se livrar logo do paciente."... e que mata as baratas do hospital a chineladas.
Lemas:
FHC - quebrou o país sem nenhum erro de português;
Serra - é que nem Denorex: parece, mais não é;
Lula - de Pernambuco para o Mundo.
Parabéns pela análise. Muito bem escrito o artigo.
Parabéns Zé Augusto, com simplicidade e com clareza colocas-te uma análise brilhante e racional do momento dos 2 candidatos. A medida que a campanha se aprofundar, mais evidente ficará a diferença entre os dois. Tenho um palpite que a Dilma ganha no 1º turno.
Arrisco a dizer que é quase impossível fazer oposição consequente e propositiva ao presidente Lula e ao seu governo. Como inovar frente a 90% de aprovação poessoal e quase 80% de aprovação institucional? As áreas que mercem atenção não credenciam os tucanos como gestores, pois tais áreas são um desastre em seus governos estaduais. Só resta um caminho ao serra: Dizer que fará melhor. Bom, mas daí, até eu... se não precisar dizer como farei.
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