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sexta-feira, 12 de março de 2010

Para jornal israelense, presidente brasileiro é o “profeta do diálogo”

O jornal israelense Haaretz publicou nesta sexta-feira (12/3) ampla reportagem sobre a entrevista que fez com o presidente Lula em Brasília no início da semana, tratando de dois temas centrais: as negociações de paz no Oriente Médio e o programa nuclear do Irã.

Sob o título “Profeta do diálogo”, o texto que ocupa o alto da primeira página do caderno de fim de semana – e está na capa da edição online do jornal - afirma que o presidente brasileiro está convicto de que é possível obter sucesso na solução de conflitos por meio do diálogo.

O jornalista Adar Primor, que conduziu a entrevista, afirma que o presidente Lula está consciente de que sua posição pode ser considerada ‘inocente’ pelos israelenses, mas sua confiança na arte do diálogo para ser mais forte. Ao responder uma pergunta sua sobre o que o leva a crer que terá sucesso onde tantos outros fracassaram, Lula afirmou:
Eu nasci na política do diálogo, me tornei presidente deste País pelo diálogo e conduzi minha presidência inteira pelo diálogo. Eu acredito que pelo diálogo nós teremos sucesso em resolver todos os conflitos que hoje parecem sem solução.

Para ler a transcrição, clique aqui.


Para ler a reportagem do jornal Haaretz, clique aqui (texto em inglês).
A entrevista foi concedida a dois jornalistas do Haaretz e também a um repórter da Agência de Notícias Brasil Árabe (Anba), e Lula mostrou-se imparcial até na hora de escolher que perguntaria primeiro, diz o jornal israelense – a escolha foi feita por meio de disputa de par ou ímpar.

O presidente Lula fará uma visita de quatro dias ao Oriente Médio a partir deste domingo (14/3), que inclui Israel, Palestina e Jordânia – saiba mais aqui. Em maio, está prevista visita ao Irã. Será a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro visita a Terra Santa desde 1876, quando o imperador Dom Pedro II esteve na região.
Lula afirma na reportagem que os atuais envolvidos na discussão do processo de paz no Oriente Médio parecem já estarem cansados e que chegou o momento de incluir “novos jogadores” para alcançar novas idéias. “Essa é a única maneira para conseguirmos avançar na paz israelense-palestina e ao mesmo tempo termos condições de dizer claramente ao Irã que somos contra a construção de armas nucleares”, afirmou.
Eu não quero que Israel ataque o Irã e da mesma forma não quero que o Irã ataque Israel. Num mundo civilizado, as pessoas têm que aprender a conversar umas com as outras. (…) Política é basicamente contato. As pessoas têm que olhar umas as outras, sentir umas as outras. Um líder tem que olhar nos olhos de seu interlocutor em vez de se comunicar com ele por meio de assessores.
Ao ser perguntado pelo jornalista se teria o mesmo diálogo com Adolph Hitler se estivesse no poder entre 1938/39, Lula foi enfático: quem faz tal comparação da Alemanha nazista com o Irã de hoje, está tendo o mesmo comportamento radical que acha que o Irã tem.
Então, uma pessoa que age assim não está contribuindo em nada para o processo de paz que queremos construir para o futuro. Não é possível fazer política com ódio e com ressentimento. Quem quiser fazer política com ódio, com ressentimento, saia da política, porque senão será um péssimo governante. Ninguém pode governar um país com o fígado, a gente governa um país com a cabeça e com o coração. Fora disso, é melhor ficar em casa e fazer outra coisa, do que fazer política.
Na entrevista, também foram abordadas a crise econômica mundial e se o Brasil está ocupando papel que era dos Estados Unidos no cenário internacional. Lula defendeu uma reestruturação da ONU para que a instituição ganhe força:
A ONU, se tivesse a força que precisam ter as Nações Unidas, poderia ser a grande articuladora do processo de paz no Oriente Médio. E do jeito que ela está hoje ela não consegue, porque a representação no Conselho de Segurança já não é… já não representa a geopolítica do século XXI. Grandes países estão fora e, portanto, nós estamos com uma representação política da Segunda Guerra Mundial, que não representa a força econômica e a força política de 2010. Ou os dirigentes compreendem isso, ou nós vamos ver a falência dasinstituições multilaterais, o que seria um desastre para a paz mundial. Ouça a íntegra da entrevista do presidente Lula aqui no blog do Planalto

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