"Mortes, desabamentos, perdas materiais de toda ordem, momentos de desespero, transtornos e, mesmo para os não diretamente atingidos pelas enchentes, uma sensação de impotência e revolta. Não há dúvida de que choveu muito sobre São Paulo, como raramente acontece. Mas também é certo que o desastre de ste mes anteontem, de proporções inéditas, vinha sendo há muito anunciado".
As linhas acima foram pinçadas de um editorial desta Folha de março de 1999, sugestivamente intitulado "Evitar novas tragédias".
Há dez anos, Gilberto Kassab havia deixado fazia pouco o cargo de secretário do Planejamento de Celso Pitta. A cidade, à deriva, vivia tempos exasperantes de desgoverno. O DEM do atual prefeito chamava-se PFL e estava em melhor situação. José Roberto Arruda, senador pelo PSDB, nem pensava em distribuir panetones aos pobres.
Deixemos por um instante a lama moral do DEM/PFL. São Paulo também afunda na sua lama. A cidade está suja, mas o prefeito diz que já é "um absurdo" gastar com limpeza um terço do que destina à saúde. Isso não o impede, no entanto, de elevar os gastos com publicidade de maneira pornográfica.
A catástrofe de anteontem matou crianças pobres que habitavam áreas de risco, provocou mais de 40 pontos de alagamento e um congestionamento de 218 km -ainda vamos ao Rio entalados na cidade.
São Paulo está sendo sistematicamente derrotada pelas enchentes, que aqui se tornaram parte da natureza, certas como a morte e os impostos. Sejam quais forem os investimentos estruturais e as obras de manutenção para enfrentar o problema, eles redundaram num fracasso exemplar. Sim, Kassab não pode ser responsabilizado sozinho pela imprevidência de décadas de seguidos governos. Ele é coautor de luxo do atual colapso urbano. A retórica técnico-gerencial do DEM não vale um panetone falsificado.....(Pelo visto, o DEM ainda não deu panetone para a Folha. Este texto é do Fernando de Barros e foi enviado por Ana Lucia)
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