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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Imprensa é uma das instituições mais corruptas do Brasil

Leitores do blog se surpreenderam com o escândalo de quase R$ 12 bilhões do dinheiro público que o governo FHC / Serra deram de presente aos compradores das empresas de telefonia nas privatizações (gastou mais preparando para privatizar do que arrecadou com a privatização), como demonstramos aqui no blog.

Como um rombo tão grande não deu cadeia? Perante a lei a coisa ficou caracterizada apenas como um mau negócio, e só incompetência não é crime. Faltou provar a suposta roubalheira por trás desse mau negócio. Na era FHC / Serra havia um engavetador geral da República, e a Polícia Federal não investigava de verdade gente aliada do governo. Diversos processos foram engavetados usando as mais diversas e esfarrapadas desculpas. Algumas ações populares ainda estão em curso, mas a experiência mostra que quando chega no STF é ruim de sair alguma condenação. É pedido de vista de um lado para o outro, é invalidação de provas, é desqualificação da denúncia e arquivamento ou é demora no processo até  prescrever.

E como  um escândalo tão grande não ganhou as manchetes?

A imprensa brasileira é uma das instituições mais corruptas do Brasil.

Rivaliza e as vezes supera os governos e partidos mais corruptos, a banda podre do Congresso (por sinal, muitos parlamentares são donos de órgãos de imprensa) e a banda podre do judiciário.

A imagem mais simbólica dessa corrupção foi o vídeo do empresário Alcyr Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil, enfiando dinheiro na cueca, no recente episódio mensalão do DEM, de José Roberto Arruda.

Mas se a imagem foi a mais simbólica, a quantia é pequena perto das grandes negociatas que se passam nas grandes empresas de tv, radio, jornais e revistas.

Um caso típico de corrupção da imprensa foi o engajamento no processo de privatização, sobretudo da Telebras.

Havia um claro conflito entre o interesse público do cidadão em ser bem informado, com pluradidade e isenção, e o interesse dos donos da imprensa em participar dos consórcios de privatização, e fazerem bons negócios.

No conflito de interesses, o noticiáro foi totalmente corrompido. O que deveria ser notícia, com visão crítica e contraponto, virou propaganda e campanha a favor da privatização, para os donos da imprensa ganhar dinheiro no processo.

As maracutaias, o controponto crítico, tudo foi abafado e escondido do noticiário para não atrapalhar os negócios dos donos da imprensa.

A Globopar (das Organizações Globo, da família Marinho), tornou-se sócia da Tele Celular Sul, da Tele Nordeste Celular e da Maxitel (vendida para a TIM).

O grupo OESP ("O Estado de São Paulo", ou "Estadão", da família Mesquita) foi sócio da operadora de celular BCP, e da BSE. Em 2001, foram vendidas para a Claro (de Carlos Slim).

O grupo Folha de São Paulo, da família Frias, tinha opção de compra de 5% no Consórcio Avantel Comunicações (em sociedade com o Unibanco e Carmargo Correa).

O grupo gaúcho RBS (da família Sirotsky) tornou-se sócia da CRT (em sociedade com a Telefonica).

O noticiário era claramente parcial. A privatização era mostrada como se fosse uma maravilha, uma modernidade, uma necessidade imperativa da vida moderna globalizada na virada do milênio, e o contraponto era mostrado como coisa de dinossauros, de jurássicos e marajás corporativistas.

Por trás desse noticiário tendencioso e de má-fé, estava o lobby dos próprios empresários da imprensa, interessados em comprar uma fatia das empresas de telefonia.

O noticiário, recorrendo à globalização, só mostrava os exemplos neoliberais dos EUA e Europa, países com perfil desenvolvido, diferente do Brasil. Escondia o crescimento recorde de estatais de telefonia em países em desenvolvimento, como a China.

Os próprios números da Telebras eram escamoteados do noticiário: os reajustes das tarifas de telefonia tornaram a estatal extremamente lucrativa. Só a assinatura residencial saltou de R$ 0,44 em 1994 para R$ 10,00 em 1997. O lucro líquido em 1997 foi de R$ 4,7 bilhões (e até maio as tarifas foram menores). Só o lucro de 1997 já era 21% do valor que a empresa foi rifada em 1998.

Com estas tarifas e com esse lucro, a geração de caixa proporcionava à estatal fazer investimentos maciços com recursos próprios (quem comprou as teles investiu na rede e na ampliação com o dinheiro das tarifas). Tanto é verdade que, de 1996 para 1997, ainda estatal, a instalação de novas linhas fixas, fez a base instalada crescer 14%.

Mas a corrupção dos empresários da imprensa escondeu todos os números, e todo esse debate, para meter a mão no patrimônio público e no bolso dos brasileiros, via tarifas.

A corrupção do noticiário, além de econômica, foi política. Como uma mão lava a outra, o governo demo-tucano de FHC / Serra facilitou a entrega do patrimônio público para os empresários da imprensa, e eles fizeram do noticiário uma extensão da propaganda política da reeleição de FHC em 1998.

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