Após um ano marcado por uma das guerras tarifárias mais intensas do setor aéreo, que comprometeu as margens de rentabilidade das companhias, a aviação comercial brasileira se prepara para outra batalha. Desta vez, será a disputa pela melhor estratégia para oferecer crédito aos consumidores das classes C e D, com parcelamento de passagens em até 36 vezes, aliada à busca pela recomposição da lucratividade. A avaliação é de executivos e especialistas do setor, ouvidos pelo Valor. A Gol foi a primeira a adotar essa estratégia, seguida por Webjet e TAM. Azul e Trip revelam que estudam entrar nessa corrida.
"Não tenho dúvida nenhuma de que a grande coisa é a nova classe média, que está sustentando o crescimento do Brasil. Mas aqui não precisa de guerra. Ela é tão grande que se todos quisessem viajar de avião não teria lugar. Cada um vai ter sua estratégia. O que vai definir quem vai ser um pouco melhor do que o outro vai ser a execução", diz o vice-presidente de Finanças da Gol, Leonardo Pereira.
Com essas perspectivas, corretoras de valores como a Link Investimentos e a Planner estimam crescimento de até 12% na demanda doméstica em 2010. No entanto, a presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Solange Paiva Vieira, disse em recente entrevista que a restrição da operação em aeroportos como o Internacional de Guarulhos, em 45 movimentos de pouso e decolagem por hora, vai limitar a expansão da demanda doméstica em até 8% em 2010.
"Certamente o parcelamento das passagens deve exercer um papel importante no estímulo da demanda. Acreditamos, sim, que a penetração do transporte aéreo na classe C deva crescer significativamente em 2010", diz o analista de aviação do Santander, Caio Dias.
A Gol lançou o Voe Fácil há quatro anos e já tem 30%, dos 26 milhões de passageiros embarcados por ano, oriundos da "nova classe média", diz Pereira. A Gol é a única que assume o risco financeiro da operação. A TAM tem parceria com o Banco do Brasil, que fica com o risco, e também parcela passagem em até 36 vezes.
A Webjet contratou a empresa Vai Voando e lançou um sistema de pagamento pré-pago em 12 vezes para quem não tem nem conta bancária. Nesta modalidade, não há riscos para a Webjet, diz o presidente da Vai Voando, Ralph Fuchs, pois o passageiro só voa quando quitar a passagem. "Não há inadimplência porque o passageiro é credor. E ele só voa ao final do plano", diz ele, que iniciou as atividades da empresa há quatro meses, vindo do setor publicitário.
Fuchs diz que em um ano pretende consolidar o sistema pré-pago na Webjet (ver reportagem abaixo). Depois, vai implementar o conceito em outras empresas aéreas. Segundo ele, três companhias já estão em conversações. Os nomes não foram revelados.
"O que deve ocorrer, sem dúvida, é a busca cada vez maior da população por passagens aéreas, que têm chegado a um patamar de valor bastante acessível. Nosso desafio será fazer o estímulo chegar à classe C fora dos grandes centros urbanos", afirma o presidente da empresa aérea regional Trip, José Mário Caprioli.
De acordo com o executivo, a Trip estuda aumentar o número de parcelas nas vendas de passagens, atualmente em seis vezes em cartões de crédito ou 12 vezes com juros, mas tudo vai depender da evolução da demanda. Posicionamento parecido tem a Azul, que também parcela em seis vezes, em cartões de crédito.
"A gente ainda não fechou o detalhamento desse produto, mas o passageiro pode esperar novidades para 2010", afirma o diretor de Relações Institucionais da Azul, Adalberto Febeliano. Ele não vê perigo para as finanças das companhias que adotam múltiplas parcelas. "Ainda que se amplie bastante o crédito, você não vai estar fazendo desse novo público e desse crédito a base das suas operações, mas a base do seu crescimento", acrescenta Febeliano.
O analista do setor aéreo da Planner, Brian Moretti, considera estratégica a decisão do setor de oferecer mais crédito aos passageiros. "O parcelamento em várias vezes acaba encontrando espaço na renda mensal do consumidor das classes C e D no Brasil, atingindo o passageiro rodoviário", afirma ele. A equipe de analistas da Link Investimentos lembra que o foco na classe C não vai ficar concentrado apenas em 2010, mas "ao longo dos próximos anos".Valor Econômico
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