País já recuperou mais da metade das vagas fechadas no auge do maremoto global. Manutenção do poder de compra das famílias blindou país e impulsionou crescimento
Quando a crise chegou ao Brasil com tudo, em setembro do ano passado, uma preocupação das mais prementes era se a "economia real", mais precisamente o mercado de trabalho, seria atingida. O país vivia seu melhor momento em mais de 30 anos, com a demanda interna avançando 9,3%, um ritmo chinês, e o desemprego caminhando rapidamente para um patamar próximo de 6%. Mas o baque provocado pelas aventuras dos americanos no mercado imobiliário, com um endividamento monstruoso por meio dos então desconhecidos subprimes (créditos de péssima qualidade), fez com que, em apenas três meses - novembro e dezembro de 2008 e janeiro deste ano -, o Brasil perdesse mais de 800 mil empregos formais. Assustados, os economistas previram uma hecatombe: a taxa de desemprego superaria os 10% em questão de meses.
De início, tudo levava a crer que o caos estava instalado. Em março último, o índice de pessoas sem emprego bateu em 9% nas seis principais regiões metropolitanas do país - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Gigantes como a Vale e a Embraer anunciaram cortes expressivos no quadro de pessoal e reduziram a produção. Mas, para surpresa da maioria dos analistas, em vez de jogar contra, o mercado de trabalho se tornou a tábua de salvação da economia brasileira. "Se eu tiver que destacar um ponto que fez a diferença para que o Brasil saísse mais rápido da crise, não há dúvidas de que ele é o emprego. O país não só voltou a abrir vagas (foram mais de 400 mil neste ano) como a renda se acelerou", afirma Jankiel Santos, economista-chefe do Banco BES Investimento.
Foi essa rápida virada do mercado de trabalho que deixou na advogada Ana Carolina Rocha Ramos, 32 anos, a percepção de que a crise ficou mais como uma ameaça do que um fato real. "O poder de compra da minha família continuou o mesmo. Houve todo aquele alarde, mas o impacto, pelo que observo, foi muito pequeno", diz. Se houve alguma mudança com a crise, destaca, foi a decisão de cortar gastos desnecessários em casa e na empresa que administra, um instituto odontológico. "Com a economia que fizemos, conseguimos aumentar o quadro de funcionários da empresa. E o momento, agora, é de planejar e investir em projetos seguros que garantam um futuro tranquilo e estável para toda a família."
Massa salarial
Jorge Abrahão, diretor de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), explica que a força demonstrada pelo emprego está associada, sobretudo, à resiliência do setor de serviços, o maior demandador de mão de obra, que praticamente não sentiu a crise. O grosso das demissões ocorreu na indústria, pressionada, principalmente, pela retração das exportações, já que o terremoto financeiro que varreu o mundo teve origem nas maiores economias do mundo, os grandes consumidores, Estados Unidos, Japão e Europa. Também o setor financeiro se ajustou e fechou postos, a despeito de, no Brasil, os bancos terem revelado uma solidez impressionante, graças à firme regulação imposta pelo Banco Central.
"Perderam-se, principalmente, empregos mais qualificados, de ponta, na indústria e no sistema financeiro. Mas a tendência é de essas vagas serem repostas ao longo do tempo, à medida que o crescimento econômico for se consolidando", destaca o professor Estevão Garcia de Oliveira Alexandre, coordenador da Faculdade Veris IBTA. Não foi à toa, na visão de Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), que a massa salarial das pessoas ocupadas se manteve firme. Em junho deste ano, somou R$ 27,7 bilhões, superando em 3,31% o saldo computado no mesmo mês de 2008, quando a crise mundial ainda era uma miragem. A perspectiva é de que a taxa de desemprego feche este ano entre 7% e 8%, o que será uma vitória ante o quadro catastrofista pintado pelos especialistas.
O número
Diferencial
R$ 27,7 bilhões
Total dos rendimentos recebidos em junho pelos trabalhadores
Proteção do mínimo e do Bolsa Família
Os programas sociais do governo, como o Bolsa Família, os aumentos reais (acima da inflação) do salário mínimo e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mesmo sendo executado com lentidão, ajudaram o Brasil a sair mais rápido da crise, acredita Lia Valls Pereira, do Instituto de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O Bolsa Família, por exemplo, favoreceu uma parcela da população que está desprotegida e, dificilmente, será incluída na economia formal", afirma. Foi esse programa, por sinal, e o salário mínimo que minimizaram a queda da indústria no Nordeste e Centro Oeste e sustentaram parte importante do consumo nos momentos mais agudos da crise. Já o PAC ajudou a ampliar os investimentos públicos de R$ 9,9 bilhões, no primeiro semestre de 2008, para R$ 11,2 bilhões em igual período deste ano.
Com o governo forçando a mão nas políticas sociais, os índices de desigualdade e renda voltaram aos níveis vigentes antes da crise - os melhores da história. Nas contas do economista Marcelo Néri, da FGV, a classe C, que engloba 53% da população, teve aumento de 2,5% no rendimento médio entre julho de 2008 e o mesmo mês deste ano. Já a renda das classes A e B está apenas 0,5% abaixo do patamar registrado há um ano. Em janeiro, quando a crise era um monstro, as classes menos favorecidas chegaram a perder 30% das conquistas de anos anteriores. "Tivemos um momento bem ruim. Nossas vendas chegaram a cair 30% por causa do medo da crise. Mas o pior já passou. Recuperamos tudo", afirma Patrício Neto, 50 anos, empresário do setor de bares e restaurantes.Correio Brasiliense
Quando a crise chegou ao Brasil com tudo, em setembro do ano passado, uma preocupação das mais prementes era se a "economia real", mais precisamente o mercado de trabalho, seria atingida. O país vivia seu melhor momento em mais de 30 anos, com a demanda interna avançando 9,3%, um ritmo chinês, e o desemprego caminhando rapidamente para um patamar próximo de 6%. Mas o baque provocado pelas aventuras dos americanos no mercado imobiliário, com um endividamento monstruoso por meio dos então desconhecidos subprimes (créditos de péssima qualidade), fez com que, em apenas três meses - novembro e dezembro de 2008 e janeiro deste ano -, o Brasil perdesse mais de 800 mil empregos formais. Assustados, os economistas previram uma hecatombe: a taxa de desemprego superaria os 10% em questão de meses.
De início, tudo levava a crer que o caos estava instalado. Em março último, o índice de pessoas sem emprego bateu em 9% nas seis principais regiões metropolitanas do país - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Gigantes como a Vale e a Embraer anunciaram cortes expressivos no quadro de pessoal e reduziram a produção. Mas, para surpresa da maioria dos analistas, em vez de jogar contra, o mercado de trabalho se tornou a tábua de salvação da economia brasileira. "Se eu tiver que destacar um ponto que fez a diferença para que o Brasil saísse mais rápido da crise, não há dúvidas de que ele é o emprego. O país não só voltou a abrir vagas (foram mais de 400 mil neste ano) como a renda se acelerou", afirma Jankiel Santos, economista-chefe do Banco BES Investimento.
Foi essa rápida virada do mercado de trabalho que deixou na advogada Ana Carolina Rocha Ramos, 32 anos, a percepção de que a crise ficou mais como uma ameaça do que um fato real. "O poder de compra da minha família continuou o mesmo. Houve todo aquele alarde, mas o impacto, pelo que observo, foi muito pequeno", diz. Se houve alguma mudança com a crise, destaca, foi a decisão de cortar gastos desnecessários em casa e na empresa que administra, um instituto odontológico. "Com a economia que fizemos, conseguimos aumentar o quadro de funcionários da empresa. E o momento, agora, é de planejar e investir em projetos seguros que garantam um futuro tranquilo e estável para toda a família."
Massa salarial
Jorge Abrahão, diretor de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), explica que a força demonstrada pelo emprego está associada, sobretudo, à resiliência do setor de serviços, o maior demandador de mão de obra, que praticamente não sentiu a crise. O grosso das demissões ocorreu na indústria, pressionada, principalmente, pela retração das exportações, já que o terremoto financeiro que varreu o mundo teve origem nas maiores economias do mundo, os grandes consumidores, Estados Unidos, Japão e Europa. Também o setor financeiro se ajustou e fechou postos, a despeito de, no Brasil, os bancos terem revelado uma solidez impressionante, graças à firme regulação imposta pelo Banco Central.
"Perderam-se, principalmente, empregos mais qualificados, de ponta, na indústria e no sistema financeiro. Mas a tendência é de essas vagas serem repostas ao longo do tempo, à medida que o crescimento econômico for se consolidando", destaca o professor Estevão Garcia de Oliveira Alexandre, coordenador da Faculdade Veris IBTA. Não foi à toa, na visão de Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), que a massa salarial das pessoas ocupadas se manteve firme. Em junho deste ano, somou R$ 27,7 bilhões, superando em 3,31% o saldo computado no mesmo mês de 2008, quando a crise mundial ainda era uma miragem. A perspectiva é de que a taxa de desemprego feche este ano entre 7% e 8%, o que será uma vitória ante o quadro catastrofista pintado pelos especialistas.
O número
Diferencial
R$ 27,7 bilhões
Total dos rendimentos recebidos em junho pelos trabalhadores
Proteção do mínimo e do Bolsa Família
Os programas sociais do governo, como o Bolsa Família, os aumentos reais (acima da inflação) do salário mínimo e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mesmo sendo executado com lentidão, ajudaram o Brasil a sair mais rápido da crise, acredita Lia Valls Pereira, do Instituto de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O Bolsa Família, por exemplo, favoreceu uma parcela da população que está desprotegida e, dificilmente, será incluída na economia formal", afirma. Foi esse programa, por sinal, e o salário mínimo que minimizaram a queda da indústria no Nordeste e Centro Oeste e sustentaram parte importante do consumo nos momentos mais agudos da crise. Já o PAC ajudou a ampliar os investimentos públicos de R$ 9,9 bilhões, no primeiro semestre de 2008, para R$ 11,2 bilhões em igual período deste ano.
Com o governo forçando a mão nas políticas sociais, os índices de desigualdade e renda voltaram aos níveis vigentes antes da crise - os melhores da história. Nas contas do economista Marcelo Néri, da FGV, a classe C, que engloba 53% da população, teve aumento de 2,5% no rendimento médio entre julho de 2008 e o mesmo mês deste ano. Já a renda das classes A e B está apenas 0,5% abaixo do patamar registrado há um ano. Em janeiro, quando a crise era um monstro, as classes menos favorecidas chegaram a perder 30% das conquistas de anos anteriores. "Tivemos um momento bem ruim. Nossas vendas chegaram a cair 30% por causa do medo da crise. Mas o pior já passou. Recuperamos tudo", afirma Patrício Neto, 50 anos, empresário do setor de bares e restaurantes.Correio Brasiliense
0 Comentários:
Postar um comentário
Meus queridos e minhas queridas leitoras
Não publicamos comentários anônimos
Obrigada pela colaboração