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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Marina Silva, a médio prazo, deverá se tornar dissidente dentro do PV

Não me preocupo com a saída de Marina Silva do PT. Racionalmente, não vejo espaço para esse tipo de candidatura à presidência ter viabilidade política real no atual momento histórico, independente de virtudes pessoais.

Acho até que ela faria mais estrago se saísse candidata à vice dos tucanos, do que concorrer à presidência, porém se aceitasse a vice jogaria no lixo sua biografia.

Também acredito que a imprensa está amplificando além da conta as críticas dela ao governo, que são pontuais. Sua carta de despedida mostrou mais conformidade com o governo Lula, do que divergências. A tendência natural seria fazer uma campanha propositiva, com críticas pontuais, e apoiar Dilma no segundo turno, caso Dilma não vença no primeiro turno.

No fundo, tenho receio POR Marina, e não DE Marina, por ela não compreender como se inserir no processo histórico, onde ela pode escolher ter importância, e fazer a diferença, ou ser apenas famosa.

Marina tem um plano político respeitável, mas é bem diferente do plano político que praticamente todos os "verdes" em seu entorno traçam para ela.

Ela travará uma luta entre usar o Partido Verde para conseguir seus objetivos, ou ser usada pelo PV, no projeto de poder de muitos de seus membros.

Ela não está se dando conta da enorme utopia que será tornar o PV pelo menos parecido com o PT;

Ela poderia sair do PT, se quisesse novos rumos, mas deveria ir para um partido verdadeiramente comprometido com mudanças sociais estruturantes no Brasil, como o PCdoB ou outro.

Desse jeito, tudo indica que será "jantada" pela elite, e uma liderança nacional de futuro promissor, corre o risco de se tornar um fantasma político, daqueles que prometiam, mas não deram certo.

Poderia até ser positivo se ela fosse para o PV com poderes para proibir coligações com demo-tucanos e expulsar a elite "verde-fashion" que usam camisetas "salvem a Amazônia", mas detonam o planeta com elevados padrões de consumo de eletricidade, combustíveis e geração de lixo.

Seria positivo se ela desse uma guinada à esquerda no partido Verde, e vetasse candidaturas de deputados e senadores que destoassem daquilo que ela defende.

Mas todo mundo sabe (ela também) que é isso está fora de cogitação antes das eleições de 2010.

As divergências entre ela e segmentos reacionários do PV, será deixada para ser resolvida depois de 2010.

Se ela vencesse as eleições presidenciais (missão quase impossível), teria todo o sentido. Além de exercer o governo, tomaria conta do partido, e o enquadraria. Mas... a governabilidade bateria à sua porta, como imposição, e todas as concessões que ela diz condenar, teria que conceder, principalmente porque sua candidatura seria usada para levar "verdes" convertidos ao neoliberalismo, para o parlamento.

Se ela não vencer as eleições, mas for muito bem votada (coisa também pouco provável), ainda terá força dentro do partido para dar uma guinada à esquerda. Apesar do estrago já feito, ao ajudar a eleger uma bancada "verde" meio neoliberal.

Do contrário, tendo uma votação entre a simbólica e a boa, ela apenas ajudará o PV crescer do jeito que é hoje: uma frente partidária, que abriga uma meia dúzia de bons nomes, com alguns milhares de picaretas com votos, e outros direitistas convertidos, reacionários às mudanças sociais do governo atual.

Assim, a partir de 2010, abertas as urnas, o PV deverá sair fortalecido com quadros de centro-direita, e Marina ficará como uma dissidente dentro do partido, muito mais desconfortável do que está hoje no PT.

Sairá como uma celebridade nacional da política, mas sem papel significativo na história. Terá fama, e não poder para transformações.

Todo político tem direito à seu sonho e sua utopia. Mas as utopias que vingam, em geral, são aquelas que guardam conformidade com os processos históricos.

E é com base na observação do processo histórico que vejo dificuldades eleitorais, na candidatura de Marina Silva.

O Brasil não vive um processo eleitoral civilizado, onde vigora o debate de idéias saudáveis. Se esse processo saudável estivesse em vigor, a candidatura de Marina Silva e de outros segmentos, inclusive representando minorias e vanguardas, seria louvável.

Mas o Brasil vive uma guerra política suja, entre as forças progressistas da mudança representada pelo segmento representado no governo Lula, contra o segmento representado pelas elites dos 500 anos passados. Ignorar essa guerra, é um erro histórico.

Nessa guerra política suja, como em qualquer guerra, a primeira vítima fatal é a verdade. E a imprensa de elite assassina a verdade todo dia, deturpando a informação sobre a representação popular. Denigre ótimos governos e enaltece péssimos. Perseguem honestos e protegem corruptos. Tudo isso para manipular o povo, e tomar de volta o poder, do qual a imprensa era parte integrante, sócia dos governos passados.

Hoje, Marina Silva é saudada e incentivada pela imprensa demo-tucana por ver nela a oportunidade de manipulação, de divisão da esquerda.

Da mesma forma, em 2002, durante um certo tempo incentivaram a candidatura de Roseana Sarney, enquanto acreditaram que tiraria votos de Lula no Nordeste. Quando ameaçou Serra, foi abatida. A mesma coisa fizeram com Ciro Gomes.

Também em 2002, incentivaram até certo ponto a candidatura de Garotinho, por acreditarem que retiraria votos de Lula. Garotinho era bom candidato enquanto era para perder. Quando ele cresceu a ponto de ameaçar Serra, passou a ser bombardeado.

Em 2006, Cristovam Buarque e Heloísa Helena, também não tinham defeitos. Só qualidades, pois não ameaçavam Alckmin, e serviam para levar a eleição para o segundo turno.

O papel reservado para Marina Silva é este: ser boa candidata para perder, e ser usada como linha auxiliar para o projeto de poder demo-tucano, além de ser usada para engordar o PV com uma bancada bastante fisiológica, descaracterizada.

Se ameaçar tirar o projeto demo-tucano do segundo turno, ela será impiedosamente abatida. A revista Veja e rede Globo já tem à disposição, dossiês prontos sobre os assessores dela no Senado, requentarão o caso de seu marido ter sido assessor de Sibá Machado, explorarão o fato dela já ter defendido o ensino religioso do criacionismo, sobre sua posição contrária às células tronco, e não me surpreenderá se arranjarem para ela algo como conexão com as FARCs e coisas do gênero. Uma candidatura por um partido pequeno, sem horário na TV, sem direito de resposta, ficará pelo caminho.

A sorte está lançada para Marina Silva. Que ela saiba lidar, da melhor maneira possível, evitando de ser usada.

Não vejo Marina ainda como adversária, e espero que não venha a tormar esse caminho. Acho que os caminhos do futuro ainda estão em aberto, e assim como o PV participa do Minstério da Cultura, poderia participar da construção de um projeto Nacional em conjunto com as forças progressistas.

Só esperamos que Marina Silva não repita o PSOL. Também gostaria de ver o PSOL como uma oposição propositiva, de alto nível, fiel aos anseios populares, lutando, acima de tudo, contra os neoliberais demo-tucanos, considerando o governo Lula um "inimigo secundário", do segundo escalão.

Mas quando votaram contra a CPMF, aliando-se aos neoliberais demo-tucanos, escolhendo a mesquinhez política de arruinar a saúde pública do povo, com fins meramente eleitoreiros, não restou qualquer esperança mais no PSOL de desempenhar um papel histórico respeitável.

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