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sábado, 6 de junho de 2009

Deputado brasileiro tem mais benefícios


Quase toda vez que se produz algum tipo de comparação entre salários e vantagens auferidas pelos deputados brasileiros e seus colegas do exterior, chega-se à conclusão de que os nossos são mais bem aquinhoados. A regra foi confirmada nos últimos dias, com a eclosão do escândalo britânico sobre o uso indevido de verbas públicas pelos membros da Câmara dos Comuns. Ele coincidiu com as revelações daqui sobre a farra das passagens aéreas e o uso, também indevido, da chamada verba indenizatória, e permitiu novas comparações sobre a vida parlamentar.

Observando as revelações de lá e daqui, constata-se que os deputados brasileiros são triplamente beneficiados na comparação com os britânicos. A primeira vantagem está ancorada nos salários e benefícios, mais polpudos em Brasília do que em Londres. A segunda aparece no custo de vida, bem menor por aqui. A terceira, a mais evidente, é a vantagem política. Nos momentos de crise, os brasileiros apanham muito menos.

As revelações feitas pelo jornal londrino The Daily Telegraph sobre os gastos indevidos dos parlamentares ingleses teve o efeito de tsunami político. A lista de vítimas foi encabeça pelo metalúrgico Michael Martin, do Partido Trabalhista, obrigado a se afastar da presidência da Câmara dos Comuns, por ter se omitido na busca de punições e esclarecimentos. Um ministro do gabinete de Gordon Brown também teve que deixar o cargo.

Boa parte dos acusados britânicos já pediu desculpas pela lambança com o dinheiro público e se dispôs a reembolsar as despesas. Mais de uma dezena deles já anunciou que vai deixar a política. Na quarta-feira, a conservadora Julie Kirkbride disse publicamente que está desistindo da carreira porque não suporta mais as críticas e as pressões dos eleitores.

Por aqui, como se sabe, os escândalos não tiveram esse impacto. Nenhuma cabeça coroada rolou e houve até quem dissesse que estava se lixando para a opinião pública.

É uma situação confortável.Ela parece mais confortável ainda quando se analisa o fator econômico. Enquanto os britânicos recebem cerca de US$ 321 mil por ano, na soma de salários e benefícios, os brasileiros contam com US$ 550 mil - sem contabilizar as verbas para passagens aéreas, cujo valor oscila de acordo com o Estado de onde sai o parlamentar.

RANKING

Se o critério para definir salários e benefícios fosse o custo de vida das cidades que sediam os parlamentos, os valores deveriam ser trocados. O custo de vida em Londres é notavelmente maior do que em Brasília.

De acordo com pesquisa realizada pela revista The Economist, Londres ocupava até o ano passado a 8ª posição no ranking das cidades mais caras do mundo. Neste ano, com a crise econômica e a desvalorização das moedas, a capital britânica baixou para a 27ª posição.

Brasília não figura na lista das cidades pesquisadas. Mas pode-se ter uma ideia da diferença observando São Paulo e Rio, que estão na 83ª posição. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor, aferido pelo IBGE, o custo de vida para os brasilienses é apenas um pouco maior do que para os paulistanos e cariocas. Brasília poderia ficar, portanto, na 82ª posição.

Também é possível aquilatar a diferença pelas pesquisas da Mercer, empresa com escritórios em 40 países, que oferece serviços de consultoria sobre salários de altos executivos deslocados para funções fora de seus países de origem - os chamados expatriados. Segundo as pesquisas, em Londres, o aluguel de um apartamento de três quartos, mobiliado, com área entre 120 e 160 metros quadrados, localizado em áreas nobres, como Wimbledon, Putney e St. Johns Wood, fica em torno de US$ 7.260. Em Brasília, o aluguel de um imóvel com as mesmas características, no setor sudoeste, sai por US$ 2.700.

Ainda segundo a Mercer, o custo dos serviços domésticos em Londres é 240% maior do que em Brasília. O ponto mais contraditório das comparações, porém, aparece na medição da riqueza dos países. De acordo com ranking mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB per capita inglês, de US$ 36.523, é quase três vezes e meio maior que o brasileiro, de US$ 10.326. Em outras palavras, o país mais pobre gasta mais.

As diferenças vão além do parlamento inglês. Em 2007, ao comparar o orçamento do congresso brasileiro com os de Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, México e Portugal, a organização Transparência Brasil notou que nosso orçamento só é superado pelo dos EUA, a maior potência econômica do mundo.

De acordo com o coordenador de projetos da organização, Fabiano Angélico, uma das causas do impacto das revelações do The Daily Telegraph foi a riqueza de detalhes. Soube-se que os britânicos usavam dinheiro público para reformar suas próprias casas e até comprar material pornográfico.

No Brasil não chegamos a esse grau de transparência. "A Câmara blindou a lista de gastos com as verbas indenizatórias", disse Angélico. "Os parlamentares morrem de medo de que os eleitores saibam como usaram o dinheiro público."

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