"Nós não somos mais uma república de bananas." Foi assim que Luis Stuhlberger, um dos principais gestores de fundos hedge do país e sócio da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG), começou sua apresentação sobre o Brasil a uma plateia de investidores locais e estrangeiros, em evento sobre investimentos alternativos ontem, em São Paulo. E isso para dizer que a economia brasileira é muito menos dependente de commodities do que possa parecer, o que caracteriza uma enorme vantagem competitiva do país em relação a outros mercados emergentes, especialmente na América Latina.
"O Brasil é muito mais do que um player de commodities", destacou. Não é à toa que, no processo de recuperação dos mercados, o país mostra vigor maior, disse Stuhlberger. Do dia 27 de outubro de 2008, quando a bolsa marcou sua pior pontuação desde o estouro da crise, até 30 de abril, o índice Bovespa subiu 71,24% em moeda local. Na China, a alta foi de 43,76%, na Rússia, a bolsa avançou 51,59% (em dólar), na Índia, 34,01%, no México, 29,82%.
No contexto de crise global, a participação relativamente baixa das exportações brasileiras no Produto Interno Bruto (PIB) é favorável para o país. Ainda que o Ibovespa seja concentrado em empresas de commodities (com 50% a 60% de participação no índice), a proporção das exportações brasileiras no PIB é de cerca de 12%. No Chile, ela chega a 34,8%, na Venezuela, a 26,5%, e no Peru, a 18,6%. Já o consumo doméstico, acrescentou o gestor, representa 65% do PIB brasileiro.
Outro ponto a favor da economia local é a diversificação dos destinos das exportações. No Brasil, as vendas para os Estados Unidos, o epicentro da crise, representam cerca de 14%, ante média dos países da América Latina de 45%. China e Argentina também são importantes parceiros comerciais do país, assim como outros mercados na União Europeia. "Essa diversificação é uma das razões que explicam a resiliência da nossa balança comercial", disse.
O recente boom de commodities, no entanto, favoreceu o Brasil, que conseguiu emplacar reformas econômicas até o ano de 2006, na visão de Stuhlberger. Segundo ele, a adoção do câmbio flexível, regime de metas de inflação e superávit primário, mais algumas reformas microeconômicas, como a aprovação do crédito consignado e a nova Lei de Falências, foram fundamentais no ciclo virtuoso vivido pelo país nos últimos anos.
O Brasil, destacou o gestor, também foi destaque na acumulação e administração de reservas internacionais. Segundo Stuhlberger, entre dezembro de 2006 e agosto do ano passado, as reservas do país mais do que dobraram, chegando a superar os US$ 200 bilhões. E desde então, disse, só caíram 8%. Na Rússia, comparou, as reservas internacionais foram reduzidas em cerca de 35%. "O Banco Central resistiu, acertadamente, à pressão de queimar as reservas no início da crise."
A política monetária conservadora, para evitar inflação e expansão do crédito, também é uma vitória do país, na opinião de Stuhlberger. "A estabilidade de preços tornou-se um bem público no país." Contudo, o Brasil, pela primeira vez na história, não foi tão afetado por essa crise. "Esta desaceleração econômica é cíclica, não estrutural." Ele destacou ainda a solidez do sistema financeiro do país como uma das vantagens competitivas do mercado local. Do lado negativo, o gestor citou como o maior desafio do país a melhora na administração dos gastos públicos, que hoje são "altos e crescentes".
Fundamentos econômicos sólidos, aliados a uma ambiente de juros ainda relativamente altos ante o resto do mundo, fazem do Brasil um dos destinos mais atraentes para o investidor externo que busca diversificação, segundo o diretor de asset management do Credit Suisse no Brasil, Mauro Bergstein. "Tenho uma visão construtiva para o Brasil, que vem respondendo bem aos desafios colocados pela crise", disse. Para ele, há muitas oportunidades de investimento nos mercados de ações e de crédito privado. Ele destacou ainda a liquidez, profundidade e transparência do mercado financeiro local.(Valor Econômico)
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