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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Porque Marta venceu o debate

A análise do conteúdo do debate na TV Record, já fizemos em nota abaixo. Agora vamos fazer uma mais aprofundada do desempenho de cada um e da percepção do telespectador.

O eleitorado paulistano é divido em 3 partes: 1/3 vota com Marta e não muda o voto. 1/3 vota contra Marta-Lula em qualquer candidato (o da vez é o Kassab), e o outro 1/3 são votos nem pró, nem contra, que são conquistáveis.

O um terço contra e o um terço a favor, são como torcidas: cada lado diz que seu candidato venceu. Mas quem venceu para o terço do eleitorado que está fora desta torcida?

Marta. Foi para esse um terço do eleitorado conquistável que Marta falou.

No primeiro debate e na primeira semana, o objetivo era desmascarar o verdadeiro Kassab escondido por tras de uma campanha publicitária que só mostra a embalagem artificial, sem mostrar o conteúdo.

Era preciso chamar a atenção do eleitor desinteressado na campanha, trazer esse eleitor para o debate, para a comparação. Isso ela conseguiu.

Depois de chamar a atenção do eleitor, é preciso fazer o chamado à consciência e a comparação dos candidatos pelo que são, pelo representam, pelo que fizeram e farão por São Paulo, e não pelo que parecem ser. É isso que a campanha de Marta está fazendo agora.

Neste segundo debate, Marta pontuou suas diferenças de Kassab.

Enquanto Kassab esconde sua biografia, se mostra com o discurso do político antiquado: infalível, que "se acha", que se diz "o bom", que não erra, que tem um passado "santo", coisa que nenhum eleitor acredita, Marta reconheceu as críticas à sua primeira administração, mostrou-se humana e aproximou-se mais do eleitor, elevando sua credibilidade junto ao terço do eleitorado conquistável.

Para pontuar suas diferenças com Kassab, Marta precisava deixar ele se expor, ficar em evidência, sem massacrá-lo como fez no primeiro debate. Ao não ofuscar Kassab, ele foi desnudado ao eleitor por ele mesmo, e não por Marta.

Kassab teve oportunidade e tempo para dar respostas aos comerciais da TV e não respondeu, comportou-se como o ator ensaiado das propagandas políticas. Assim ele se esvaziou diante de parte do eleitorado.

Essas sutilezas não são perceptíveis instantaneamente, mas mexe com o que há de mais importante na decisão do voto: a consciência silenciosa desse um terço do eleitor, que pode decidir seu voto até no dia da eleição.

Marta se fixou na imagem de cuidar das pessoas, de governar para as pessoas, de fazer obras para resolver problemas e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Enquanto Kassab se fixou na imagem de tocador de obras e "choque de gestão", como se tivesse um coração de concreto.

Essas diferenças também calam fundo em pessoas com maior sensibilidade social, o eleitorado feminino e principalmente beneficiários de programas sociais.

Para agravar a situação de Kassab, mesmo a imagem de tocador de obras, ficou meio debilitada, quando Marta expôs a mediocridade de Kassab, sem projetos, nem soluções novas, a mera continuidade do que ela tinha feito ou deixado encaminhado, e alguns problemas que continuam sem solução à vista com Kassab, sobretudo no trânsito.

Para piorar, há ainda o fato de Kassab deixar dinheiro de impostos aplicado em banco, engordando o lucro dos banqueiros (muitos filiados ao DEMo), retardando obras para o período eleitoral.

Outro ponto de Marta foi apontar as contradições do pedágio urbano. A proposta é ardilosa: estadualizar as marginais Tietê e Pinheiros, liberando à decisão de cobrança de pedágio nas mãos de Serra.

Para agravar, tem outro projeto apresentado pelo vereador do DEMos, Carlos Apolinário, líder do governo Kassab, propondo taxar em R$ 4,00 todo paulistano, cada dia que tirar o carro da garagem.

Kassab negou, mas Collor também negou que iria confiscar a poupança... e Kassab não tem nenhuma outra proposta razoável para melhorar o trânsito de São Paulo, então ... quem pagar para ver, verá... ou melhor... pagará, literalmente.

Foi bom para Marta também a pergunta sobre o presidente Lula ter dito que Serra deve desculpas por acusar de ação eleitoral e partidária a guerra das Polícias devido a greve por melhores salários.

No momento em que Serra é questionado pela política de Segurança Pública, sobretudo com a tragédia de Santo André, Kassab queria que esse assunto ficasse fora do debate, foi obrigado a fugir do assunto, o que denota omissão política diante do fato.

Kassab também elevou o tom das críticas diversas vezes querendo demonizar a adversária, chegando a bater toc, toc na madeira em referência a Marta. Se isso provoca êxtase em sua torcida organizada, não é bem visto pelo eleitor conquistável. Soa a meros insultos, fugindo dos assuntos relevantes.

Outra armadilha que Kassab está caindo é criticar em Marta o que ele próprio está fazendo. Ele reclama de ataques pessoais diante de meras perguntas, que, sinceramente, qualquer político pode responder, fosse qual fosse a resposta, sem dar esse "xilique" todo.

Por outro lado, Kassab continua atacando Marta usando destes mesmos artifícios de fazer propaganda negativa da adversária com campanhas "Marta nem pensar", "saiba porque São Paulo não quer a Marta de novo".

Aliás, não entendo porque o TRE não concede direito de resposta à estas peças publicitárias, se o conceito de propaganda negativa é muito mais explícito do que as perguntas de Marta naquele comercial.
Ou melhor, a gente entende muito bem porque o TRE não trata com igualdade...

No primeiro debate, Marta mostrou o que Kassab era, e pediu transparência dele ao eleitor. No segundo Marta praticou o que falou. Ela própria foi transparente, e deixou a bola na marca do penalti para Kassab também ser. Kassab escorregou no gramado, mas perdeu o penalti.

Pra resumir:

Kassab reforçou a imagem do bonequinho da propaganda, artificial.

Marta reforçou a imagem humana, autêntica.

Em tempo: Kassab foi tão vazio no debate, que a análise "baba-ovo" de Reinaldo Azevedo começa assim:

... Seria exaustivo pontuar esta ou aquela respostas. Assim, interessa — e é isto o que pode fazer algum efeito no eleitorado — comparar desempenhos.

Para quem reclama que o importante é discutir propostas, será que não daria para pontuar pelo menos três respostas? Não seria tão exaustivo assim. É porque não tem o que dizer mesmo.

Enquanto isso, o site de Marta faz o "exaustivo" trabalho (segundo RA) de comparar ponto a ponto as respostas.

O site de Kassab também achou "exaustivo" abordar os problemas de São Paulo e se esquiva de aprofundar no conteúdo do debate, repetindo apenas os jargões que já fala nas peças publicitárias de campanha.

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