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sábado, 18 de outubro de 2008

O triste fim do caso de Santo André


A partir do segundo dia do seqüestro em Santo André era possível prever que o namorado da moça, Lindenberg não iria entregá-la. A grande dúvida dele estava no matar e suicidar-se. Se o primeiro momento foi um impulso desvairado, o segundo foi de percepção da besteira e o terceiro o de agora não tenho alternativa. O clássico “seja o que Deus quiser”, forma de transferir a responsabilidade para o imponderável.

Em meio a esse processo a Polícia Militar de São Paulo. Na véspera da tragédia policiais militares e policiais civis haviam entrado em conflito na capital e a preocupação do governador José Serra era com os estragos que o confronto poderiam trazer à sua candidatura a presidente da República.

O desfecho do seqüestro, qualquer que fosse, na cabeça de Serra, era o de menos. A GLOBO estava ali mesmo ao alcance das mãos e das verbas públicas para veicular a “verdade” do governador. E o fez, no anúncio da morte da jovem Eloá Cristina Pimentel, a pressa em apresentar as condolências à família e exibir dor e autoridade fingidas no propósito de deixar implícito que tudo foi feito corretamente mas...


Não foi possível. São coisas da vida.

Em seguida o pedido de desculpas pelo anúncio falso e o clássico o “o culpado foi fulano que me informou errado”.Essa forma cínica de ver as coisas pode ser transposta para a ação policial nos quatro dias em que Lindenberg manteve a jovem em cativeiro e em alguns desses dias, a amiga Nayara Silva.

Nunca ninguém vai entender o comportamento do comandante da operação ao permitir que a jovem voltasse ao apartamento, ou tentasse negociar com Lindenberg, já com um perfil traçado e que sinalizava em comportamentos diversos daqueles de criminosos comuns, logo, imprevisível até certo ponto, previsível noutro.

Que a jovem Nayara tenha recebido a recomendação de só chegar até determinado ponto da escada não isenta o comandante da PM na operação do erro crasso e passível de responsabilidade criminal, pois trata-se de alguém com 15 anos de idade. O entrar no apartamento, o suposto “erro” da jovem, “desobedecendo” as instruções do coronel comandante, foi tão somente um gesto de desespero para tentar salvar a amiga, buscar um final diferente do que aconteceu, ou mesmo uma exigência de um tresloucado, privado de seus sentidos, na conversa fiada que iria soltar Eloá.

Passadas as primeiras vinte e quatro horas do fato era um entendimento primário que se estava lidando com uma pessoa transtornada, sem perfil de criminoso, perturbado e num momento agudo da perturbação, logo os planos para a invasão teriam que estar prontos, as chances de Lindenberg soltar as moças eram mínimas.

Sua mãe e suas irmãs já haviam feito apelos, àquela altura uma ou duas promessas já haviam sido feitas e não cumpridas e Lindenberg consciente ou não tinha a certeza que sua história com Eloá estaria terminada ao final do seqüestro.

A afirmação do coronel comandante que a invasão ocorreu após ter sido ouvido um tiro não justifica e nem necessariamente é verdadeira. Tiros haviam sido disparados antes em dias anteriores, um logo no início do seqüestro.

É claro que qualquer negociação em casos semelhantes, seja para retardar e ganhar tempo ensejando uma ação policial que resolva, até sabendo dos riscos, é lógico existem, é sempre uma alternativa. A capacidade de perceber e prever os fatos é dever do policial militar.

A invasão, tardia à primeira vista, foi um desastre fácil de prever, uma reação que me parece muito mais raivosa que propriamente pensada, se levarmos em conta que ocorreu após Lindenberg não ter cumprido, outra vez, a promessa de libertar as jovens. Foi quando recebeu as garantias do Ministério Público que sua integridade física seria garantida. Chegou a assumir um compromisso com o representante do MP e com seu advogado que assim o faria.

Tudo bem que o local, o apartamento pequeno, as dificuldades de acesso sejam um fator a complicar a invasão. Mas isso tinha que ter sido previsto. Como tinha que ter sido previsto que inexperiente, transtornado e agora acuado, Lindenberg reagiria da forma que reagiu, até porque, deveria estar com o dedo no gatilho o que nenhum conhecedor de armas, seja criminoso ou não faz num momento de ação, exceto na hora de disparar.

O que os filmes exibidos nas diversas redes de televisão mostram é que após a explosão da bomba dita de efeito moral, o tempo para que os policiais entrassem no apartamento foi mais que suficiente para que Lindenberg baleasse as jovens num gesto reflexivo e de desespero. De raiva inclusive, pois sabia que a hora do término da aventura tresloucada era também a hora do fim de sua história com Eloá.


Houve demora na ação final. Falta de preparo, falta de planejamento adequado?

Há uma lição para além do fato em si e proporcionada pelo fato.

Eloá, Nayara e Lindenberg são apenas nomes que em um ou dois anos estarão esquecidos e a lógica manda dizer que no momento em que for colocado numa cela com outros presos Lindenberg será trucidado.

Proporciona as redes de tevê como a GLOBO piques de audiência para exibir uma sociedade carcomida pelo modelo político e econômico, que não cogita nem de Eloá, nem de Nayara, muito menos de Lindenberg.

Apela à comoção popular sem que o assunto seja discutido a fundo, em sua essência.

Policiais civis de São Paulo estão em greve por melhores salários e melhores condições de trabalho. É mais que greve. É um alerta ao cidadão comum que situações como a vivida em Santo André são corriqueiras no dia a dia. O que são jornais hoje, em tevês, os impressos, rádios, que não amontoado de crimes que começam em Daniel Dantas, passam pelo stf com gilmar mendes, terminam em Lindenberg?

As vítimas? Vão ser sempre Eloás, Nayaras, que pagam com as vidas, ou as contas. No modelo atual são números, entram para as estatísticas, logo logo William Bonner vai estar noticiando ou outro crime, ou a falta de ranhuras no aeroporto de Congonhas, ou transformando eleições num show, ou vendendo a ideologia dominante nas novelas, nos programas ditos infantis em toda a estrutura opressora que caracteriza e garante o modelo falido e perverso em que vivemos.

Não querem tratar segurança pública com coragem, não querem encontrar solução. Fica como um ex-prefeito tucano numa cidade de Minas que ao tomar conhecimento da morte de uma criança por falta de atendimento médico num posto de saúde pública saiu-se com essa: “estão fazendo tempestade em copo d’água, crianças morrem todos os dias”.

Quer ser prefeito outra vez e igualzinho a Serra anda assinando compromissos quaisquer que sejam, pois compromisso antes de eleições significam uma coisa, depois são papéis a serem atirados à lata de lixo. Serra fez isso e olha que assinou o seu diante das câmeras da GLOBO.

Escrito e enviado ao blog por Laerte Braga

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