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terça-feira, 30 de setembro de 2008

Plano de Bush para judar bancos foi reprovado


O naufrágio do plano de salvamento do sistema financeiro proposto pelo Tesouro dos Estados Unidos pode ampliar a instabilidade nos mercados nesta semana, gerando incerteza sobre a capacidade que os políticos americanos terão de conter o pânico que paralisa os mercados de crédito há duas semanas.

O pacote foi rejeitado pela Câmara dos Representantes dos EUA por 228 votos a 205. Eram necessários 218 para aprová-lo. Deputados dos dois partidos que dividem o poder nos EUA ignoraram a orientação das lideranças partidárias e resolveram votar contra o plano. A rebeldia foi muito maior na bancada do Partido Republicano, o partido do presidente George W. Bush, do que nas fileiras da oposição.

Os políticos passaram o dia trocando recriminações pelo fracasso. Líderes dos dois partidos disseram estar dispostos a discutir alternativas com o Tesouro nos próximos dias, mas as dificuldades para negociar outro plano e obter os votos necessários para aprová-lo parecem ter aumentado muito. Vários deputados foram para casa ontem celebrar o ano novo judaico e só voltarão a Washington amanhã.



"Este plano é importante demais para que o deixemos simplesmente fracassar", afirmou no fim da tarde o secretário do Tesouro, Henry Paulson, depois de uma reunião na Casa Branca em que avaliou o fiasco com Bush. "Precisamos trabalhar o mais rapidamente possível. Precisamos fazer alguma coisa. Precisamos de um plano que funcione."

Os dois candidatos que disputam a eleição presidencial deste ano defenderam a retomada das negociações para a aprovação do pacote. "Haverá trombadas e turbulências e altos e baixos antes de acabarmos com isso", disse o senador democrata Barack Obama num comício. O candidato dos republicanos, senador John McCain, sugeriu aos líderes dos partidos que parem de trocar acusações e voltem a trabalhar para encontrar uma saída.

O projeto rejeitado ontem permitiria que o governo gastasse até US$ 700 bilhões para adquirir e tirar de circulação os papéis podres que estão na origem da atual crise de confiança nos mercados. O governo esperava com isso ajudar os bancos a limpar seus balanços, recompor suas reservas de capital e voltar a pôr as alavancas dos mercados de crédito em funcionamento.

Mas o plano foi mal recebido pela opinião pública desde que foi apresentado pelo Tesouro, há duas semanas. A maioria viu a proposta como um presente para os banqueiros, uma idéia repugnante para o eleitorado num momento em que o desemprego está aumentando e milhões de americanos correm o risco de perder suas casas por não conseguir mais pagar as suas dívidas.

Um acordo fechado pela Casa Branca com os líderes partidários no fim de semana introduziu várias modificações no pacote para viabilizar sua aprovação. Foram criados limites para a remuneração dos executivos das instituições financeiras beneficiadas pelo programa, mecanismos para recuperar eventuais prejuízos e incentivos para ajudar mutuários em dificuldade.

Mas a essência do pacote foi preservada e por isso as mudanças foram insuficientes para convencer muitos deputados. A proximidade das eleições de novembro e a impopularidade do governo Bush enfraqueceram muito a capacidade de persuasão dos líderes partidários. Mesmo deputados que devem se reeleger com tranqüilidade acharam melhor ignorar os caciques do que desagradar os eleitores.

Além da Casa Branca, todas as 435 cadeiras da Câmara e dois terços das cadeiras do Senado estão em jogo nas eleições deste ano. Segundo o Relatório Cook, um influente boletim de análises políticas, 24 deputados republicanos correm o risco de perder seus mandatos e oito democratas enfrentarão dificuldades para se reeleger em seus distritos.

"Os americanos estão zangados e meus colegas também", afirmou o líder da bancada republicana, John Boehner. "Eles não querem votar a favor de um projeto como esse e eu entendo isso." Na votação de ontem, o pacote teve o apoio de 140 democratas e 65 republicanos. Uniram-se para derrubá-lo 133 republicanos e 95 democratas.

Entre os republicanos, deputados mais conservadores tinham outras razões para ficar incomodados. Eles consideram o programa proposto pelo Tesouro uma intervenção excessiva no mercado e preferiam um plano alternativo, em que instituições financeiras que quisessem ajuda do governo para proteger seus investimentos teriam que pagar prêmios ao Tesouro, como se ele fosse uma seguradora.

Para Bush, que chegou ao cargo em 2001 e é o presidente mais impopular da história americana, a derrota de ontem foi humilhante. Ele fez um pronunciamento pela manhã para pedir apoio ao pacote, antes que os mercados americanos começassem a funcionar, e foi para o gabinete com uma lista de duas dúzias de deputados a quem pretendia telefonar para reforçar o apelo, segundo seu porta-voz. Como o resultado da votação mostrou, não havia muita gente com disposição para ouvi-lo.

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