No dia 16 de março de 2005, Veja produziu um factóide amplo - admitido, como sendo factóide, até por seu diretor de redação, Eurípedes Alcântara, Clique aqui para ler o capítulo “O caso Farcs”, da série "O Caso de Veja".
Nele, se mostra que Veja se baseou em um araponga da ABIN para concluir que as FARCs tinham bancado R$ 5 milhões para a campanha do PT. Era uma matéria inverossímil, pois afirmava que esse dinheiro chegou até os candidatos através de 300 empresários – como se fosse possível conduzir sigilosamente ação de tal envergadura.
Era um imenso factóide. O agente da ABIN falava em um memorando que enviou à Agência sobre o tema. E que o memorando tinha sido menosprezado. Veja informava ter entrevistado em cinco ocasiões o coronel Eduardo Adolfo Ferreira, que recebia os informes do espião.
Segundo a revista:
O coronel diz que, nos arquivos da Abin, há gravações em áudio das promessas das Farc de ajudar o PT e, também, cópias das três ordens de pagamento.
Comentei no capítulo:
Com acesso à fonte, por que a revista não exigiu a apresentação das cópias - ainda que sob o compromisso de não publicá-las? Qual a razão para não ter ido atrás do elemento que não apenas consolidaria a capa, como seria o grande furo da reportagem?
De fato, tudo não passou de uma grande interpretação, com direito a capa.
O que chama a atenção é que na matéria seguinte, em que procurava justificar o factóide, a revista se valeu de quem? Do senador Demósteves Torres, o mesmo que aparece no suposto grampo da conversa com Gilmar Mendes. Clique aqui.
Na semana passada, o espião do caso Farc disse que está disposto a contar tudo o que sabe no Congresso, desde que seu depoimento seja tomado em reunião fechada. Diante dessa possibilidade, VEJA consultou o senador Demostenes Torres, do PFL de Goiás, membro da comissão que apura a história. O senador disse que, publicada a reportagem da revista, faria o pedido para ouvir o espião. Disse também que convocaria o coronel Ferreira. Diz o senador: "As declarações dos dois, se confirmadas, revelam que a Abin compareceu à comissão do Congresso e ocultou a verdade dos parlamentares. É grave". É grave mesmo.
A matéria não teve suíte, nao teve continuição, não teve inquérito. Era falsa.
No capítulo mencionado, eu dizia o seguinte:
No dia 24 de janeiro de 2008, o diretor de redação de Veja, Eurípedes Alcântara, proferiu palestra para os alunos do Curso Abril de Jornalismo. No intertítulo “As marcas de Veja”, Eurípedes descreve a receita de jornalismo praticado pela revista.
O Diretor de Redação expôs alguns pontos essenciais para a produção da revista. Um deles é o controle que o repórter precisa ter sobre a matéria. "Não é a pauta ou a fonte que têm de dominar o jornalista", disse.
Provavelmente, nem a informação pode servir de limitação. Segundo a aula de Eurípedes, Veja pratica o conceito de “escrever pensando”:
Outro ponto é a diluição de conteúdo opinativo em meio às reportagens, a qual Eurípedes chama de "escrever pensando". O jornalista ponderou sobre as diversas interpretações dos críticos sobre determinadas reportagens da revista. "Você só pode ser cobrado por aquilo que escreve. Não pelo que interpretam".
Cobrado pela capa das FARCs, explicou o que a revista fez:
"A Veja disse que a Abin estava investigando. Não disse que Lula recebia de guerrilheiros. Isso é uma interpretação".
Agora há uma nova matéria, com os mesmos personagens: Veja, seu diretor de redação Policarpo Jr., um agente da ABIN (seria o mesmo coronel?) e o senador Demóstenes Torres. E o presidente do STF, Gilmar Mendes, que há meses vêm estrelando várias matérias sobre supostos grampos de que foi vítima. (Enviado por Marcos César do blog do Luiz Nassif)
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