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domingo, 3 de agosto de 2008

Engenheiro liga caso Alstom à era pré-PSDB



Ao depor a promotores, testemunha diz que havia distribuição de obras a doadores de campanha nos governos Quércia e Fleury

Responsável por suposto direcionamento teria sido Claudio Mendes, apontado como intermediário de propina paga a políticos

Uma testemunha que prestou depoimento sigiloso ao Ministério Público diz que o sociólogo Claudio Mendes, apontado como intermediário da propina que a Alstom teria pagado a políticos do PSDB de São Paulo, era o encarregado de distribuir obras para as empresas que contribuíssem com recursos em campanhas políticas nos governos de Orestes Quércia (1987-1991) e Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994).

Mendes e lobistas associados a ele são apontados como beneficiários de US$ 5 milhões pelo Ministério Público da Suíça, que iniciou a investigação sobre o suposto pagamento de propinas pela Alstom para fornecer equipamentos para obras públicas em São Paulo.

Segundo essa testemunha -um engenheiro aposentado que foi gerente de suprimentos da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) entre 1975 e 1981-, Mendes era "por volta de 1991 ou 1992" o que se chamava à época de "coordenador do setor elétrico". O engenheiro diz que sabe disso porque Mendes o convidou para auxiliá-lo na tarefa. A empresa para a qual ele trabalhava foi contra.

A tarefa que caberia ao engenheiro seria a seguinte, segundo ele: "O declarante deveria tomar conhecimento dos projetos do governo do Estado de São Paulo do setor elétrico e coordenar os interesses dos empresários, de modo que estes pudessem ser contratados sem dificuldades legais".

O engenheiro explica de forma didática a tarefa do coordenador: "(...) As empresas em geral, não só do setor elétrico, contribuíam para o pagamento de despesas de campanhas eleitorais. Para beneficiar tais empresas, o governo do Estado se valia de coordenadores de diversas áreas (energia, rodovias, saneamento, habitação, projetos em geral, infra-estrutura portuária etc.), que eram pessoas que procuravam os empresários para mostrar os estudos e projetos em andamento".

Segundo o depoimento, "a comissão (propina) paga pelos empresários variava de 10% a 30% do valor das obras contratadas. (...) Também naquela época (80 a 90) era uma prática "quase normal" o pagamento de comissão pelos empresários".

O depoimento foi sigiloso porque o Ministério Público acredita que o engenheiro pode sofrer retaliações por causa do teor de suas declarações.
Mendes diz que o depoimento do engenheiro é coisa de "maluco". Fleury afirma que Mendes nunca teve função no seu governo.

Turma de Quércia

Mendes chegou a esse cargo informal por causa de sua proximidade com a turma de Quércia que veio de Pedregulho, cidade do interior paulista onde nasceu o ex-governador, segundo afirma o engenheiro.

Ele diz que Mendes "conhecia muito bem" Alfredo Almeida Jr., que foi presidente da Eletropaulo no governo Quércia, Francisco Rios, primo de Quércia, e José Lopes, conhecido como José "Português" e apontado como tesoureiro informal de Quércia.
O ex-gerente da Cesp afirma ter presenciado uma reunião de Mendes com Paulo Bonomo, ex-presidente do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) ligado a Quércia.

A investigação sobre o pagamento de propina da Alstom para políticos do Brasil, da Venezuela e de Cingapura começou na Suíça. Segundo documentos reunidos por promotores suíços, o grupo francês teria pagado comissões a políticos entre 1998 e 2003, período em que o governo do Estado estava sob administração de tucanos.

O nome de Claudio Mendes é citado num documento francês de 1997, no qual um executivo da Cegelec, empresa que foi comprada pela Alstom, escreve estar disposto a pagar uma comissão de 7,5% para "CM" para obter uma obra da Eletropaulo.

A obra citada é uma subestação da Eletropaulo no Cambuci, em São Paulo, que fazia parte de um projeto maior, batizado de Gisel (Grupo Industrial para o Sistema da Eletropaulo), criado em 1983 para modernizar o sistema elétrico paulista. O contrato entre a Eletropaulo e a Alstom foi assinado em 1998, no ano seguinte aos documentos que mencionam o propina. A subestação custou cerca de R$ 110 milhões. Se a propina de 7,5% foi mesmo paga, ela foi de R$ 8,25 milhões. Da Folha para quem assina

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