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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Protógenes Queiroz: certo ou errado?

O presidente Lula está insistindo para a permanência de Protógenes Queiroz no caso, e parece que a resitência maior vem da direção da PF, por razões técnicas, que nada tem a ver com abafar qualquer investigação.

É instigante o relato de Bob Fernandes no Terra Magazine sobre a briga travada pelo delegado Protógenes Queiroz com seus superiores na PF. Pelos relatos dá para perceber algumas coisas:

O delegado é um policial honesto e de fibra. Agiu em silêncio durante as investigações. Foi implacável para pegar Dantas por tentativa de suborno, manteve o sigilo da operação até o limite.

Porém, ele age errado quando faz gestos calculados que contém forte conotação política.

Se ele concordou em se afastar, deveria desmentir em público insinuações que foi afastado sem sua concordância. Se ele julga que foi afastado para influir na investigação precisa denunciar em público.

Pelos relatos, ele mostrou coragem para enfrentar seus superiores. Não faz sentido recuar agora. O delegado está em posição confortável para denunciar quem quer que seja. Desde que faça denuncias fundamentadas, todos irão ouví-lo e dar-lhe apoio. A própria PF tem corregedoria, e ele tem o Ministério Público também a seu lado se houver algum tipo de perseguição contra ele.

Dos relatos de Bob Fernandes, transparece algumas coisas:



Há um descontentamento pessoal do delegado desde a mudança na direção da PF, uma vez que ele parece que se sentiu desprestigiado, desde que Paulo Lacerda deixou a direção geral.

Porém não me parece que os superiores da PF quiseram cercear a Operação Satiagraha (ver nota acima sobre os processos em que Dantas já é réu em operações anteriores, como a operação Chacal). A operação aconteceu do jeito que Protógenes quis, resguardando o sigilo dos mandatos de prisão até a hora da operação. A direção se limitou a acompanhar a operação, sem cercear nada.

Agora, depois da operação, sabemos que o delegado Protógenes agiu com honestidade, mas pensem se qualquer um de nós fosse seu superior, vendo um delegado agir na surdina, recusar a prestar informações, se não levantaria suspeita de estar diante de um novo delegado Bruno? Se isso acontecesse quem seria responsabilizado seriam os superiores. Por isso era sim obrigação dos superiores fazerem cobranças a ele.

Protógenes teve razão de proteger a investigação de vazamentos, pois em abril chegaram a Folha de São Paulo, e o mais provável é terem sido de gente de dentro da PF.

Por outro lado é estranho ele reclamar da direção da PF não oferecer equipe maior de apoio, pois se ele próprio queria guardar sigilo, o normal seria trabalhar com uma equipe enxuta, com poucos agentes de sua inteira confiança, escolhidos a dedo. Por isso essa reclamação soa como "puxada de tapete" na briga pelo poder.

Do ponto de vista de eficiência policial começam a aparecer críticas também, sobretudo quanto a seu relatório. Eu não desqualifico o bom trabalho pelo relatório conter imprecisões. Este relatório é levado ao Juiz e ao MPF, que podem pedir mais diligências, quando consideram que há falta de fundamento para denúncias. O MPF é quem apresenta a denúncia à justiça e pode aproveitar parte do relatório da PF, ou aproveitar apenas as provas, desconsiderando o que pensa o delegado.

É preciso salientar que o relatório era para ser sigiloso, portanto há coisas descritas nele, que diz textualmente que precisariam ser aprofundadas em futuras investigações à parte, e não deveríamos estar conhecendo ainda.

Por ordem judicial de Gilmar Mendes os advogados de Dantas tiveram acesso e vazaram para a imprensa o que interessa para a estratégia de defesa.

O que chama atenção e causa estranheza no relatório sigiloso da PF, é uma certa politização, com pouca objetividade, em direção a gravações que captaram autoridades do governo. As gravações (publicadas) do costumeiro assédio lobista que acontece todo dia nos palácios, não dão indícios de favorecimento indevidos (o fato de uma decisão de governo coincidir com algum interesse privado, não significa que elas tenham sido tomadas para satisfazer interesses privados).
Pelo contrário, as coversas gravadas citam relatos da ministra Dilma dizendo NÃO ao que eles gostariam de saber. Citam Gilberto Carvalho dizendo NÃO ao que Greenhalg queria saber.
No entanto a interpretação no relatório insinua tráfico de influência, e parece ser "forçação de barra" para exploração política, e se isso foi feito com má intenção, seja com interesses partidários ou tomada de poder na PF, é grave, porque é semelhante ao que fez o delegado Bruno.

Só para dar um exemplo de citações que poderiam ser mau interpretadas conforme o objetivo de um delegado: também houve gravações sobre conversas de tentativa de suborno do juiz De Sanctis e do próprio Protógenes, que obviamente não aconteceram.

Se a investigação fosse feita por um outro delegado corrupto a soldo de Dantas, poderia jogar no relatório indícios de corrupção sobre De Sanctis e Protógenes, e eles que se virassem depois para provar sua inocência diante da execração no PIC (Partido da Imprensa Corrupta) a mando de Dantas.

Outra coisa que pesa sobre Protógenes é a suspeita de que ele tenha privilegiado a Globo, e aumentam as suspeitos porque ele esteve à frente da prisão de Maluf também com o mesmo Cesar Tralli obtendo exclusividade. O acompanhento de equipes de filmagem até a casa das pessoas (como no caso de Celso Pitta) parece ferir o manual da PF, e fica levantando a bola para a elite criticar a ação da PF.

Talvez, por insatisfação pessoal, por brigas pelo poder dentro da PF, é que Protógenes tenha deixado o relatório politizado, e por isso sofre cobranças dentro da PF. A direção da PF pode considerar que ele perdeu as condições de presidir o inquérito com a objetividade e discrição que houve na operação Chacal.

De qualquer forma, acredito que ele seja um excelente policial, prestou um grande serviço nesta operação Satiagraha, resistiu ao poder econômico da corrupção de Dantas, e deve continuar sendo prestigiado. Apenas deve rever seus erros, se realmente houve, para prosseguir em sua carreira, que tem tudo para continuar brilhante.

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