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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dantas cogitou subornar juiz antes de espioná-lo, afirma PF


Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça mostram que, a mando do banqueiro Daniel Dantas e de seu grupo, o juiz federal Fausto Martin De Sanctis foi monitorado durante o mês de maio e se cogitou, também, pagar propina ao magistrado - isso antes da oferta feita, em junho, de US$ 1 milhão ao delegado federal Vitor Hugo Rodrigues Alves Ferreira. O dinheiro serviria para excluir Dantas, sua irmã Verônica e seu filho do inquérito que levou à deflagração da Operação Satiagraha.

Segundo relatório do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, quem explica a desistência de se oferecer o dinheiro a De Sanctis é a diretora jurídica do Opportunity, Danielle Silbergleid Ninnio. Às 19h21 do dia 21 de maio, ela conversou com um interlocutor ainda não identificado pela PF e disse que o juiz "tem todos os defeitos, com exceção de ser corrupto".

O delegado diz no relatório que "Danielle teria sondado, através de terceiros, a atuação do juiz federal sobre possibilidade de lhe ser oferecida propina". No diálogo, Danielle afirma ainda que De Sanctis comandou "um motim" entre os juízes da 1ª Instância do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul) para que nenhum deles prestasse informações ao tribunal sobre onde estava sendo feito o procedimento de investigação que serviria de base à Operação Satiagraha.

Ela afirma que o magistrado acusava o grupo de Dantas de "litigância de má-fé" e que seu objetivo era deixá-los "blind" (às cegas). Danielle diz ter recebido um conselho: "Que a gente ficasse muito atento", porque De Sanctis "tinha todos os defeitos, menos o de ser corrupto". E conclui: "É um f. da p. de primeira, adora holofote, adoraria fazer uma arbitrariedade e que tava"" p da vida que isso aqui foi monitorado, entendeu?"

De fato, os policiais federais comandados por Queiroz haviam detectado as ações do grupo de Dantas para acompanhar os passos do juiz e o haviam informado sobre a suposta espionagem do banqueiro.

Para um dos integrantes da força-tarefa da PF e do Ministério Público Federal, "há indícios de que o grupo de Dantas planejou corromper o juiz antes de oferecer a propina de US$ 1 milhão ao Vitor Hugo." Com autorização judicial, o delegado manteve encontros com emissários que lhe adiantaram R$ 129 mil. Na casa de Hugo Chicaroni, a PF achou R$ 1,2 milhão. Ele disse, ao depor, que R$ 865 mil lhe foram entregues por pessoas ligadas ao Opportunity, para dar ao delegado. Em um dos encontros, Chicaroni estava com o executivo Humberto Braz, homem ligado a Dantas.

CORONEL ISRAELENSE

Em outra conversa monitorada pela PF, Danielle, a diretora jurídica do grupo, fala sobre o coronel do exército israelense Avner Shemesh. Ao ser questionado por um funcionário do Opportunity "se o cara lá é o Abner da Kroll", ela o corrige dizendo que é Avner. A Kroll nega qualquer relação com Shemesh. Para a PF, no entanto, Shemesh seria ex-funcionário da Kroll "contatado para implementar espionagem (que é a sua especialidade) e investigação ilegal contra magistrados federais da cidade de São Paulo".

Em diálogo de 13 de dezembro de 2007, o banqueiro Daniel Dantas pediu a Danielle que usasse "relatórios da Kroll" no processo que o Citibank tinha contra o Opportunity em Nova York.

Dantas afirma que "no relatório da Kroll fala que a Telefonica Itália (Telecom Itália) pagou ao prefeito de Santo André... e o prefeito de Santo André foi morto (Celso Daniel, assassinado em 2002)". A Kroll mais uma vez nega. Sobre Dantas, os delegados da PF afirmam que "a profissionalização dos agentes envolvidos na lavagem é de grandes proporções, razão pela qual o grupo criminoso já chegou até a contratar empresa internacional de espionagem (Kroll)".

PROTEÇÃO

A PF interceptou ainda e-mails de funcionário do Opportunity que mostrariam, segundo um integrante da força-tarefa, "indícios de que o grupo tentou se precaver contra uma possível ação da PF". Após o vazamento da informação sobre a existência da investigação sigilosa contra Dantas, em abril, um funcionário do banco conversa sobre a instalação de novo servidor do banco.

Para os federais, é possível que o banco tenha mudado o disco rígido do servidor de rede para evitar que informações sigilosas fossem achadas em busca da PF - como a da Operação Chacal, de 2004. Em outro e-mail, uma pessoa ligada ao grupo diz que mudou seu e-mail. O objetivo, segundo a PF, era evitar a a ação da PF, do MPF e da Justiça Federal.


GRAMPO POLICIAL

Conversa entre Danielle Silbergleid Ninnio e um homem não identificado (HNI)

Trecho 1

HNI: "Oi..."

Danielle: "Oi... olha só eu

tenho informações um pouquinho preocupantes, viu..."

HNI: "É..."

Danielle: "É que eu vou te falar, a gente descobriu, esse juiz, o Fausto... meio que organizou um motim... deixe eu te explicar o que ele fez... quando a gente entrou com HC preventivo ele reuniu todas... e a Cecília pediu informações... ele reuniu todos os juízes e falou que a gente tava litigando de má-fé, que era um absurdo... como que a gente tinha tido acesso, como a gente queria informação... ele meio que consultou todo mundo a não prestar informações a gente, pra deixar a gente absolutamente blind (cego, em inglês), entendeu? E acabou que a maioria não deu informação e os três que não deram informação são as pessoas que tão mais ligadas a ele, e a informação que veio da gente... é que a gente ficasse muito atento, porque ele tem todos os defeitos do mundo com exceção de ser corrupto, que ele não é... segundo que foi informado, mas que ele assim... é um f.d.p. de primeira... adora holofote... adoraria fazer uma arbitrariedade, e que tava ?p? da vida que isso aqui foi monitorado, entendeu?"

HNI: "(Inaudível) foi o que o

Mirza te falou que era melhor não mexer que o cara é... "(inaudível)"

(...)

Trecho 2

Danielle: "Ele não quis entrar com aquele negócio que eu te falei que a gente ficou de trabalhar, e eu quero discutir um pouco isso com... com ele. Eu vou até ligar daqui a pouco ou amanhã de manhã se eu não conseguir agora, pra aquele outro amigo que eu tava dando informação também, acho que mal não faz ele saber disso, entendeu, porque talvez ele corra atrás de alguma coisa com mais... com mais pressa, e vou colocar uma pressãozinha nele..."

HNI: "Então é bom ele ficar, é bom ele saber disso..."

Danielle: "É porque é assim a gente tem informação de um
depois tem de outro, quer dizer mal não faz...

HNI: "Tá..."

Danielle: "Tá, qualquer coisa eu te falo" (Estadão)

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