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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A última trapalhada de um demo


José Roberto Arruda (DEM) é um político que adora factóides. Governador do Distrito Federal, demitiu 33,5 mil funcionários públicos em seu primeiro dia de poder, há um ano. Em seguida, derrubou 450 casas populares, implodiu prédios e aumentou o IPTU em 7.000%, depois recuou e fixou o aumento em menos de 20%. Buscando se viabilizar como alternativa de seu partido, o DEM, para a Presidência da República, todo mês Arruda inventa alguma medida estapafúrdia.

A novidade de fevereiro atinge professores e 50 mil alunos da rede pública que freqüentam as aulas no período noturno. No final de semana que antecedeu a volta às aulas, o secretário de Educação, José Luiz Valente, reuniu os diretores das escolas do Distrito Federal e informou que a partir da segunda-feira não haveria mais aulas do curso noturno regular. No lugar delas seria adotado um sistema de educação para acelerar o aprendizado dos estudantes que estão em defasagem etária. Na segunda- feira 18, todos os estudantes com defasagem escolar mas devidamente matriculados foram separados dos demais e confinados em turmas especiais. Essas turmas não terão professores ministrando conteúdo didático, e sim televisores exibindo os telecursos da Fundação Roberto Marinho. Os projetos públicos de reforço escolar geralmente utilizam vídeos como ferramenta de suporte para o professor. No projeto de Arruda, o conteúdo didático será exclusivo do telecurso. Assim, os professores são rebaixados a monitores de turma. Farão a chamada, distribuirão apostilas e operarão o aparelho de tevê. Arruda deve assinar esta semana um contrato de R$ 9 milhões com a Fundação Roberto Marinho para receber o conteúdo didático para os alunos com defasagem. Para eles, as aulas começarão em 9 de março.

ARRUDA criador de factóides

Sheila Teixeira e Costa é professora na cidade-satélite de Samambaia. Até a semana passada, ela ministrava aulas de educação física. Na quinta-feira 14, apresentou-se para o início do ano letivo e descobriu, sem nenhum aviso prévio, que foi escalada para virar monitora do telecurso. Vai cuidar das aulas de português, inglês, artes e educação física. “Me disseram que tudo faz parte dos códigos de linguagens”, conta. Os professores estão reagindo aos métodos poucos ortodoxos do governador. “Não tem o menor cabimento professor virar monitor de apertar play e pause”, protesta Antônio Lisboa, diretor do Sindicato dos Professores. “Oferecer ensino à distância não é o melhor caminho”, diz Erasto Fortes, professor de políticas públicas da educação na Universidade de Brasília. “O ensino precisa ser individualizado, onde o professor possa ajudar cada aluno.”

Diante da péssima repercussão das medidas anunciadas, o secretário de Educação adotou uma postura diferente. Agora, ele diz que houve um mal-entendido e que o projeto do governo será optativo e se restringe apenas aos alunos que precisam acelerar o aprendizado. “Temos um problema sério de defasagem etária que precisa ser atacado de frente”, diz ele. No ensino fundamental, os alunos com defasagem são 40%. No primeiro ano do ensino médio, sobem para 48%. O projeto de aceleração de Arruda prevê aprender o conteúdo de três anos em 18 meses. Na verdade, o telecurso será obrigatório para todos os estudantes com mais de 15 anos da 5ª à 7ª série e opcional apenas na 8ª e no ensino médio. Faltou avisar isso aos professores e aos alunos quando se matricularam. (Isto é num. 1999)

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