Uma doação mais do que suspeita

A licença para a construção de um prédio no Leblon sobre o terreno onde antes havia um posto de gasolina, alvo de denúncias de moradores, ganhou um novo e explosivo capítulo: ontem, o próprio prefeito Cesar maia admitiu que o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Rio (Ademi-RJ) e dono da construtora CHL, Rogério Chor, doará computadores à Secretaria municipal de Urbanismo. Detalhe: o órgão municipal é o responsável pela licença da obra que, segundo moradores, vem bombeando água misturada à gasolina que vazou dos tanques do posto à rede pluvial. O cheiro de combustível tem causado problemas à vizinhança. :Não há nada de novo nisso - disse o prefeito por e-mail.

Nova permissão

A entrega dos computadores será feita em ato público e foi confirmada por Cesar Maia. Pelo menos desde novembro, a prefeitura já sabia da doação. No mês passado, a obra da CHL conseguiu mais uma permissão, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Trata-se de uma licença especial para desativação de posto de gasolina, que dá dois anos para a empresa remover os resíduos de combustível no solo.

A obra - no terreno na esquina da Avenida Bartolomeu Mitre e Rua Conde de Bernadotte - é feita em um terreno que abrigou por décadas um posto de gasolina. Ontem, o JB publicou que a Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente (Feema) produziu um laudo recomendando a interdição da construção. A vistoria foi feita em novembro a pedido da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, onde há inquérito sobre o empreendimento. Segundo o engenheiro da fundação Henrique Nunes, havia "possibilidade de risco iminente de explosão". Cesar Maia fez mais considerações sobre a autoria da doação:

Não é o presidente da Ademi, senhor Chor, é a Ademi, repetindo no Rio o que a Ademi de lá fez em São Paulo - escreveu o alcaide, sobre o presente à Secretaria Municipal de Urbanismo. - Haverá uma ato público num café da manhã, quando a instituição fará a doação de computadores.

Maia tenta afastar ainda qualquer comprometimento da prefeitura com a doação da associação:Doações fazem parte da rotina no Rio e vão desde a adoção de praças até asfalto, ações sociais, ciclovia, bicicletário, veículos, etc. disse o prefeito

Sucesso de vendas

De acordo com o site da CHL, todas as unidades do empreendimento imobiliário, batizado de Prime Leblon, já foram vendidas, mas o problema com a contaminação do solo ainda não permitiu que sequer as fundações do edifício fossem instaladas. Com injeção de água do subsolo, funcionários da empresa têm retirado dia e noite o combustível infiltrado no solo. Moradores reclamam do forte cheiro de combustível que atinge o quarteirão, desde junho, o que já levou inclusive a reclamações ao Corpo de Bombeiros. Na ocasião, os militares que atenderam ao chamado confirmaram o risco de combustão, mas a obra não foi interditada.